Agora outros galos cantam pela madrugada
O
relógio da sala tocou a nota musical introdutória
com
poesia
embora
igual para todas as horas certas
ou
incertas
(os
quartos e as meias têm outras melodia)
e
depois deu doze sonoras badalas
espaçadas
metálicas
marteladas
Entristece-me
que os mestres relojoeiros de relógios analógicos
não
hajam construído mais relógios zoomórficos
para
lá dos cucos a que damos corda
para
que continuem a cucar
mesmo
que não seja à hora certa
e
o seu canto
pela
certa
não
vá ninguém
acordar
Concorrendo
com os modernos “timers” digitais
dos
anúncios de néon feéricos nas avenidas
de
dígitos a piscar no ar
virtuais
com
quantas casas decimais se pretender
em
consonância com o que se quiser comprar
ou
vender
Preferia
ouvir os relógios analógicos badalar
em
contraposição à insana inovação
que
põe milhares de relógios digitais a piscar
por
toda a parte
acelerando
ainda mais o tempo
e obrigando
as pessoas a correr
ainda
mais
Ainda assim
quanto a
mim
todos acabamos
por andar
dessincronizados
com o Cosmos
Por isso
preferia ouvir os relógios analógicos badalar
crocitar
cucar
e porque
não
balir
para me
despertar
pela
madrugada
Como
quando era o galo
madrugador
que com seu
estridente estertor
anunciava
a alvorada
in Anamnesis (1.ª
Edição: Janeiro de 2016)
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