Entrei
no templo mais escuro e distante para me confessar
como
manda a religião
Por
meu livre alvedrio deixei os pecados mais leves à porta
e
avancei na obscuridade
arrastando-me
no lajedo frio como se condenado ao degredo
tal
o peso que me curvava dos pecados mortais
Não
encontrei padre algum, porém, para me ouvir em confissão
pelo
que apelei ao Papa mas também ele estava ocupado a pecar
Apenas
um santo ermita guardião postado à saída
me
aspergiu com água benta e me disse
que
só pecam os anjos e os cidadãos banais
os
donos do mundo não pecam porque cumprem o seu mister
que
é pecar
Aqui
e agora por isso me confesso publicamente
a
vós irmãos
E
se vós me perguntais de que pecados me confesso
direi
apenas que ando no mundo por ver andar os outros
os
meus pecados são iguais aos vossos
tantos
e tais como os demais
Quem
nunca pecou que me atire a primeira pedra, portanto
ainda
que eu não duvide que algum de vós seja santo
Vale de Salgueiro, 2 de março de 2017
Henrique António Pedro