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terça-feira, 4 de junho de 2013

Regresso de para onde nunca parti



Digresso
e mais uma vez regresso
de onde nunca estive
de para onde nunca parti

Regresso
aonde devo estar
para dentro de mim
que é o meu lugar
princípio e término

Este desejo de partir
de ir e vir
é meu destino

Nunca parto
nunca parti
nunca estive aqui

Mas parto
e torno a partir
entre mim e mim
entre o que sou e o que quero ser
sem nunca sair daqui

É uma forma de me evadir
de ser livre
e de me libertar
para me tornar a prender

E assim viverei

mesmo depois de morrer

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Mil virgens nuas bailam ao luar



Sempre que a abóbada celeste se converte
numa imensa piscina diáfana de luar
e espiritualidade
tendo por fundo a Terra

E à tona do luar flutuam as estrelas
cintilantes

Eu envolvo-me com mil rosas perfumadas
decepadas de espinhos
com mil virgens imaculadas
coroadas de diademas de poemas

E deleito-me nadando nu nos seus olhares
mergulhado em mil fantasias de prazer
e glória celestial

E mortal adormeço
embalado pelo pulsar dos seus corações
inebriado pelo doce arfar de seus seios

E acordo imortal
purificado de todo o mal
sem outros anseios
que não seja bailar nu com mil virgens ao luar
estabelecer o nexo do sexo
com a espiritualidade

Porque
cada mulher virgem que baila nua
ao luar
é uma deusa
e só um deus
poderá fazer florescer no seu ventre sagrado

um poema iluminado

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Esta democracia é uma porca



Esta democracia é rotunda
redonda
sem ponta por onde se lhe pegue
uma filha da mãe
que paga a quem não deve
e rouba a quem nada tem

É uma arreata
que zurze e ata os cidadãos à nora
pela rédea

É uma tragicomédia
insensata
uma pilhéria
uma gargalhada sonora
prenúncio de revolução

É um pântano de abstração

É uma cobra aninhada no seio da Nação
uma ninhada de ratos
a devorar-lhe as entranhas
e o coração

Esta Democracia é uma porca
que amamenta a corrupção

Já nada sobra
só ilusão!

Vale de Salgueiro, 31 de Maio de 2013
Henrique Pedro


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Separação


Tanto nós nos amávamos
tão próximos tínhamos os corações
o seu bater era tão alegre e doce
que partilhavam veias
artérias
…e sangue
se necessário fosse

Tanto nós nos amávamos
tão próximos tínhamos os corações
que sentíamos os mesmos desejos
vivíamos as mesmas emoções
comungávamos das mesmas ideias
enredados nas mesmas teias
tecidas de aventura
sonho
fantasia
e futuro

Tanto nós nos amávamos
tão próximos tínhamos os corações
que no mais leve pensamento
percebíamos a presença do outro
ouvíamos o que cada um dizia
e por maior que fosse a lonjura do afastamento
e mais forte fosse o vento
viesse ele donde viesse
era o seu perfume que trazia

Tão próximos tínhamos os corações
que bastava um sussurro para ouvir
um arfar para sentir
um gesto
um toque
um pestanejar
para despertar o desejo
e ter ensejo de amar

Aconteceu a separação porém…
tão absurdamente…

Os corações separados estão agora tão afastados
que morando no mesmo lugar embora
mais estreito e incómodo é o espaço agora

Somos incapazes de nos ver e sentir
mesmo se nos cruzamos no passeio
e nos olhamos olhos nos olhos
e nem gritando impropérios
nos faríamos ouvir

Os corações separados estão agora tão afastados
que morando na mesma rua
vivemos em mundos diferentes
e é tão fria a indiferença
que apenas sentiríamos a solidão
se vivêssemos os dois sozinhos
no mesmo mundo
sós e vizinhos

Os corações separados estão agora tão afastados
que apenas partilham a mais fria indiferença
e é tão remota a hipótese de retomar
tão infinita impossibilidade

que nem capazes somos de nos odiar

terça-feira, 28 de maio de 2013

Contemplação



Sonho acordado

Deixo-me levar pelo vento
no voo do tempo
desasado

Cada momento presente
fecha-se em passado
e abre-se em futuro

Rasgo a bruma
da ilusão
escrevo poemas de espuma
inseguro
e voo
fascinado
com a leveza da pluma

O sonho é a próxima realidade
é a esperança
o pão da boca
a procura da verdade
o sangue do coração
o ar do espírito
a água da Razão

Deus só não nos deu asas
para que sejamos nós
a aprender
a voar

E a acordar

na contemplação

segunda-feira, 27 de maio de 2013

As mais belas poesias não as escrevem os poetas



As mais belas poesias
não as escrevem os poetas
e todos as podemos ler
que o mesmo será dizer
ver, ouvir e sentir

Como sejam os poemas Flor
Sorriso
Beijo
Abraço
Arrulho de rola
Nascer do dia
Confiança
o próprio drama Dor
e acima de todos
a doce melodia
Criança

São poesias escritas na linguagem do Amor
com rima rica de alegria
e versos da medida da Esperança

Poemas que estão publicados
um pouco por todo o lado
para serem lidos com o coração
tendo a verdade por diapasão
e muito, muito, cuidado
para que não sejam adulterados

As mais belas poesias

não as escrevem os poetas