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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Só não sofrem as fragas




Sofrer sofrem plantas e animais
fome
sede
frio
e desumanidade

Sofrer sofrem os humanos
a falta de humanidade

Só sofremos
se somos nós a sofrer
mas sofremos ainda mais
se sofremos com os demais

Sofrimento sôfrego
sufragado
sofre o poeta amoroso
amargurado
de amor contrariado
a sua maior desgraça

Só não sofrem as fragas
mesmo se o deflagrar fragoroso
as desfigura

e estilhaça

terça-feira, 2 de julho de 2013

Alvorada




Quando o Sol raiar
então sim
vamos poder amar-nos
à luz do dia
envoltos em lençóis de poesia

Já se rasga o dia
no crepúsculo da aurora
já o galo canta a alvorada
em estridente melodia

Em mim
relincham
mil corcéis de alegria

Já diviso
a figura feminina
etérea
vaporosa
que me sorri
deitada em nuvens cor-de-rosa

É a minha amada que acorda
por fim

feliz porque não parti

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A poesia é uma árvore




A poesia é uma árvore
com tronco de emoção
e copa de fantasia
envolvida em véu
de louvor
à vida

De raízes mergulhadas bem fundo
no húmus do coração
de onde suga a seiva
dos sentimentos soberanos
com que alimenta folhas
e ramos
e frutifica
em poemas
na Razão

Respira o ar da Terra
e recebe a bênção do Céu
sob a forma de inspiração

Iluminada pelos raios cósmicos do Universo
viceja em verso
e é poiso de aves
que vêm ler
e declamar
os poemas
trazendo e levando penas
que a vida

é um permanente depenar
até morrer

sábado, 29 de junho de 2013

No clímax do sonho



Com o sono e o sonho
no clímax
do enlevo
e da lascívia
como se vivesse a vida sonhada
e a felicidade estivesse acordada

Quando me apetecia tudo menos acordar
eis que toca o despertador
e a realidade desperta
para a felicidade adormecida.
Ó que estranha troca!

Abro a janela
aspiro ao ar fresco da manhã
a Natureza no seu esplendor
é outra fantasia

Será que de novo sonho?

Desperto no melhor da realidade
acordo no melhor do sonho
não durmo
nem discuto o dilema
simplesmente
vivo

Inalo uma pitada de poesia

e lavro este poema

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Avé Maria



Algum querubim

por certo

dentro de mim

instante

me chama

 

Desperto!

 

Abro a janela de par em par

de pronto o Cosmos inunda o aposento

de rompante

 

Um vento de luz sopra raios rosa desde o Sol nascente

a alvorada entra luminosa no meu coração

que canta vitória

 

Os acordes espirituais de Bach e Gounod

complô de anjos e arranjos divinais

envolvem-me em explosão de alegria

e glória

 

Nos sons suaves dos violinos

ouço o ondulado de colinas verdejantes

salpicadas de papoilas e malmequeres

a energia telúrica que emana da Terra

força de paz que silencia a guerra

 

Os toques metálicos do piano

qual tilintar das estrelas a cintilar

não cessam de por mim chamar

 

A melodia me encanta

o meu corpo se quebranta

sinto-me a pairar

 

E quando a divina voz da diva se alteia

exaltando a santidade da galileia Maria, de Nazaré

a minha alma se incendeia

na vertigem da Fé

 

Já não mora mais ali pois se evola

livre dos humanos misteres

e se empola

em êxtase de espiritualidade

e poesia

 

E também eu canto o sacrossanto canto

 

Avé Maria

cheia de graça

o Senhor é convosco

bendita sois Vós entre as mulheres 

e bendito é o fruto

do Vosso ventre

Jesus

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 14 de Setembro de 2009

Henrique António Pedro

 

 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A mulher gorda



Um som inaudível

uma estranha indução

uma inconsciente associação

terão motivado, por certo, esta inaudita exibição

 

Quando hoje pela manhã

me preparava para me barbear

desatei a assobiar

o refrão

de uma música em voga

e não tardei a trautear com igual brilho

o estribilho

também

 

«Mulher gorda,
ai a mim não me convém,

………………….
Ai, ai, ai, ai,
eu gosto dessa mulher»

 

Quando dei por mim

já gritava a plenos pulmões

qual cantor de multidões

enquanto a lâmina deslizava

na face ensaboada

 

«Mulher gorda,
ai a mim não me convém

………………….
Ai, ai, ai, ai,,
eu gosto dessa mulher»

 

E repetia com mais ardor

apenas o verso introdutor

embora na composição

também haja mulheres magras

pois então

não só anafadas


Quantas pessoas na vizinhança

terão pensado que enlouqueci

e sem esperança de cura?

 

E quantas mulheres gordas terão sentido ganas de me esganar

danadas com a minha loucura

com tão dura falta chá?

 

Sei lá!

 

Certo é que a barba ficou um primor

 

E que há mulheres gordas que são um amor

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 28 de Abril de 2010

Henrique António Pedro