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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Aurora




Ainda na aurora da puberdade
nem sabíamos bem
o que mentira e verdade seriam
ou deixariam de ser

As primeiras chispas de amor
vi-as no olhar de Aurora
embora eu não visse
as que saíam do meu

Embora ela me dissesse que os meus olhos
faiscavam amor

Embora talvez ela as confundisse
com centelhas
de desejo

Certo que o ensejo
dos primeiros choques eléctricos
os experimentámos no toque das mãos

Depois
depressa percebemos o embaraço
mais forte
do abraço
e já deslumbrados sentimos que os lábios
sempre que se uniam
disparavam faíscas

Passámos então a divertir-nos
a provocar relâmpagos
tocando as pontas das línguas

Até que o meu corpo
e o dela
em perfeita conexão
se envolveram em fantástica tempestade electromagnética
com os músculos e nervos em convulsão
electrocutados
e os espíritos em frenesim

Foi assim
que aprendemos a gerar
energia suficiente para iluminar toda a cidade

E tantas vezes as lâmpadas se acenderam
e apagaram
que acabámos por descobrir
já à míngua de novidade
que amar é mais que isso
muito mais que química
ou electricidade

É força anímica

É o acender de uma luz suave
no fundo da alma

Muito mais do que soltar relâmpagos
na ponta da língua

in Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)


1 comentário:

  1. Uma importante descoberta, que muitas vezes, chega tarde na vida. Após muitas cabeçadas!
    Adorei os versos.

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