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quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Uma certa Maria


É uma certa Maria

não é uma Maria qualquer

haja embora quem sorria

de inveja

e de desdém

pois que seja

muitos mais lhe querem bem

 

Nada nela é fantasia

tudo de bom ela tem

mas não é dela

Maria

tudo o que dela se quer

antes de tudo Maria

é sim

e só

mulher simples

e mãe

 

Dela é só a simpatia

e a alegria

de fazer bem

tanto que de olhos fechados

a todos deixa enamorados

 

Para mim

dessa Maria

apenas quero a poesia

e que se saiba

que lhe quero muito bem

 

Vale de Salgueiro, domingo, 5 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

À janela, a ver chover


Postado à janela

cismado

a ver chover

sem ter que fazer

nem para onde ir

entristeço

 

Nos campos sente-se a erva medrar

com tanto calor

e humidade

 

Os cães pararam de latir

os pássaros deixaram de voar

esmoreço

desolado

a ver

chover

no molhado

 

Há dias assim

sem alegria

nem beleza

dias em que a própria poesia

induz tristeza

nostalgia

 

Amiúde deito a cabeça de fora

para espreitar o céu

com desejo de partir

 

E assim me vou embora

sem sair

deixando-me ficar onde estou

até mais ver

 

Sem ter para onde ir

sem nada ter que fazer

fico à janela

cismado

a ver chover

 

 

Vale de Salgueiro, domingo, 29 de Maio de 2011

Henrique António Pedro

 

sábado, 19 de outubro de 2024

A vida só tem sentido se poesia tem



Valeu a pena ter lutado

se o combate se perdeu?

 

Ter jogado

se o jogo se não ganhou?

 

Ter acreditado

se tudo se frustrou?

 

Ter amado

se amado se não foi?

 

Vale a pena viver se acabamos por morrer?

 

Tudo vale a pena e tem sentido se com amor se viver

 

A poesia só vale a pena e tem sentido

se o poeta ousar viver

e procurar a razão de ser e de sofrer

a melhor forma de mais amar

e de bem-fazer

 

A poesia só vale a pena e tem sentido

se o poeta se não dá por vencido

e com seus versos a si se liberta

e a mais alguém

dá liberdade

também

 

A vida não perde sentido na morte

nem na má sorte

e a poesia só perde a razão de ser

se o poeta ousar esquecer o coração

 

A vida só tem sentido se poesia tem

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 08 de Maio de 2014

Henrique António Pedro

 

 

 

 

terça-feira, 15 de outubro de 2024

A Lei Maior do Amor


Aprendi

no muito que já amei e sofri

que o amor e a alegria

assim como a poesia

são potenciados

se partilhados

 

E que o expoente da potência que os potencia

é igual ao número daqueles

com quem amor

alegria

e poesia

se partilha

 

Inversamente

a paixão

reduz-se a dois

que se não ousarem a mais alguém amar

acabarão por se separar

e sofrer

depois

 

É por isso lícito pensar

que sem partilha não há amor

podendo

embora

a paixão acontecer

e mais nos fazer sofrer

 

E também que se alguém se atrever

à Humanidade bem querer

com todo o seu coração

e por ela se fazer amar

acontecerá, então

a Iluminação

 

Esta a Lei Maior do Amor

que em Jesus Cristo

tem o seu maior esplendor

 

Isto eu aprendi

no muito que já amei e sofri

 

Vale de Salgueiro, sábado, 23 de Agosto de 2008

Henrique António Pedro

 

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Que princípio nos faz nascer e morrer e com que fim?


Não me custa entender

custa-me sim aceitar

que tudo que tem princípio

tenha que ter fim

que o mesmo é para quem vive

morrer

 

Mais me apraz admitir

ainda assim

que tudo que tem princípio

deva ter um objectivo

uma finalidade

em boa verdade

um fim

 

Não

simplesmente

fim

 

Sendo que o meio

de permeio

 é um grande anseio

 

Que princípio então

nos faz nascer

e morrer

e com que fim?

 

Que princípio então

nos faz nascer

e morrer

e com que fim?

 

E estará o princípio no fim

ou o fim no princípio?

 

Só o sabe Deus

Deus

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 13 de Julho de 2010

Henrique António Pedro

 

 

domingo, 6 de outubro de 2024

Risco um verso, acende-se um poema



Risco um verso

acende-se um poema

e mais se ateia a lareira da saudade

 

Assim de coração ao fogo exposto

as labaredas lambem-me o rosto

com o calor ardente da verdade

 

São troncos secos da minha história

achas da minha memória

que ardem

e me aquecem sem me queimar

lembranças de amantes que me enlaçam

inebriantes

 

São chamas

hologramas que me vêm beijar

e aquecer o coração

 

Estendo-lhes a mão para as acariciar

 

São quimeras

que aparecem

aquecem

e logo desaparecem

 

Apenas deixam o dilema

a essência do fogo

e a cinza quente do poema

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 24 de Novembro de 2008

Henrique António Pedro