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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Para onde quer que vás Luís Vaz…



O imortal poeta da gesta da lusa gente

morreu na miséria

indigente

Dele me lembrei quando também passei

pela Ilha de Moçambique

a mítica ilha do mar Índico onde Luís Vaz

“o Camões”

penou de verdade
de mão estendida à caridade

no regresso do Oriente

expoente de mil desilusões


Ali havia uma estátua de bronze
erigida num recanto sem encanto

que servia de pouso a pássaros

que lhe defecavam na cabeça

embora melhor sorte mereça

Não sei se ainda lá estará
se agora já não jazerá

nalgum monturo de inutilidades

nalgum armazém de banalidades
ou ornamentará o lar dalgum nativo

mais imaginativo

que nele pressentiu a magia

e o perfume

da poesia

 
Foi lá
e então
que me ocorreu este poema
embora só agora o dê a lume
porque hoje em dia

na minha desilusão ardem

sentimentos frustrantes

de ser português

e também e talvez por também eu pertencer

aos Vaz de Vilar de Nantes onde o poeta nasceu

 

Luís Vaz foi um inútil até deixar de o ser

quando a genialidade da sua poesia
gerou ventos e marés
e construiu autoestradas de sonho

por cima do mar medonho

Foi um verdadeiro indigente
mais mal pago que um qualquer operário

que com mais acerto, por certo

lavrava a terra ou caiava paredes

 

Foi um sem-abrigo

um semi-anjo
um quasi-deus

um apátrida
um extraterrestre sem interesse
a quem o soldo não bastou

para regressar à Pátria que o enjeitou

Poeta e soldado o foi onde houve verdade

sonho, amor, mistério e poesia

que um dia ergueram um Império de Humanidade

hoje em dia sem utilidade

tanto quanto sei

 

Para onde quer que vás, ou te levem, Luís Vaz…

irmão

amigo

eu lá estarei!

Contigo!


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 30 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

 

14 comentários:

  1. Também me sinto uma perfeita inutilidade quando a cultura não é reconhecida, abraço poético e parabéns

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  2. Agradeço a sua visita, distinta amiga Thereza, e a amabilidade das suas palavras. Abraço.

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  3. Fico bastante feliz por poder apreciar este excelente site. Principalmente por se tratar de poesia que eu tanto gosto. Os meus tempos livres são ocupados a ler POESIA... POESIA... e POESIA....Abraço

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  4. Inutilidade tão útil..que seria dos sonhos sem a "iNÚTIL" Poesia...
    Aplauso Henrique Pedro :)

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  5. Caro Henrique leio aqui do Brasil o seu texto e me sirvo do mesmo para compartilhar o mesmo sentimento, porém não sem ressalvas, pois devemos entender o fazer artístico também como manifestação e meio pelo qual pode se levar o público, não apenas se entreter com o que é apresentado, mas sim questioná-lo e quem sabe torná-lo cativo e seguidor de sua arte, este por fim poderá ser, não um financiador mas um colaborador para a manutenção do fazer artístico. Embora estejamos em um espaço virtual poucos tiram dele proveito para expor suas ideias e "vender seu peixe" em grande maioria são reflexos dos outros. Camões assim como muitos aclamados pelas Academias e venerados pelo público morreu pobre mas não há como negar a grandiosidade e riqueza de suas obras, temos que tê-los como farol e saber por valor e quando necessário o justo preço ao que fazemos.

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  6. Pois, pois...
    A inutilidade da Poesia.
    Mas é no dizer que não diz
    E no fazer que não faz
    Que ela está.
    Isso lhe basta para ser.

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  7. Bom Dia Amigo, também eu andei por essa Ilha de Moçambique, há uns 46 anos, eram então uma miúda que achou a Ilha muito pequenina, mas tinha um Banco e Hospital.
    Gostei do seu poema, todos nós nos identificamos com ele.
    Votos de bom fim de semana

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  8. Meu caro Henrique Pedro,
    Também o Pessoa disse um dia que "os livros são papéis pintados..." e o "ai que prazer, ter um livro para ler e não o fazer". Cito de cor. Mas também o Borges disse que "o céu é um jardim com livros".
    A tua poesia, enquanto expressão dos teus estados de alma, começa por te "animar" a ti e acaba iluminando os outros.
    Abraço amigo,
    Jorge S. Golias

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  9. Os poetas - enquanto pessoas muito sensíveis - sentem e sofrem na alma e na carne o que passa ao lado aos ignorantes. Na obra imortal: "O Despertar dos Mágicos", de Louis Pauwels e Jacques Bergier, pode ler-se: "São essas regiões secretas que nos parece útil explorar. E não é um historiador, mas um POETA que nos servirá de guia". Abraço amigo.

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  10. Os poetas - enquanto pessoas muito sensíveis - sentem e sofrem na alma e na carne o que passa ao lado aos ignorantes. Na obra imortal: "O Despertar dos Mágicos", de Louis Pauwels e Jacques Bergier, pode ler-se: "São essas regiões secretas que nos parece útil explorar. E não é um historiador, mas um POETA que nos servirá de guia". Abraço amigo.

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  11. é... e se ele não teve e nem tem valor pela terra que enalteceu, imagina nós rsrs bju poeta gostei demais de ler aqui...

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  12. Henrique,
    Deixa me viajar na tua autoestrada dos sonhos.
    Bj
    Nanda

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  13. O que conta de verdade, são as sementes lançadas ao vento... nada fica de fato oculto ou desvalorizado. Se uma só pessoa ama o que fazemos: Valeu a pena. Não é a quantidade, o reconhecimento de todos, mas o fruto que caminha nas asas da imaginação e voa livre sobre o céu soberano. Eu, pessoalmente aposto que as obras literárias nunca ficam despercebida. Pois, foram criadas para alguns... talvez, nem vejamos ou tenhamos o conhecimento de quem poderá nos ler, mas depois de feitas são livres como o vento indo e vindo no tempo e no espaço intimado pelo destino. Beijos e muito obrigada pela doce partilha. Akeza que ama a vida e ama você!

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  14. "Mas que um dia foram Império de verdade"
    É inútil tudo. Entregues estamos, à inutilidade de alguns que nos roubam a esperança, neste império que um dia foi de verdade. Querem nos tirar o sonho, sem que consigam nos capturar a alma, que continua livre e inatingível.

    Rasgue-se o coração e nunca as vestes !

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