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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Amar de novo



Abraçam-se

Beijam-se
e amam-se
como se fossem únicos
na Terra
como se houvesse só aquela cama
e estivessem sós no Sistema Solar

Não tinham dúvidas
de que não existia mais ninguém
nos restantes planetas
nem se importavam com isso

Estavam de facto sós
na companhia um do outro
e entregues à sorte do seu amor
no sistema solar da sua paixão

Na sua cidade, porém
havia mais homens e mulheres
que moravam na mesma rua
mesmo a seu lado

E havia muitos mais na Web
nos cinco Continentes
na Terra inteira
nas esquinas da vida
nas estradas da insatisfação

Sem limites de velocidade para a dor
ou para a desilusão
era só a acelerar
sempre
sem parar

Por isso, quando arrefeceu o ardor
desencontraram-se numa nova paixão
que não se previa

Será que um dia
se reencontrarão num novo amor?

Numa nova
e mútua paixão?

Que voltarão a amar-se de novo?


E porque não?

sábado, 27 de julho de 2013

Apascentando estrelas ao luar


A Lua

já ali está

esplendorosa

cheia

cristalina

desde o sol-pôr

 

Pousada no horizonte

ao alcance da mão

toca-me o coração

com mil estrelas a cintilar

em seu redor

como se eu fora seu pastor

 

O som estridente das cigarras

é agora ensurdecedor

 

O Sol

que espanta as estrelas

durante o dia

à noite deixa-as viver

emprestando a luz à Lua

que a Lua derrama em luar

e fantasia

 

O aroma do alecrim

que perfuma o vento

entra por mim a dentro

 

Alcanço

por fim

o topo da colina

com o espírito circunscrito

no amor de Jesus Cristo

 

Quedo-me por ali

a destempo

até o Sol nascer

apascentando estrelas a refulgir

no redil do meu olhar

acorrentado ao dever

olvidado do devir

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 27 de Julho de 2010

Henrique António Pedro

terça-feira, 23 de julho de 2013

A poesia não é nada nem ninguém



A poesia é um sopro
o borbulhar na superfície da consciência
de mil humores desconhecidos que nos fervem na alma
e no corpo

E os poemas
são borbulhas de sonhos
de afectos
de desejos
que rebentam em palavras
e expelem harmonias e cores
muitas vezes descompassadas
descoloridas
e que nem ideias são

Bolhas que poderão salpicar outros espíritos
e correr mundo
ou simplesmente implodir em angústia

Porque nem toda a poesia almeja ser poema
ainda que seja latente tal sonho

A poesia é como uma mãe
que se amamenta a si própria
e derrama mel
e leite
e fel

A poesia é uma mãe
e os poeta filhos pródigos

A poesia não é nada
nem ninguém

é uma coisa como outra qualquer

domingo, 21 de julho de 2013

Aquém e além da morte



Aquém da morte
é a vida

A certeza da dor
e a incerteza do amor

O prazer
e a alegria fugaz
a procura da paz
o recurso ao sonho
e à fantasia do futuro risonho
o constante construir da saudade

Além da morte
é o além
da vida
sofrida

a esperança de eternidade

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A minha sombra




Caminho em direcção ao Sol


A minha sombra segue-me

persegue-me

vem atrás de mim

cola-se a meus pés nesse ínterim

irritante

enorme

disforme

escura

rastejante

obscura

 

Rodopio de repente

volto as costas ao astro rei

tomo o caminho de sentido inverso

tão pouco parei

 

De pronto a minha sombra me passa à frente

me repassa

sem desvio

em desafio

 

Se danço ela dança

se paro ela para

se corro ela corre

tão veloz quanto eu

 

Piso-a

trepo-a

pontapeio-a

 

Ela foge ao ritmo dos meus pés

sempre colada ao chão

sem me sair da Razão

 

Gostaria que ela se levantasse

e me enfrentasse

para eu poder ver quem ela é

e quem eu sou

 

É só um temor que me assombra

a minha sombra

um medo

um receio

uma amargura imerecida

que mora no meu coração

 

O que eu mais queria era ser transparente

ver-me por dentro

 

Gostaria que fosse luminosa como o Sol

a minha sombra

colorida da cor do amor

reflexo do meu viver

 

A sombra da minha alma

é a minha poesia

 

Por isso escrevo um novo verso

a cada passo

e passo a passo

passo a um novo poema

noutro compasso

 

Entoo nova eufonia

caio em novo dilema

até que o meu espírito se cala

e se acalma

 

Vale de Salgueiro, domingo, 21 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

terça-feira, 16 de julho de 2013

Ao ritmo do que me vai no peito



Martelo palavras sem jeito
ao ritmo do que me vai no peito

Teclo por teclar
sem pauta nem rima
é a angústia que me anima

Sentimentos sem razão de ser
sem tegumento
que se me enrolam no corpo
como sarmento de videira

Quiçá sopro de vento divino
que me embriaga como vinho
a vida inteira

Sou um cálice
transbordante de poesia
poção efervescente de fantasia

Bebo
o meu próprio sangue
e exangue
continuo a cantar

Até que adormeço
na esperança

de tornar a acordar