Porque escrevo poesia?!
A esta angústia maior
que me morde a mente cada dia
responde-me a própria poesia
Fico um tanto mais consolado
embora não de todo aliviado
Há quem fume e quem beba
mas porque tal me causa tão incómoda azia
a mim dá-me para escrever poesia
Para calar angústias estranhas
ideias tresmalhadas
sensações entranhadas
sopro de coisas etéreas
que me desassossegam o corpo
por dentro e por fora
que nem o vento as leva embora
Para transformar medo em coragem
ódio em amor
prisão em liberdade
raiva em tranquilidade
fracasso em glória
mentira em verdade
saudade em presença
maldade em inocência
indiferença em solidariedade
vício em temperança
fome de sexo em paixão
para aliviar outros males de coração
E para sufragar os gritos de milhares de irmãos que sofrem e morrem sem
que ninguém lhes valha
para quem a vida é um verdadeiro inferno
tudo isto me cicia a poesia neste dia
Como muita gente
certamente
eu escrevo poesia
para me sentir vivo e livre
e sorver o sabor de me saber eterno
E porque alguém a lê
Já se vê!
Vale de Salgueiro, 5 de Fevereiro de
2008
Henrique António Pedro