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sexta-feira, 15 de março de 2024

Florilégio

 


A rosa


A rosa tinha rosas no cabelo

por desvelo

na face

por disfarce

no ventre

por se demente

e no seio

por receio


E uma rosa maior no coração

que brilhava rubra

aculeada


Deu-me prazer

e fez sofrer

a malvada

Rosa, mulher, paixão

 

A malmequer


Desfolhei a delicada flor malmequer

em minha mão

alternando mal me quer com bem me quer

ao ritmo do bater

do coração

 

Só eu amei

porém


E mesmo depois de desfolhada

continuei sem saber

se era bem ou mal

o seu querer


Malmequer, mulher, indefinição

 

A camélia


Mergulhei de corpo e alma na camélia aveludada

lavada

inebriado de conforto

no horto do prazer

quase sem querer

até que murchou

com igual calma

 

Nada restou de verdade

 

Camélia, mulher, futilidade

 

A papoila


A papoila era louca

rubra

frágil

ágil

descuidada

perfumada de nada


Enrubescia o próprio vento

e quem com ela se cruzava

descuidado

no descampado

da vida

mundo do mau pensamento

Papoila, mulher, indevida

 

A Açucena


Na alvura

pura

da açucena

rezando a santa novena

havia espiritualidade


Amei-a

e sinto saudade


Fiquei sem saber

com muita pena

se era mulher de verdade


Açucena, mulher, castidade

 

A Tulipa


Olha-me de longe

com olhar distante

convencida

fechada


Sorri

pedante

 

Dela não me aproximo

sequer

não é flor de amor

tão pouco amante


Tulipa, mulher, vamp


A Flor de Cerejeira


Enxertei uma cerejeira

que amei como nunca ninguém

amei


E depois que a cerejeira amada

entumescida

floriu em flor

numa manhã de Primavera

alva

rosada

polida

de raios de sol irisada

brotaram cerejas lindas

produto de muito amor


Flor de Cerejeira, mulher, amor, mãe

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 1 de Setembro de 2008

Henrique António Pedro

 

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