deverdade
no além
É
ideia deste poema nada dizer
a
ninguém
não
obstante quem o ler
seja
livre de o interpretar
como
lhe aprouver
e
melhor lhe convém
Pretende
ser um poema erudito
não
há como o contornar
embora
o léxico não seja académico
muito
menos jargão
não
disseque a alma de ninguém
não verbere
o acordo ortográfico
nem
diga mal de nada
ou
fique de boca calada
Embora
seja assintomático
não
respeita o modismo endémico
não
segue corrente literária
muito
menos política agrária
nem
é escrito à mesa de café
Pode
muito bem ser, porém
declamado
e
aplaudido de pé
até
como
tantos da sua igualha
de
muito poeta consagrado
Este
poema é erudito
sim
mesmo
sendo ruim
não
fala de coisa nenhuma
nem
diz coisa com coisa
Quem
o ler
nada
ficará a saber
embora
fique a pensar
e
sabe-se lá o quê…
…de
mim
Vale
de Salgueiro, terça-feira, 26 de Agosto de 2008
Henrique
António Pedro
Escrevi
aquele poema na minha própria alma
com
a tinta doirada do meu amor
e com
toda a minha arte
na
esperança de que ela o lesse
e o
guardasse com o ardor
em
seu coração
Ela
tomou-o, porém
por
um aparte
burlesco
literatura
de cordel
Pediu-me
ainda
assim
o
que fiz com frenesim
que
o escrevesse num pedaço de papel
que
mal leu
e que
depois de amassá-lo
acabou
por cremá-lo
em fugaz
incêndio
no
grosseiro cinzeiro
de
vidro vulgar
Sobrou
um montículo de cinza
que
com um sopro
leve
e
um despiciendo piparote
sacudiu
do decote
Não
tem porque se lamentar
agora
que
anda perdida
a
esmo
a
lamentar-se de não me ter dado a merecida atenção
Aquela
paixão
indevida
não
passou disso mesmo
De um
poema que escrevi
com
frenesi
num
pedaço de papel
que
ardeu
só porque ela não o mereceu
Vale
de Salgueiro, terça-feira, 29 de Novembro de 2011
Henrique
António Pedro
Já a Primavera se transmuda
em Verão
Já o Sol se põe e muda de
posição
deixando atrás de si um
resplendor alaranjado
que se desvanece e me deixa
extasiado
enquanto o céu escurece
e a Terra se encobre de
escuridão
Já a Lua brilha cristalina
já se acende a estrela
vespertina
depois outra após outra
marchetando o Firmamento
que por fim se ilumina de
cerúleo polimento
mais abrangente
Nenhuma ideia brilhante
nenhuma palavra redundante
uma rima sequer
indiciam poemas na minha
mente
Nem eu tristonho me
predisponho a poetar
assim mergulhado na soledade
do fim do dia
extasiado com a serenidade da
contemplação
Sob o olhar da Lua
que em silêncio percorre o
céu e me olha
como se estivesse ali
postada
ela sim
para a mim me contemplar
e cobrir com o seu véu
Mas eu não tenho dilemas
penas para espiar
ninguém para namorar
nada de poemas
um verso que seja para
escrever
apenas solidão
Nada à Lua posso dar
nada a Lua me oferece
à Lua nada pedi
por si
mesmo sem inspiração
Só de olhar
Vale de Salgueiro, 20 de
Junho de 2012
Henrique António Pedro