Paro para pensar
anulo o movimento
anula-se o tempo
e alarga-se o meu
Eu
Rumo à Eternidade
por dentro e por fora
de mim
em busca do Absoluto
A partir daqui
deste meu reduto de espaço-tempo-amor-além
Daqui
deste meu chão
Meu sítio
meu canto
meu mundo
meu berço
meu lar
meu ninho
minha terra
minha pátria
meu céu e meu mar
minha ampla planura
minha serra a cerrar o
horizonte
minha névoa e luar
meu covil e castelo
meu casebre e palácio
meu sol de abrasar
minha lura de lebre
meu espaço com fim
minha janela aberta à Eternidade
Porta de sonho e
esperança
escancarada no seio do
Cosmos
na angústia e na saudade
vidraça do futuro e da
lembrança
que tento partir à pedrada
qual criança
Daqui
deste meu sítio
onde dependuro pote e capote
Me sento e amanso
durmo e descanso
canto e rio
grito e cicio
Por entre ranger de
estrelas e ladrar de cães
choro de crianças
aflições de mães
trinados de aves
toque de finados
e o silêncio
indiferente
de Deus
com que me aflijo e angustio
Daqui
deste meu chão
por este meu reduto de espaço-tempo-amor-além
impregno o Cosmos de
meus odores
e humores
minhas lágrimas e meu
mijo
meu cuspo, suor e sémen
uivos de dor
canções de amor e de
embalar
sussurros de presença
gritos de ausência
tédio e saudade
perfume de tília
colorido de glicínia e
buganvília
ensopado de vida e
angústia
por dentro e por fora do
Alfa e do Ómega
de onde o espírito
advém
Daqui
deste meu mundo
moldado por minhas
ideias
e mãos
sonhos e sofrimentos
angústias e tormentos
assobiados por mim e
pelos ventos
que por aqui perpassam
pelas asas dos pássaros
que esvoaçam
por mil raízes que
minam o solo em procura de húmus
e consolo
Não para sobreviver
mas para dar frutos e alegria
porque vida e guarida
a têm garantida
Aqui e agora
por este meu reduto de espaço-tempo-amor-além
liberto da cobiça e da
obrigação de ir à missa
e dizer ámen
compreendo também
compreendo também
a filosofia de meu avô
João:
«A Salvação
uma libra gasta
outra na mão»
«A Salvação
uma libra gasta
outra na mão»
E espero
aqui
um dia
vir a morrer
crente de que a morte
é um passo da vida
vivida
não um golpe de má
sorte
É um adeus definitivo
não o definitivo adeus
Paro para pensar
anulo o movimento
anula-se o tempo
e alarga-se o meu
Eu
Rumo à Eternidade
por dentro e por fora
de mim
em busca do Absoluto
A partir daqui
deste meu reduto de espaço-tempo-amor-além
in Angústia, Razão e Nada
(1.ª Edição 2007)
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