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sábado, 10 de abril de 2021

Sinfonia do fim do mundo


Começará lá pelo extremo Oriente

por certo

pelo fim do mundo distante

ao som de harpas

uivos de vento e trovões

rugidos de leões

gritos de gente demente

não aqui por tão perto

 

Terei tempo de me pôr a salvo

antes da hecatombe aqui chegar

e de o tudo reduzir a nada

e o nada a coisa nenhuma


E se por ventura não acontecer já na próxima alvorada

voltar-me-ei, então, para poente

e louvarei o Criador

como sempre

 

Ele que pôs o Sol a girar com formosura

conferiu à Terra a sua diária rotação

e a mim me põe a sonhar sonhos que ninguém sequer

será capaz de imaginar

ou sentir em seu coração

por maior que seja a loucura

 

Pedir-Lhe-ei que se um dia

decidir pôr termo a esta insana Civilização

que a tantos faz sofrer

o faça com brandura e poesia

sem dor

ao som de uma sinfonia de embalar

com mil coros de anjos a cantar

para os justos adormecer

e salvar

o Amor

  

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 15 de Junho de 2009

Henrique Pedro


quarta-feira, 24 de março de 2021

A Virtudes





Era a mais bela criatura da minha geração

um prodígio de beleza e candura

não tinha comparação

 

Chamava-se Virtudes

e não era por engano

porque era amorosa que nem uma rosa

de angelical formosura

e até a tocar piano

era virtuosa

 

Pinga amor, eu?

Não, não!

 

Mas, oh…com que ardor por ela me apaixonei

e com tanta elevação a amei

mesmo se admitir que mutuamente acabamos por nos possuir

como, de facto, aconteceu

 

Porque a rosa da Virtudes um dia me sorriu

e sabe-se lá porque razão a ideia de pecar floriu…

 …no meu coração, que no dela…

primeiro terá ganho tal feição

 

Ainda hoje estou em crer

que o amor mais comum em toda a latitude

que mete beijos e abraços

e sexo

poderá também ter um nexo de virtude

de meiguice

e não ser apenas cega paixão

malandrice

desilusão

 

Isso aprendi com a Virtudes

com quem o acto de amor era um sonho

de demorados e etéreos espasmos

sem sombra de maldade

ou de imoralidade

 

Para lá do epílogo menos decoroso

composto de gritos de gozo

síncronos de orgasmos

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 19 de Novembro de 2008

Henrique António Pedro



domingo, 21 de março de 2021

Que viva a poesia!


Que viva a poesia

esta infinita vontade interior de amar

cantar

dar e receber

e com amor adoçar o sofrer

 

Que expluda em alegria o desejo de ser livre

de abrir os braços ao sol nascente

e espalhar abraços por toda a gente

 

Que resplandeça de poesia

o mar de amor que há em nós

 

Que viva a poesia

este encantamento do pensamento

ideia de partilhar o nosso ser

com a Terra inteira

 

E que a partir daqui de agora

deste lugar e deste país

seja de onde seja

tanto faz

com emoção se ouça a voz do coração

o grito da paz

 

Que viva a poesia

esta inexplicável tropia

esta fantasia verdadeira

de que a Humanidade

por força da verdade

virá um dia a ser una

livre

feliz

inteira

 

Vale de Salgueiro, domingo, 1 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro


sexta-feira, 19 de março de 2021

Missiva póstuma para meu pais


Pai!

 

Gostaria de vos poder dizer

de viva voz

a ti e à mãe

que continuais bem vivos

no meu amor

e na minha fé

e que a minha lembrança de vós

não se esvai

continua viva

bem de pé

 

Muitos dos meus sonhos ainda não se realizaram

e outros já ficaram pelo caminho

depois que partiste

mas eu continuo a acreditar

e a sonhar

 

A esgaravatar a terra com as mãos

e humildade

como me ensinaste

 

As árvores que plantaste

e outras que eu plantei depois

estão vivas e bem firmes em seu pé

cresceram desmedidamente

e até já dão frutos de verdade

e esperança

 

Eu continuo a escrever versos lindos

como aqueles que escrevia

e lia

à mãe

que os escutava embevecida

quando eu ainda era criança

e a quem

também envio

uma flor

porque sois um só

no meu infinito amor

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 4 de Maio de 2012

Henrique António Pedro


quarta-feira, 10 de março de 2021

Fartos de fome


Os donos do Mundo vivem famintos

 

Famintos de poder

prazer

riqueza

e vanglória

 

Os famintos de pão

esses

morrem de tristeza

 

Fartos de fome

sem compaixão

nem misericórdia

 

Não há mentira capaz de enganar

tão vera verdade

 

Fartura capaz de saciar

tão crua penúria

 

Ciência capaz de curar

tão fria epidemia

 

Ideologia capaz de abafar

tão sinistra hipocrisia

 

Revolta capaz de branquear

tão negra injustiça

 

A dor e a miséria alastram por toda a Terra

a Humanidade morre farta de guerra

de ódio

opróbrio

 de falsidade

 

Faminta de verdade

de paz

e de amor

 

Só o amor-luz de Cristo Jesus

a poderá salvar

 

Vale de Salgueiro, sábado, 24 de Julho de 2010

Henrique António Pedro


sábado, 6 de março de 2021

Confinados nos confins da Razão

 



 

Entregue à sua própria maldição

Está a Humanidade confinada

Nos confins da Razão

 

Esperançada, embora, na complacência da ciência

Que a livre da miséria e da guerra

Do vírus e do vício

 

Oh, que avassaladora demência

Converteu a Terra num hospício!

 

Sem outra condição

Que não seja a contradição

Entre o progresso e a morte

 

Que procure outra melhor sorte

Outro mais feliz devir

Que não seja viver para morrer

 

Só o Amor, porém, lhe poderá valer

Se o Espírito a Deus se abrir

 

Haja clemência, Ó Criador!

 

Vale de Salgueiro, 28 de Abril de 2020