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sábado, 2 de setembro de 2023

Abençoada chuva


Abençoada chuva


 Chove. Copiosamente. Sem tino!

A terra, árida, sofrida, fulva,

Vira húmus fértil, úbere vulva.

O céu asperge azeite e vinho.

                                                                                                   

O sempre verde, altaneiro, pinho,

Abre os seus rijos ramos à chuva                                                  

Que lava o ar da atmosfera turva

E ao lixo do solo dá destino.


 

Quando o Sol de novo raiar

Novo milagre vai acontecer:

O solo sáfaro vai verdejar.

 

E a Terra Quente vai exultar

E com o cântico do seu viver

A chuva abençoada louvar!

 

Vale de Salgueiro, 19 de Abril de 2008

Henrique António Pedro

 

                                                                    


quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Insana Paixão Transmontana

 


Insana Paixão Transmontana

 

Na mais alta e fria serrania transmontana                                    

Apascenta, indefesa, o seu dócil rebanho

Uma linda e sedutora pastora serrana

Cuja pureza, porém, é puro, doce, engano

 

Será santa, sim, para o bom povo, puritano!

Para mim, é pura pecadora, não me engana

Não tivesse ela um secreto amor insano

Que por pura paixão recebe na sua cabana.

 

Que calcorreia toda a montanha atrás dela

De língua de fora como o mais fero lobo

Que não quer o rebanho porque só a quer a ela

 

É só pelos seus beijos doces que eu me afobo

E a ela, com os meus, açobo qual cadela       

Tanto que tal paixão às nossas almas pega fogo

 

Vale de Salgueiro, domingo, 12 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 29 de agosto de 2023

O vinho de maçã do Paraíso

 


O vinho de maçã do Paraíso

 

Deu Deus, ao bom Adão, para o alegrar

Eva, por companheira, mulher fascinante

Esta fez vinho de maçã, inebriante

Receita da serpente de embebedar

 

Adão por Eva se deixou fascinar

Caindo na malsã condição de amante

E angustiado por sentir Deus distante

Bebeu do vinho até se alucinar

 

Por isso vida de homem é provação

Mas o vinho e a mulher doce agasalho

Bem bebidos e amados são salvação

 

Vinho com moderação, fora do trabalho

A mulher se complacente ou com paixão

Seja o homem criança ou já grisalho

 

Vale de Salgueiro, 18 de Maio de 2008

Henrique António Pedro

 

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

A dor de amar demais

 


A dor de amar demais


Fenece, só e triste, como o ledo lírio

Aquele que ama, com paixão, uma mulher

Se mesmo não a podendo ter como bem quer

Continua a amá-la, feito louco, em delírio

 

E sofre demais o emigrante seu martírio

De sentir-se longe do lar, sem o querer

A mais cruel saudade é o seu sofrer

O desejo do regresso é aceso sírio

 

Também o santo místico que vive na fé

É torturado pelo silêncio divino

Só essa mística paixão o mantém de pé

 

Aquele que mais ama mais sofre, já se vê

Apenas alma grande não força seu destino

E aceita a vida tal como ela é

 

Vale de Salgueiro, 13 de Abril de 2008

Henrique António Pedro

 

domingo, 27 de agosto de 2023

A Poética Criação da Humanidade

 


A Poética Criação da Humanidade


Do barro bruto o Criador criou o homem

Só para Sua recreação e alegria

Bafejando amor divino e poesia

Olvidando as dores que os mortais consomem

 

Porém, tais graças com a poesia eclodem

Que o barro tosco que Deus soprou, ganhou vida

Avivou Adão, tornou Eva apetecida

Dos mil mortais deleites que na Terra ocorrem

 

Ao barro, porém, nosso corpo retornará

Finando-se prazeres e dores com a morte

Só a divina poesia nos salvará

 

Para se livrar da matéria e má sorte

O homem, com poesia, a Deus louvará

Amando como Ele manda sua consorte

 

Vale de Salgueiro, 17 de Abril de 2008

Henrique António Pedro

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Uma paixão histriónica

 


Uma paixão histriónica

(Jocoso)

 

Trago meu pobre coração a arder

É tão triste a minha condição

Tão abrasadora esta paixão

Que o desfecho não posso prever

 

A essa mulher não passo sem ver

Embora forçado pela Razão

A conter-me e a dizer que não

Senão, tudo deitarei a perder

 

Mas ela, com sorrisos e perfume

Com seu doce jeito de me olhar

Mais não faz que atear mais o lume

 

Atónito, não sei como parar

Como sair deste amor, incólume

Paixão histriónica, a queimar

 

Chaves, 19 de Julho de 1965

Henrique António Pedro