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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

À sombra de uma nuvem


 

Adormeço
Prostrado
À sombra de uma nuvem
Cansado
De um pensamento mais denso

Embalado
Por uma aragem de espírito
Que me refrigera o corpo
Do sopro ardente da Terra
Envolta em guerra

Acordo
De madrugada
Na frialdade da noite iluminada
Pela luz cósmica das estrelas
Que espargem espiritualidade

A geada
Prateada
Da verdade
Não me deixa dormir

Flutuo no nada
Demente que estou
Com a mente perturbada

Que virá a seguir?

 

in Angústia, Razão e Nada

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A diva


 
 
Olho-a em silêncio

Ouço a melodia
que ecoa
por mim a dentro

Com o seu canto
me encanto

Canção calada
música encantada
da qual
quase não nada
ouço

Bailo
enlevado
levado na fantasia

Acordo
ao último acorde
e aplaudo

E lavro
em poesia
este laudo

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Elegia de Outono


 

Há roseiras a rosir

agora pelo Outono

frágil entono

quando as romãs começam a rir

e os ouriços no alto dos castanheiros

altaneiros

quase

quase

a parir

 

E as andorinhas

a partir

 

A atmosfera

e os campos

ensaiam simulacros de Primavera

por todos os cantos

mas a cor dominante não é o verde fulgurante

pintalgado de papoilas e malmequeres

e da sensualidade desnuda das mulheres

 

São tons quentes de castanho

de folhas amarelecidas

que se vão desprendendo pelo vento

de árvores entristecidas

simulando alegria

em derradeiro arreganho

que é  lamento

elegia

pura poesia

 

Só as mães

depois que lhe morrem os filhos

não voltam mais

a sorrir

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 23 de Setembro de 200920101011

Henrique Pedro

 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Escrevelendo


 

Quando escrevo
leio
e quando leio
escrevo

Na mente
em segredo
não é devaneio
nem minto

Assim
num de repente
leio
releio
reescrevo
e transcrevo
a Natureza
o Cosmos
o que vai dentro de mim

Primeiro leio o que sinto
ou o que se passa à minha volta
e é o que leio
que escrevo
se me anima
acalma
revolta
ou induz estima

E sempre leio
e releio
o que escrevo
e também escrevo
quando leio
o que os outros escrevem

Leio
e escrevo na mente
ou no coração
embora não com a mão
o que os outros escrevem
para que eu leia
e que algo me diz a mim

Assim me enleio
a escrever
e a ler
em tudo que “escreveleio”

Não aprendemos a ler
primeiro
e depois a escrever

Sempre aprendemos a “escreveler”

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O amor e a imaginação


 

Só pela imaginação
não vai a lado nenhum
o homem

Não chega sequer a sair
da sua própria mente

Só pelo amor
o homem sai de si
chega aos outros
os toma
e retorna

Só pelo amor penetra no seu ser
na sua razão de ser
aprende a amar
e a sofrer

Só pelo amor
desta arte
vai o homem
a toda parte

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Como pode a vida ter por fim a morte?


 

 

Como pode a vida ter por fim
a morte?

Ainda que o fim da vida
seja morrer?

Se viver
é uma caminhada interior
por mundos de dor
e de amor

Por espaços abertos
de ideias
e de afectos
a meias com o mundo exterior

É vencer montanhas de glória
de derrotas sem história
selvas de ambição
desertos de sonhos
pântanos de frustração

Sem se poder parar
ou sequer descansar
porque o coração não pára de bater
nem o cérebro de pensar
nem a alma de sentir

Se morrer é apenas desistir
de acreditar

E viver é libertar!