Ainda na aurora
da puberdade
nem sabíamos bem
o que mentira e
verdade seriam
ou deixariam de
ser
As primeiras
chispas de amor
vi-as no olhar de
Aurora
embora eu não
visse
as que saíam do
meu
Embora ela me
dissesse que os meus olhos
faiscavam amor
Embora talvez ela
as confundisse
com centelhas
de desejo
Certo que o
ensejo
dos primeiros
choques eléctricos
os experimentámos
no toque das mãos
Depois
depressa
percebemos o embaraço
mais forte
do abraço
e já deslumbrados
sentimos que os lábios
sempre que se
uniam
disparavam
faíscas
Passámos então a
divertir-nos
a provocar
relâmpagos
tocando as pontas
das línguas
Até que o meu
corpo
e o dela
em perfeita
conexão
se envolveram em
fantástica tempestade electromagnética
com os músculos e
nervos em convulsão
electrocutados
e os espíritos em
frenesim
Foi assim
que aprendemos a
gerar
energia
suficiente para iluminar toda a cidade
E tantas vezes as
lâmpadas se acenderam
e apagaram
que acabámos por
descobrir
já à míngua de
novidade
que amar é mais
que isso
muito mais que
química
ou electricidade
É força anímica
É o acender de
uma luz suave
no fundo da alma
Muito mais do que
soltar relâmpagos
na ponta da
língua
in Mulheres de amor
inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)