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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Olho-me nos olhos


Olho-me nos olhos

in Anamnesis( 1.ª Edição: Janeiro de 2016) 

 

Vejo-me ao espelho

olho-me nos olhos

 

Vejo um sujeito que não sou eu

que não conheço

e que me espanta

 

Não é o meu eu interior

poético ou lírico

que vive de amor

que ali se reflecte

 

É um crâneo calvo

um rosto rugado

um olhar cismado

que nada me dizem de mim

 

E eu

a toda a hora me olho

e me vejo por dentro

faça sol, chuva ou vento

noite e dia

a dormir ou acordado

em tristeza ou alegria

 

E sempre me vejo

com verdade

embora envolto em sonho

e ansiedade

 

Fico

por isso

espantado

por ver-me assim retratado

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 2 de Março de 2011

Henrique António Pedro

 


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

AMAR E SOFRER



Tantas vezes nos enganamos

julgando que amamos

só porque sentimos prazer

que o próprio amor

acabamos por perder

o que ainda mais nos faz doer

 

É sofrendo

e amando

que o amor se vai firmando

e vencendo

a dor

 

Para sofrer

bastamo-nos a nós

não precisamos de nada nem de ninguém

e mais sofremos

sós

 

Para amar

porém

precisamos de algo

ou de alguém

 

Vale de Salgueiro, 4 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Com quem amo me encanto


Amar de alma

ou de coração

é admirar

é admiração

 

Eu admiro quem amo

com quem amo me encanto

me dá contentamento

 

Eu admiro quem amo

quem amo me causa espanto

 

Amo também

de quem

tenho dó

com seu sofrimento me condo-o

 

Só de ver alguém sofrer

a mim mesmo eu me doo

a paixão por compaixão

dói por fora

e dói por dentro

 

Amar

é tão só bem-querer

admirar

encantamento

 

Vale de Salgueiro, sábado, 10 de Abril de 2010

Henrique António Pedro

 

 

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Felizidade


Vista do lado de fora

a felicidade

chama-se alegria

 

Por dentro é contentamento

 

Vê-se num olhar

num sorriso

num abraço

num aperto de mão

no bater do coração

num balbuciar impreciso

numa efémera manifestação de gozo

numa imperceptível expressão facial

 

Até numa lágrima

num embaraço amoroso

numa atitude de virtude

feita de fé e fantasia

num arrebatamento espiritual

 

Muitos a procuram

nos bares e nos estádios

noticiada nalgum jornal

 

Outros no sossego do lar

na religiosidade de um templo

até na aspereza da Natureza

também

 

Poderá andar por aí, sim

mas não é aí que a felicidade mora

na verdade

 

Só dentro de nós ela vive

porém

em qualquer fugaz Feliz Idade

  

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Agosto de 2008

Henrique António Pedro


 

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Tantas coisas sem tino a vida tem!


Tantas coisas sem tino a vida tem!

 

Todas têm destino

porém

 

Na paz ou na guerra

cá na Terra ou lá nos céus

sobretudo a morte

meu Deus!

 

Os golpes de má sorte

a dor que não acaba

a felicidade adiada

ou a paixão que chega ao fim

parecem não ter sentido

nem valerem de nada

qual vozes que o vento leva

 

Mas será que é assim?

 

A lembrança delével que o tempo releva

e na memória se tolda

poderá bem ser a transformação indelével

que nos molda

definitivamente

 

Tantas coisas sem tino a vida tem!

 

Perceberemos com o tempo

porém

que tudo o que fica dentro nós

para sempre

tudo levamos para o Além

certamente

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 24 de Outubro de 2011

Henrique António Pedro

 

domingo, 3 de outubro de 2021

Quando é a alma que nos dói

 



O corpo

quando nos dói

dói-nos por partes

nunca nos dói todo

inteiro

apenas em parte nos dói

 

Dói-nos um pé

uma mão

o peito

o coração

cada um com sua dor

 

Quando sentimos prazer

também o sentimos por partes

com distintas formas de gozar

cada uma com suas artes

 

Sentimos o tacto

o sexo

o sabor

o olfacto

o ouvido

o olhar

 

A alma não tem pernas

nem braços

nem olhos

nem ouvidos

nem mesmo coração

 

Mas caminha

ouve

sofre

e ama

inteira

 

E quando amamos

ou sentimos dó

a alma sofre e ama toda

verdadeira

 

Porque a alma é Única

Una

 

Uma só

 

             Vale de Salgueiro, 15 de Abril de 2008

             Henrique António Pedro