VIII
A heróica Associação
Revolucionária das Mulheres do Afeganistão (RWA)
Com Elif sentada a meu lado
A mim abraçada
Visivelmente enamorada
Num autocarro ronceiro
Superlotado
Mergulhado no silêncio
E no vazio de pensamento
Apenso
Vou disfarçado de mulher
A suar suor
Cio
Adrenalina
Ideias de puro amor
E os demais afectos
Que me aprouver
A inalar temor
E perfume de vagina
Vivo a maior aventura
O desejo mais insano
Misto de apreensão
Tentação
Ternura
E puro engano
Perplexo entre amor
Dever
E sexo
Neste louco ensejo de ir
E voltar
De Cabul a Peshawar
São e salvo
Quiçá
Apaixonado
Insaciado
Estrada fora
É triste a nova aurora
Afeganistão,
Ponto GPS Júpiter, 08092005
Brian
P. Smith
Apostila:
Trata-se de viajar desde Cabul até um pequena localidade não
referenciada, já próxima da fronteira do Paquistão, na estrada de Peshawar.
Vou disfarçado com a tradicional burca, que me encobre todo o corpo e
também um poderoso arsenal portátil de defesa pessoal, para lá da
sofisticadíssima electrónica miniaturizada que me habilita a estabelecer
contacto permanente com o Comando em Cabul e a solicitar a intervenção sobre
alvos inopinados relevantes dos temíveis caças-bombardeiros que se encontram em
alerta permanente, algures em bases que nem eu sei onde se localizam.
A estrada de Cabul a Peshawar atravessa um região extremamente sensível
bordejando as mais inóspitas serranias e os esconderijos mais traiçoeiros e
inexpugnáveis do inimigo.
Acompanha-me Elif, a já inseparável agente turca, a quem ainda mal vi o
rosto, mas que já sei tratar-se de uma jovem docente da Universidade de Cabul,
antropóloga, profunda conhecedora das culturas afegãs. Elif é elemento chave na
tentativa de estabelecer ligação entre as forças da Coligação e a heróica
Associação Revolucionária das Mulheres do Afegão (RWA) que estão de costas
voltadas.
Os estreitos contactos que vimos mantendo, a abstenção sexual a que
estamos submetidos, o risco permanente e, talvez uma secreta e ainda não
revelada afinidade, estabeleceram já, entre nós, fluxos espirituais e
sensoriais indescritíveis, muito embora, repito, ainda lhe não conheça o
verdadeiro nome, não muito bem o rosto e muito menos o corpo.
Acontece que a semana passada, na localidade a que nos dirigimos uma
célula influente da RWA (Associação Revolucionária das Mulheres do Afegão) foi
chacinada, continuando desaparecidas as militantes mais influentes. Até onde a
nossa missão pode ser revelada, iremos ali contactar, clandestinamente, outras
células da RWA, para tentar resgatar a mulheres desaparecidas.
Supõe-se ainda que nesta acção
poderão obter-se informações valiosíssimas sobre os dispositivos da Al Qaeda e
dos Taliban.
A heróica Associação Revolucionária das Mulheres do
Afeganistão (RWA)
Foi fundada em 1977 sob a liderança de Meena Keshwar Kamal, uma
estudante afegã ativista que foi assassinada em fevereiro de 1987 por agentes
afegãos da KGB com ligações a fundamentalistas do partido de Gulbuddin
Hekmatyar. O grupo, que abraça a causa de ações estratégicas de não violência,
era sediado em Kabul, Afeganistão, mas depois mudou para Paquistão.[1]
A organização visa a envolver as mulheres afegãs em ações sociais e
políticas, com vistas a conquista de direitos humanos para elas e manter a luta
contra o Governo afegão baseando-se para isso na democracia secular e não em
princípios fundamentalistas, nos quais as mulheres são arbitrariamente segregadas.
O grupo opôs-se aos governos soviéticos, o subsequente Mujahideen e o
Talebã Islamita e o atual estado de República Islâmica (apoiado pelos EUA).
WIKIPÉDIA https://pt.wikipedia.org/wiki/Associa%C3%A7%C3%A3o_Revolucion%C3%A1ria_das_Mulheres_do_Afeganist%C3%A3o
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