quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Fogo-de-artifício nuclear
Andam agora os homens a forrar o céu
com aviões
satélites
luzes de néon
rastos de luz e de fumo
Presumo que pretendem tapar o Sol com uma peneira
apagar as estrelas
soprar as nuvens
e aprisionar cometas
Já os políticos histriónicos
se julgam donos do Sistema Solar
como se as estrelas estevessem ali
à sua mão de semear
Queira Deus que tudo não termine num sopro de ferro incandesce
num monumental fogo-de-artifício nuclear
tendo como música de fundo um acordeão atómico
coro de demónios a bailar
Oh, tanta mente demente!
Que sacrifícios agónicos iremos nós penar?
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
De barro e poesia
Com barro
bruto o Criador criou o homem
Insuflando-o
com a divina poesia
Para
Sua simples recreação e alegria
E
sem as dores que ora aos mortais consomem
Porém,
tais graças com a poesia eclodem
Que barro
vil, por Deus soprado, ganhou vida
Animou
Adão e fez Eva apetecida
Dos
maiores deleites que na Terra ocorrem
Ao
barro, porém, nosso corpo retornará
Finando-se
dores e prazeres com a morte
Só a
mais pura poesia se salvará
Assim
livre da matéria e da má sorte
O
homem, com poesia, a Deus louvará
E
amará, como Deus quer, Eva, a consorte
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
Terra Mater
Enlevam-se
o meu olhar e o meu coração
Neste
doce mar de oliveiras prateadas
Meu bendito
berço de mil colinas encantadas
Toma-se o
meu ser da mais santa comoção.
Bandos
de aves livres voam em livre formação
Pela branda
brisa do cair da tarde embaladas
São pela
nossa Mãe Natureza abençoadas
Dão asas
e graça à sua natural paixão
Terra sem
igual sagrada pela oliveira
Aspergida
por espiritual quietude
É
ganha-pão de gente simples, pura e ordeira
Que nos úberes
vales de rio e ribeira
Cultiva sua
grata agrária virtude
Assim
haja paz igual na Terra inteira
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
Quando a minha alma em mim anda perdida
Estou só
Na casa
vazia
televisão
acesa sem som
silêncio
denso
constrangedor
Um cálice
de vinho do Porto
semivazio
sobre a mesa
sobre a mesa
Meio morto
bebo
e encho
de novo o cálice da ansiedade
Mergulho
absorto
mais e
mais
na mais
amarga solidão
amálgama
de filosofia, poesia e ansiedade
Descubro
com
emoção
que
existo
e que a
minha alma em mim anda
perdida
Não sei
que lugar ocupo na humanidade
Mas eis que o
telefone toca!
É quem me
ama que me chama!
Emerjo
na piscina da
alegria
qual campeão
olímpico
ovacionado
pela multidão
em mil imagens
de caleidoscópio
Agradeço
os aplausos
Aplaudo-me
a mim próprio
sábado, 18 de novembro de 2017
A poesia de amor não passa de uma farsa
A poesia de amor não passa de uma farsa
de uma momice
de uma doce aldrabice
De uma mistificação rimada
declamada
cantada
decantada
e nem sempre bem-intencionada
A poesia de amor é um fingimento de sentimento
uma perda de razão
É um chorrilho de fantasias e falsidades
de meias verdades
de falsas alegrias
de piruetas e caretas
de esgares próprios da paixão
A poesia de amor não passa de uma farsa
com que o poeta
com versos perversos se disfarça
A poesia de amor é um paradoxo
uma desgraça
um meio pouco ortodoxo
de redenção
A poesia de amor é uma sublime encenação
Vale de Salgueiro, quarta-feira, 14 de Março de
2012
Henrique António Pedro
terça-feira, 14 de novembro de 2017
No reverso do universo
Nada do que sonho
ou imagino
existe em lado nenhum
Dentro de mim há
miríades de outras entidades
ideias
sonhos
fantasias
angústias
irrealidades
que eu não consigo
expressar em nenhum dos poemas que escrevo
porque não existem na
Terra
no umbigo do Sistema
Solar
o mundo de verdade
Eu vivo no reverso do
universo
É esta a raiz da minha
crónica ansiedade
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