Baptismo de fogo
Uma vez...
Lá
no reino do régulo Capoca
Maconde
Diletante súbdito do Império Português
Já nem me lembro bem
Como
Quando
E porque ali fora parar
A navegar
Na História
De boa e má memória
Que me lançou na frente de batalha
De uma guerra fora de tempo
E que a tantos Longe da terra
Serviu
de mortalha
Era
minha intensão
Pois
então
Ser herói
Sim
E santo
Talvez
Porque
não?
Dormia
O meu corpo suava
E a alma alagava-se do suor da saudade
Reinava o silêncio
No seio da juvenil companhia
Que ousara penetrar a floresta
Preparada para matar
Ou morrer
Tão
só para sobreviver
Um estampido
Primeiro
Cavo
Abafado
Seguido de um silvo
Bem referenciado pelo ouvido
Treinado
A seguir
O deflagrar ensurdecedor de uma malina
Granada
De morteiro
Depois outra e mais outra
A terrível fuzilaria
Trágica
Ruidosa
Romaria
Ergo-me
Em incontida inconsciência
Pujante de adrenalina
Grito:
“Filhos da puta!”
E disparo
Disparo
Uma
Duas
Três
Mais
e mais rajadas
Contra ninguém
Nem bem sabia sequer
Quem disparava para quem
Nem se alguém atirava contra mim
E foi assim
Pelo baptismo me tornei cristão
Com água e sal
Ainda criança
E a ferro e fogo
Fui iniciado guerreiro de Portugal
Homem inteiro
Do heroísmo
Resta-me a poesia
Da santidade
Sobra-me a esperança
Vale
de Salgueiro, sábado, 22 de Maio de 2010
Henrique
António Pedro