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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Dando tempo ao tempo




Apercebo-me de um mais débil pulsar
de badalas langorosas de cansaço
corro a dar corda aos meus relógios
para assim os espevitar
não vão eles parar
e com eles parar o tempo

Iludo-me…

Pensando que o tempo sou eu que faço
mas o tempo não tem origem em mim
apenas o mais puro sentimento
me vem de dentro

Ainda assim...

Como os maquinismos mecânicos
prolongam as horas e os dias
dos mecanismos do tempo
em badaladas mais sonoras
e prolongadas

Também…

Os beijos e os afagos
animam o bater dos corações
e reanimam
com seu calor
as maquinações da relojoaria do amor
e dão mais tempo
ao tempo

Mas o tempo…

Sempre está a acontecer
esgota-se por si só
com dor e desdém
sem dó nem piedade
e tudo acaba por morrer
deverdade

A menos que a mecânica celeste
com sua engrenagem cor-de-rosa
nos conduza em viagem
mais esperançosa
no além


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

E se os humanos fossem pássaros?




Esta recomendação faço com emoção
ao Criador

Se acaso entender corrigir a Criação
então
que faça dos humanos
desta vez
aves

Que os coloque de novo sobre as árvores donde desceram
(Como defendem os evolucionistas)
mas que não permita que agora as deixem
jamais

Que fiquem por lá para sempre
ganhem penas e asas que os habilitem a voar
como as pombas, os pintassilgos ou os pardais

E que voem aos pares pela Primavera
que se amem com arrulhos
a saltar de ramo em ramo
a chilrear
bastando uma amorosa bicada
em pleno ar
para o homem–pássaro galar a mulher-ave
e a engravidar


Que por lá construem seus ninhos
nos quais a nulher-ave porá os seus ovinhos
que chocará com seu calor maternal
até que a casca quebrar e soltar os meninos-passarinhos
que só abandonarão o ninho
quando souberem voar



Será assim mais fácil lançar-se o homem na exploração espacial
não terá necessidade de construir aeroportos
auto-estradas
arranha-céus
nem de transformar o planeta Terra
num cometa

Porque tudo
ou quase tudo
desde o nascer, ao amar, ao morrer
se passará como com as aves

No ar


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 27 de Abril de 2009
Henrique Pedro




domingo, 2 de outubro de 2016

Poema erudito




É ideia deste poema nada dizer
a ninguém
não obstante quem o ler
seja livre de o interpretar
como lhe aprouver
e melhor lhe convém

Pretende ser um poema erudito
não há como o contornar
embora o léxico não seja académico
muito menos jargão
não disseque a alma de ninguém
não verbere o acordo ortográfico
nem diga mal de nada
ou fique de boca calada

Embora seja assintomático
não respeita o modismo endémico
não segue corrente literária
muito menos política agrária
nem é escrito à mesa de café

Pode muito bem ser, porém
declamado
e aplaudido de pé
até
como tantos da sua igualha
de muito  poeta consagrado

Este poema é erudito
sim
mesmo sendo ruim
não fala de coisa nenhuma
nem diz coisa com coisa

Quem o ler
nada ficará a saber
embora fique a pensar
e sabe-se lá o quê…
…de mim

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Se assim bate o seu coração



Se o seu coração bate
assim
forte
a saltar fora do peito
feito cavalo à solta
é porque anda insatisfeito

Se o seu bater é de tambor
a rufar de dor
é angustura
que mal se atura

Se bate o coração
sem que se sinta bater
enquanto a mente pensa
com indiferença
e os olhos
olham
sem ver
é de desilusão
o seu bater

Se o coração bate
assim
forte
sem que se sinta bater
e o espírito voa
com alegria
leve
e livre
com poesia…

… é amor
nada o poderá deter

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Aquela paixão não passou de um poema escrito num pedaço de papel que ardeu





Escrevi aquele poema na minha própria alma

com a tinta doirada do meu amor

e com toda a minha arte

na esperança de que ela o lesse

e o guardasse com o ardor

em seu coração

 

Ela tomou-o, porém

por um aparte

burlesco

literatura de cordel

 

Pediu-me

ainda assim

o que fiz com frenesim

que o escrevesse num pedaço de papel

que mal leu

e que depois de amassá-lo

acabou por cremá-lo

em fugaz incêndio

no grosseiro cinzeiro

de vidro vulgar

 

Sobrou um montículo de cinza

que com um sopro

leve

e um despiciendo piparote

sacudiu do decote

 

Não tem porque se lamentar

agora

que anda perdida

a esmo

a lamentar-se de não me ter dado a merecida atenção

 

Aquela paixão

indevida

não passou disso mesmo

 

De um poema que escrevi

com frenesi

num pedaço de papel

que ardeu

só porque ela não o mereceu

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 29 de Novembro de 2011

Henrique António Pedro

 

 

 

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Só de olhar



Já a Primavera se transmuda em Verão

Já o Sol se põe e muda de posição

deixando atrás de si um resplendor alaranjado

que se desvanece e me deixa extasiado

enquanto o céu escurece

e a Terra se encobre de escuridão

 

Já a Lua brilha cristalina

já se acende a estrela vespertina

depois outra após outra

marchetando o Firmamento

que por fim se ilumina de cerúleo polimento

mais abrangente

 

Nenhuma ideia brilhante

nenhuma palavra redundante

uma rima sequer

indiciam poemas na minha mente

 

Nem eu tristonho me predisponho a poetar

assim mergulhado na soledade do fim do dia

extasiado com a serenidade da contemplação

 

Sob o olhar da Lua

que em silêncio percorre o céu e me olha

como se estivesse ali postada

ela sim

para a mim me contemplar

e cobrir com o seu véu

 

Mas eu não tenho dilemas

penas para espiar

ninguém para namorar

nada de poemas

um verso que seja para escrever

apenas solidão

 

Nada à Lua posso dar

nada a Lua me oferece

à Lua nada pedi

 

A poesia acontece

por si

mesmo sem inspiração

 

Só de olhar

 

Vale de Salgueiro, 20 de Junho de 2012

Henrique António Pedro