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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

O amor não tem asas mas voa

 


Um par de pombas enamoradas

pôs-se a dançar danças de amor

despudoradas

de fronte da minha janela

por certo para me provocar

 

Fascinado

deixei-me ficar com cautela

qual aprendiz enlevado

calado

a vê-las dançar

entrelaçadas

em feliz liberdade

 

A pousar e a levantar

a voar

adejando com graciosidade

a vencer a gravidade

 

De pronto me imaginei a dançar com elas

e me pus a pensar:

Porque não nos deu asas

o Criador?

 

E fez também do homem um ser voador

para assim poder melhor amar a mulher amada

também ela alada

e ambos a voar se poderem amar?

 

Porque não são precisas asas

para amar

assim à toa

 

Porque o amor não tem asas

mas voa

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 1 de Maio de 2009

Henrique António Pedro


 

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Não vá o poeta além do poema

 


Diverte-se a escrever poesia com o olhar

para eu ler na minha imaginação

 

A soprar palavras e perfumes

que sabe ateiam lumes no meu coração

 

Eu fico aflito por não saber se é lícito

o terno erotismo que leio

nem donde veio

aquele seu interesse por mim

 

Peço-lhe que seja mais explícita

ainda assim

que se deixe de cinismo

 

Que me mostre que não sofro de daltonismo

que me belisque

que pouse a sua a mão no meu coração

 

Responde-me com crueldade

fazendo valer a sua falsa verdade

dizendo-me que é apenas poesia

uma sua e minha divertida fantasia

o que de facto condiz

 

E ainda mais circunspeta me diz

que não vá o poeta além do poema

 

De pronto

sem condição

como que por magia

este tonto dilema

vira pura contemplação

 

Vale de Salgueiro, domingo, 13 de Março de 2011

Henrique António Pedro

 


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Aos derradeiros guerreiros do Império

 


O  Império derradeiro da História

Que agora se esvai na memória

Os imolou

Sem lamento

 

E com eles se sepultou

No ataúde comum

Do esquecimento

 

Em lugar nenhum

 

Negros, brancos, amarelos

Sacrificados agnelos

Morreram de pé

Nas matas de Moçambique e de Angola

Nas olas da Guiné

Trespassados de balas

 

E por lá ficaram defuntos

Abandonados

Esquecidos

Insepultos

 

Que evangelho ou sortilégio

Que adulterada verdade

Que insana vontade

Que espúrio desígnio

Que místico saltério

Lhes traçou o destino

E os abandonou assim?

 

Sem choros

Ilusões

Raivas

Risos

Ou ranger de dentes

 

Apenas os corações penitentes

Distantes

De quem os amava

Pais, irmãos, amigos, amantes

A bater frementes

 

Ceifados na flor da idade

Viveram com frenesim

A sua trágica mocidade

Os derradeiros guerreiros

Do Ultimo Império da História

 

A pátria eterna os engrandece

E sente

A nação presente os desmerece

E esquece

 

A sua vida é uma vitória!

 Inglória!

Ainda assim


 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 26 de Março de 2009

Henrique António 


 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

O último grito de Cristo na Cruz

 


O Seu último grito

Divino lamento

Não o soltou Cristo

Crucificado

No Calvário

Na Jerusalém daquele tempo

 

Ainda há pouco eu o ouvi

Muito bem

Em frenesi

Quando angustiado com o sofrimento

Que assola o mundo inteiro

Subia solitário a íngreme ladeira

Do Senhor dos Aflitos de Vale de Salgueiro

 

E desalentado com tanta canseira

Lhe perguntei:

- «Será preciso, Senhor que sofras Tu e nós muito mais?!

   Que soframos nós e Vós ainda mais?!»

 

De pronto o Crucificado me respondeu

Tão angustiado como eu:

- «Não, não! Eu sofro por vós

  Vós só precisais de amar mais

   e mais

   e mais!»

 

Vale de Salgueiro, 7 de Novembro de 2008 

in Angústia, Razão e Nada (Editora Temas Originais-2009)


sábado, 23 de janeiro de 2021

A Santa Liberdade

 


(No dia mundial da Liberdade)

 

Liberdades há muitas.

E de muita cor

Muitas são mantas de retalho

Que não dão qualquer agasalho

E na verdade

Raras rimam com felicidade

 

 

Santas?! Nem tantas!

Duvido até que as haja

 

A melhor de todas, para mim, ainda assim

Não é dada por um qualquer ditador.

 

Prefiro a minha, porém

Eu que sou livre como o pardal pequenino

Que faz ninho no meu beiral

A lembrar-me que fui livre, sim

Quando era menino

Sem saber o que era prazer

E dor

Mal e o bem

 

Quando o mundo era tão pequenino

Que eu nem o via

Sequer dele me apercebia

Porque liberto sonhava

No céu aberto de amor

No seio de minha mãe.

 

Quando acabado de nascer

Ela me embalava

No berço do Criador

Sem eu me aperceber

 

Vale de Salgueiro, 23 de janeiro de 2021

Henrique António Pedro



quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Quando a minha alma se ausenta para viajar

 


Quando a minha alma se ausenta para viajar

Há momentos em que nada sinto a doer
nenhuma espécie de dor

nem frio nem calor
nenhum desejo
nenhum motivo de prazer
nenhuma angústia
nenhuma ansiedade

nem antevejo nenhuma contrariedade


Momentos em que a minha proverbial amargura
anda fora

pela rua
e eu desisto de encontrar a verdade

Momentos em que a minha indiferença é tamanha

que me chega a parecer estranha


Que será que aconteceu?
Que estará para acontecer?

Não sei nem quero saber

 

A envelhecer ando desde que nasci
morrer ainda não morri
e a vida até me sorri

Talvez seja isso mesmo

isso tudo

nada de isso
ou não seja coisa nenhuma

Talvez seja só espuma de poesia
nem tristeza nem alegria
pura fantasia
sem os habituais dilemas

Talvez seja só a minha alma

que se ausenta para viajar
mas deixa a consciência em “stand by”

E como nada entra ou sai

do coração
a razão põe-se a regurgitar poemas

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 7 de Maio de 2010

Henrique Pedro

In “Introdução à Eternidade”

 

Quando l’anima mia si assenta per viaggiare

(Tradução para italiano por Manuela Romano)

 

Ci son momenti in cui nulla mi duole

nessuna specie di dolore

né freddo né calore

nessun desiderio

nessun motivo di piacere

nessuna angustia

nessuna ansietà

né prevedo nessuna contrarietà

 

Momenti in cui la mia proverbiale amarezza

se ne va

per la via

e io rinuncio a trovare la verità

 

Momenti in cui la mia indifferenza è così enorme

che giunge ad apparirmi abnorme 

 

Che mai sarà accaduto?

Che starà per accadere?

Non so né lo voglio sapere

 

Ad invecchiare mi avvio da che son nato

morire ancora non son morto

e la vita fin qui mi ha sorriso

 

Sarà forse proprio questo

tutto questo

niente di questo

o non è niente del tutto

 

Sarà forse solo schiuma di poesia

né tristezza né allegria 

pura fantasia

senza i soliti dilemmi

 

Sarà forse solo la mia anima

che si assenta per viaggiare

ma lascia la coscienza in “stand by”

 

E siccome nulla entra o esce

dal cuore

la ragione si mette a riversar poemi