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domingo, 3 de agosto de 2025

Uma piedosa mentira de amor



Disse-lhe que a amava
ela acreditou


Alegrou-me a alegria
que o seu espírito extravasou
em beijos
abraços

e gritos

Muito mais do que eu esperava

desse amor que a espaços

eu vinha deitando a perder

Ainda sinto remorsos

confesso

contrito
de não lhe ter dito a verdade
por pensar

que mais a faria sofrer a ela

do que a mim penar

A verdade é que amo aquela mulher
não como ela me ama a mim
mas amo-a de verdade

ainda assim

Fico à espera que seja ela a descobrir

docemente e sem penar

que não a amo como ela quer

por ser diferente o meu querer

Esta a virtude que a mim me ilude

se é que há virtude em mentir
ainda que por amor sentir


Esta a razão de ser
desta amorosa
piedosa
mentira


Perdoa-me! Amor!



Vale de Salgueiro, sábado, 12 de Junho de 2010

Henrique António Pedro

 

 

terça-feira, 29 de julho de 2025

Não só no meu peito o meu coração bate


Não só no meu peito

o meu coração bate

 

Bate em toda a parte

em que ponho os olhos

ou os ouvidos

ou lanço a imaginação

alcance ou não

as coisas

com a mão

 

Bate em tudo que tacteio

em tudo que toco

com os sentidos

ou simplesmente anseio

 

Vá para onde eu vá

sempre lá estará

o meu coração a bater

assim

profundo

de permeio

entre mim

e o mundo

 

Bate também no peito de quem

também tem

um coração por mim

a bater

a marcar o ritmo do meu amar

do meu sofrer

do meu prazer

 

E tanto assim é

que é minha fé

que mesmo depois de morrer

o meu coração

vai continuar a bater

 

Não só no meu peito o meu coração bate

 

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 23 de Julho de 2009

Henrique António Pedro

 

domingo, 27 de julho de 2025

Amo-a, mas não gosto dela.



Amo-a

com enlevo

mais do que devo

ainda assim lhe digo que não gosto dela

embora ela seja muito bela

 

Gostava, isso sim

que ela fosse diferente

e que a mim me fosse indiferente

 

Gostava de amá-la e dela gostar

tal como ela é e como ela quer, mas…

… sinceramente

eu não gosto dela!

 

Diz-me ela que não há mas nem meio mas

que é meu puro engano

ou eu a amo e gosto dela

assim como ela é

ou não amo

e a desgosto

 

Saber eu que a amo, mas não gosto dela

e que assim sendo

como espero

a ela não lhe gosto

e que tonto

não reclamo

também é meu desgosto

 

Amo-a, pronto

mas não gosto dela

muito menos a quero

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 5 de Novembro de 2010

Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Um soldado e sua mãe



Longe do lar

o soldado

calado

não chora

ninguém o ouve chorar

 

Não porque não tenha lágrimas

mas porque de nada lhe serve chorar

 

Também porque lá no lugar

onde anda a lutar

há sangue

suor

e saudade

bastantes para seu choro

calar

 

Muito embora

o soldado chora baixinho

qual menino

angustiado

 

Não por ter medo de morrer

mas por temer não poder

regressar

ao lar

 

Também chora sua mãe

baixinho

em permanente oração

a chamar seu filhinho para junto de si

embora o soldadinho

o seu menino

esteja lá

aqui

ali

e cá

bem fundo no seu coração

 

Sempre assim foi e será

sem que se saiba bem porquê

e por quem

porque espúria verdade

soldados de todas as terras

morrem em todas as guerras

longe do lar

 

Ficando suas mães a chorar

de dor

de amor

de saudade e solidão

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 16 de Junho de 2011

Henrique António Pedro

 

 

terça-feira, 22 de julho de 2025

Ao ritmo que o coração me bate no peito



Martelo palavras sem jeito

ao ritmo que o coração

sem apelação

me bate no peito

 

Teclo por teclar

sem pauta nem rima

é a angústia que me anima

 

Sentimento sem razão

sem tegumento

que se me enrola no corpo

qual sarmento de videira

 

Quiçá sopro de vento divino

que me embriaga como vinho

a vida inteira

 

Sou um cálice transbordante de poesia

poção efervescente de fantasia

que me torna mais liberto

 

Bebo o meu próprio sangue

e mesmo exangue

continuo a cantar

 

Até que adormeço

certo que mais desperto

tornarei a acordar

 

Vale de Salgueiro, domingo, 13 de Dezembro de 2009

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 15 de julho de 2025

Cosmos e caos


Sou cosmos e sou caos

mundo onde tudo existe

acontece

persiste

e desaparece

 

O lugar onde o amor e a dor

coexistem

envoltos no véu da vida

sentida

 

O espaço em que giram as galáxias

e os universos conhecidos

e os que estão ainda por descobrir

 

O céu onde as estrelas brilham

os ventos sopram

troam trovões

e as palavras se concertam em versos

e poemas

 

O hiperespaço em que aconteço

e me mereço

sem saber que pensar

que dizer

o que fazer

a não ser

caminhar apressado

pé ante pé

 

Sou o mundo em que batem corações

e se levantam todas as questões

e dilemas

que ninguém entende

e não têm resposta

 

Tudo existe em mim

ainda assim

 

O caos e o cosmos são a minha alma

que em angústia se desalma

 

Alma que também é tempo de bem

e de alegria

o templo em que se acende a luz da Fé

que se transcende

em Jesus e na Virgem Maria

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 25 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro