domingo, 2 de outubro de 2016
Poema erudito
É ideia deste
poema nada dizer
a ninguém
não
obstante quem o ler
seja
livre de o interpretar
como lhe
aprouver
e melhor
lhe convém
Pretende
ser um poema erudito
não há
como o contornar
embora o
léxico não seja académico
muito
menos jargão
não
disseque a alma de ninguém
não verbere
o acordo ortográfico
nem diga
mal de nada
ou fique
de boca calada
Embora
seja assintomático
não respeita
o modismo endémico
não segue
corrente literária
muito
menos política agrária
nem é
escrito à mesa de café
Pode
muito bem ser, porém
declamado
e
aplaudido de pé
até
como
tantos da sua igualha
de muito poeta consagrado
Este
poema é erudito
sim
mesmo
sendo ruim
não fala
de coisa nenhuma
nem diz
coisa com coisa
Quem o ler
nada ficará
a saber
embora
fique a pensar
e sabe-se
lá o quê…
…de mim
terça-feira, 27 de setembro de 2016
Se assim bate o seu coração
Se o seu
coração bate
assim
forte
a saltar
fora do peito
feito
cavalo à solta
é porque
anda insatisfeito
Se o seu
bater é de tambor
a rufar
de dor
é angustura
que mal
se atura
Se bate
o coração
sem que
se sinta bater
enquanto
a mente pensa
com
indiferença
e os
olhos
olham
sem ver
é de desilusão
o seu
bater
Se o
coração bate
assim
forte
sem que
se sinta bater
e o
espírito voa
com
alegria
leve
e livre
com
poesia…
… é amor
nada o
poderá deter
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
Aquela paixão não passou de um poema escrito num pedaço de papel que ardeu
Escrevi
aquele poema na minha própria alma
com a
tinta doirada do meu amor
e com toda
a minha arte
na
esperança de que ela o lesse com o coração
Ela
porém tomou-o por burlesco
por literatura
de cordel
Pediu-me
que o anotasse num pedaço de papel
que não
leu
e que
depois de amassado
acabou cremado
em fugaz
incêndio
num
cinzeiro grosseiro
de vidro
vulgar
Sobrou um
montículo de cinza
que com
um sopro
leve
e um despiciendo
piparote
sacudiu
do capote
Não tem porque
se lamentar
agora
que anda
perdida
a esmo
lamentando-se
de me não ter dado a devida atenção
Aquela
paixão
indevida
não passou
disso mesmo
De um
poema escrito num pedaço de papel
que
ardeu
só
porque ela não o mereceu
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
Quando a poesia acontece mesmo sem inspiração.
Já a Primavera se transmuda em Verão
Já o Sol se põe
e muda de posição
deixando atrás de si
um resplendor alaranjado
que se desvanece
Já o Sol se põe
e muda de posição
deixando atrás de si
um resplendor alaranjado
que se desvanece
e me deixa extasiado
enquanto o céu escurece
enquanto o céu escurece
e a Terra se encobre de escuridão
Já a Lua brilha cristalina
já se acende a estrela vespertina
depois outra após outra
marchetando o Firmamento
que por fim se ilumina
de cerúleo polimento
mais abrangente
Nenhuma ideia brilhante
nenhuma palavra redundante
uma rima sequer
indiciam poemas na minha mente
Nem eu tristonho
me predisponho a poetar
assim mergulhado na soledade
do fim do dia
extasiado com a serenidade
da contemplação
Sob o olhar da Lua
que em silêncio percorre o céu
e me olha
como se estivesse ali postada
ela sim
para a mim
me contemplar
e cobrir com o seu véu
Mas eu não tenho dilemas
penas para espiar
ninguém para namorar
nada de poemas
um verso que seja para escrever
apenas solidão
Nada à Lua posso dar
nada a Lua me oferece
à Lua nada pedi
A poesia acontece
por si
mesmo sem inspiração
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
Com poesia a mim mesmo me engano
Confidencia-me
o seu segredo mais íntimo
que
silencio nos ouvidos
e sepulto
no coração
Ouso
ir mais além
porém
Codifico
o segredo em poema
e lanço-o
ao vento
também
Ficará
bem melhor guardado
ainda
assim
por
todo o tempo
Porque
a poesia é a arte de enganar
com
a verdade
de
esconder a tristeza com alegria
de
disfarçar com amizade
a paixão
Por
isso as palavras me saem da mente
agora
em
torrente
sem
chama
nem
drama
nem
razão
Concertadas
em poema depenado
cujas
pétalas perfumam o chão
agridoce
dessa
doce intimidade
com
que ela me desengana
sem
me causar maior dano
Na
verdade
sou
eu que com poesia
a
mim mesmo me engano
Vale
de Salgueiro, sexta-feira, 13 de Agosto de 2010
Henrique
António Pedro
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
Poente
Caminho
recto
na
direcção poente
De
cabeça baixa
porque o
Sol não me deixa que o olhe de frente
Sol que
me aquece o corpo
me doira
a pele
me
energiza a alma
em tarde
calma
quando
ainda o horizonte s afasta de mim
se transfigura
volátil
e surge
sempre mais além
Só no
exacto momento em que o Sol se esconde
o
consigo ver
transformado
em arco resplandecente
que rápido
se dilui em poalha de luz
morno
calor
que me
induz
a parar
Fico a
pensar
extasiado
iluminado
pelo
halo de amor
que
persiste
dentro de mim
dentro de mim
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