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domingo, 11 de agosto de 2024

Eu!? Como vou!?


Eu!? Como vou!?

 

Vou andando

amando

poetando

por aí

 

A mando nem sei bem de quem

talvez de ninguém

nada por aí além

 

Vou andando

amando

poetando por aí

tanto se me dá

como se me dou

assim eu sou

desde que nasci

 

Quem amo em mim manda

vou andando

amando

poetando

por aí

 

Eu não mando em quem amo

se é que mando

em alguém

nem mesmo em mim

eu mando

 

Quero sim é assim amar

a valer

o amor nada me tira

o amor tudo me dá

 

Enquanto assim for viver

andando

amando

poetando

por amor

por aí

a mim me amando

e a mais alguém

não vou morrer para ninguém

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 10 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Quem sou eu, afinal?


Sou mais que palavra

feita prosa ou poesia

grito ou fantasia

 

Sou rosto e sou espelho

objecto e imagem

fastio e desejo

realidade e miragem

por isso me não vejo

 

Espelho que a si se reflecte

calor que a si se aquece

vida que a si se dá

pão que a si se alimenta

fé que a si se sustenta

luz que a si se alumia

de noite ou de dia

 

Sou verdade e sou mentira

sou mal e sou bem

sou aqui e sou além

sou a minha consciência

e a consciência de mim

não sei quem sou

ainda assim

 

Sou o coração com que amo

e o amor que me tenho

a mim e aos meus

 

Sou angústia e esperança

dúvida e crença

um ser em revelação

à semelhança de Deus

embora sem parecença


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 1 de Abril de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Voam cegonhas no céu de Mirandela


Manhã de já plena Primavera
com o casario debruçado no rio
reflectido nas águas imaculadas
um bando de cegonhas amorosas
baila bailados alados

de acasalamento

ao sabor do vento

no céu turquesa de Mirandela


Graciosas

também bailam no meu pensamento

que as observo

atento

postado à janela

preso por tão bela surpresa


Quando já a Lua translúcida
liberta de dilemas

também refulge de amor e poesia

a hora tão matutina do dia

E dou comigo a recordar

que também alguém já um dia

andou a bailar para acasalar

com uma musa nua e crua

que por tão alto que voava
a todos encantava com o seu voar

Restou o poema

o lamento

o tormento

para contar

 

Às mágoas as águas do Tua
com brandura 

a seu tempo

as levaram para o mar

do esquecimento

Mirandela, terça-feira, 6 de Abril de 2010

Henrique António Pedro

 

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Mulheres assim tão belas como ela, só as de Mirandela!



Mulheres assim tão belas

como ela

só mesmo as de Mirandela

que ela mais as alinda

ainda

 

E tantas e tão aprimoradas

elas são

na minha ideia

que mulher feia

de tão rara

é por demais requestada

 

Nem precisam

sequer

de se enfeitar

para namorar

porque mulher linda

de morrer

que mais se alinda

há demais em Mirandela

difícil é escolher

 

Mulheres assim belas

como ela

só em Mirandela

que mais as alinda

ainda

 

E tantas e tão aprimoradas

elas são

que mulher feia

de tão rara

é bonita

é catita

não engana

melhor fala ao coração

 

Tanto que lá diz a tradição:

Mulheres assim tão belas

como ela

só a transmontana

mulher de Mirandela!

  

Vale de Salgueiro, terça-feira, 21 de Agosto de 2012

Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Mirandela cidade


                                                             ( ilustração Dacosta)

T r á s o s M o n t e s

eco vindo da origem dos tempos

sinfonia de montes

vales

e ventos

 

Minha Mátria Terra Quente

minha palavra ardente

 

Minha Mátria Terra Quente

Mirandela cidade

jóia postada no tórax de Trás-os-Montes

dependurada mundana

em colar de prata líquida

feito de Tuela e Rabaçal

vulva telúrica da imortal pátria transmontana

a escorrer em Tua de vaidade

e formosura

 

Mirandela cidade

provocante e bela

tronco de oliveira coroada nua

com diademas de xisto

e racimos de roseira

reflectida no espelho do Tua

e oferecida em feiras de vaidade

sob o halo da Senhora do Amparo

romaria de alegria e piedade

foguetes de lágrimas e de estalo

 

Henrique António Pedro

 in Minha Mátria Terra Quente (Ver O Verso -2005)


segunda-feira, 15 de julho de 2024

Hoje, vou andar por aí, a sonhar


Vou andar por aí

caminhar pelos campos

longe do asfalto das estradas

 

Tropeçar nas pedras dos caminhos à procura de poemas

e de searas ondulantes ao vento

que me tragam esperanças

de que não irá faltar o pão nas mesas

nem sorrisos nas bocas das crianças

 

Vou ouvir o chilreio das aves nas devesas

seguir com o olhar o seu voo no céu

rezar para que não sejam sugadas pelas turbinas dos aviões

nem que sobre a Terra caiam mais maldições

antes a cubra um véu

de verdade

 

Vou implorar a Deus que não haja mais almas presas

nas cadeias do esquecimento

e do abandono

e que antes possam usufruir a velhice

com alegria

poesia

e a meiguice

do sonho

da saudade

 

Hoje

vou andar por aí

caminhar pelos campos

longe do asfalto das estradas

para ter a certeza de que ainda é possível sonhar


Vale de Salgueiro, quarta-feira, 11 de Abril de 2012

Henrique António Pedro