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terça-feira, 5 de junho de 2018

Presságio sibilino



Numa noite gélida de Inverno

de corpo a coberto da geada cortante

pelo calor de mantas e lençóis

que é quando melhor o sono sabe!

 

E no Firmamento esférico

pequeninos sóis cintilantes

iluminam visões de irrealidade

 

E como o espírito nunca dorme

mesmo se a mente adormece

sonhei um sonho feérico

colorido como o tecto da Capela Sistina

e palpitante de vida como as figuras irreais

que os geniais pincéis de Miguel Ângelo

ali pintaram para a posteridade

 

As cinco Sibilas me falaram, no sonho, uma a uma

misteriosas e belas como se impunha

 

Falou primeiro, Ciméria, sacerdotisa de Apolo

que me disse com voz firme e grave:

- O verdadeiro problema da Humanidade

  não é o aquecimento global ou o carvão!

 

E a segunda foi Prisca, a Eritreia

que disse tão enigmática como a primeira:

- Nem a escassez de alimentos!

 

E a terceira foi Dafne, a Délfica

por sua vez mais estranha que a segunda:

- E muito menos a desertificação!

 

E a quarta foi a sibila Líbia

que disse mais enigmática que a terceira:

- Também não é a guerra!

 

E a quinta foi Sambeta, a Pérsica

também ela misteriosa e séria:

- Nem sequer o moderno terrorismo!

 

Levantei a voz, perplexo, para as interpelar:

- Fazeis jus ao nome, sois enigmáticas e sibilinas!

  Quais são então os problemas da Humanidade?!

  Qual é a vossa verdade minhas meninas?!

 

Responderam-me as cinco de pronto

em uníssono e sibilino coro:

- Os verdadeiros males da Humanidade

   que ameaçam converter a Terra

   num planeta estéril e vazio

   e desabitado como Vénus e Marte

   são a Mentira insidiosa

   que mata a Verdade e mina a Civilização

   a Ganância desenfreada

   que deixa a maior parte sem pão

   porque tudo quer e não respeita nada

   o Vício generalizado

   que mata o corpo e embrutece a mente

   a Vaidade demente

   que divide e humilha toda a gente

   e a Intolerância cruel

   que escraviza e endurece o coração

 

Céptico e entristecido redargui desta sorte:

- Muitos humanos lutam para se libertar

   para ter tempo de viver e amar

   mas nenhum sobrevive à morte!

 

Então as cinco esfíngicas figuras cantaram

em tom grave, pausado e melodioso

este presságio cruel que me fez acordar:

- Todos vós, humanos, sobrevireis à morte

   porque sois Corpo mas também Espírito

   e o Espírito é eterno e nunca morre!

   Mas nem todos vós vos libertareis da dor

   e alcançareis o estado de pleno Amor

   antes ou depois de morrer

   por não ser esse o vosso querer!

   Tratai que uma vaga de Amor e Verdade

   avassale toda a Humanidade!

   e salvai a Terra, se a vós vos quereis salvar!

 

Vale de Salgueiro, 29 de Janeiro de 2008

Henrique António Pedro

 



5 comentários:

  1. Tenho a mais absoluta convicção que terei um sono pleno de sossego e de muita paz, pois esses versos trouxeram-se esperança e assim estou muito grato.

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  2. Pensamento profundo e adequado ao q se vive agora!

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  3. Respostas
    1. Agradeço a simpatia da sua visita e a generosidade de suas palavras, distinta amiga Thereza.

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  4. Apesar de surpreendentemente proféticas e enigmáticas, as palavras soaram-me séricas aqui, assim, quando moldaste-as em poesia. Cumprimento-o!
    Aquele abraço carioca!

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