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terça-feira, 17 de junho de 2025

O Universo tem o tamanho e a forma de um verso


O cosmos é o caos

a vida uma ilusão

a felicidade uma frustração

e o universo de tão enorme

e disforme

é do tamanho de um verso

 

O amor é uma flor

e a Terra

o céu prometido

o paraíso perdido

 

A dor

é aberração

o sofrimento

um contratempo

a paixão não tem sentido

 

Eu

um vagabundo

que muito mundo já vivi

amei

e sofri

e continua sem se entender

 

Nem a si

nem a mim

nem a ninguém

 

A quem nada mais resta que mais viver

mais amar

mais sofrer

e procurar nada deitar a perder

 

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 12 de Outubro de 2009

Henrique António Pedro

 

sábado, 14 de junho de 2025

A minha proposta de Amor


O sentido bom de olhar

é ver

de escutar é ouvir

de tactear é sentir

de saber é entender

de gozar é ser feliz

de desejar é ser desejado

e de amar

é ser amado

 

Do Amor eu não desisto

ainda que amar possa levar à dor

à abstenção da desmedida paixão

 

Por isso a minha proposta de Amor é amar

porque mais importante que a própria vida

é a Iluminação

 

Mirandela, 3 de Abril de 2004

Henrique António Pedro

sábado, 7 de junho de 2025

A felicidade, hoje em dia



A felicidade hoje em dia

oh, que estranha poesia!

É um produto de consumo

em resumo

como outro qualquer

 

Compra-se a pronto ou a crédito

como bem aprouver

como tantas outras ilusões

também poderá ser paga

em suaves prestações

 

Esta linguagem metafórica

encerra uma verdade histórica:

Devemos seguir a preceito

cumprindo o código da estrada

de alma bem oleada

mesmo nos momentos de dor

o melhor óleo para o efeito

chama-se…

Amor

 

Seguindo em frente devagarinho

por nós adentro

sem outro contratempo

talvez encontremos Deus

numa volta do caminho!

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 6 de Outubro de 2009

Henrique António Pedro

 

 

terça-feira, 3 de junho de 2025

Serei só eu a sonhar?!


Eu não valorizo o que escrevo

faça-o no vento

na água

no tempo

ou noutro meio qualquer

  

Muitas vezes nem sei o que digo
o que faço
ou semeio sem querer

ainda que tudo que escrevo tenha um fim

e um sentido

Gostaria de saber sim

as mil coisas que outros leem

naquilo que escrevo

com enlevo


Cada um à sua maneira
seja qual for sua cor
a sua bandeira

a sua graça

ainda que o lendo

se faça desentendido

A mim
basta-me pensar
que cada novo verso

que eu publicar

por mais bisonho

abre um novo universo

que irá povoar

com um novo sonho

 

E que assim sendo

não serei só eu

a sonhar

Vale de Salgueiro, terça-feira, 22 de Junho de 2010

Henrique António Pedro


sexta-feira, 30 de maio de 2025

A minha alma é o tudo todo que sou eu


A minha alma tal qual eu a sinto

não é branca

ou negra

etérea

transparente

deliquescente

ou sequer vaporosa

 

Tão pouco é uma luz interior

magenta

alada

prateada

cor-de-rosa

ou cinzenta

 

A minha alma é um vórtice de amor dentro do meu ser

que anseia tudo envolver ao redor

ao som da cósmica melodia sinfónica

 

É a vontade de com verdade

abraçar a Terra inteira

o Céu, as Estrelas e as Galáxias

o Universo intemporal

e tudo devolver à vida

em explosão sideral de amor

 

A minha alma tal qual a sinto

e pressinto

é um sopro de sentimento

um emaranhado novelo de afecto

e pensamento

 

É a radiação do meu cérebro que afago com a mão

ao ritmo do pulsar do meu coração

 

A minha alma tal qual eu a sinto

sou eu

 

São os meus eus que animam o meu corpo

feitos vento

a voar para Deus

Universo fora

Espírito adentro

 

A minha alma tal qual eu a sinto

é o tudo todo que sou eu

 

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 16 de Abril de 2009

Henrique António Pedro

 

sábado, 24 de maio de 2025

Ego sum qui sum!



São os meus pensamentos

afectos e sentimentos

minha força de amar

que põem o Universo a pulsar!

 

Ser ou não ser

não é a questão

mas antes saber

se sou ou não ilusão

 

in Minha Pátria Montanha Minha Pátria Montanha

(Editora Ver o Verso-2005)


quinta-feira, 22 de maio de 2025

Pesadelos e Pedras de Sonhar


Sinto o corpo levitar

sem da alma se separar

 

Agarro-me a mim mesmo

em desespero

sinto medo de ainda assim me ver

a voar

qual pedra a flutuar

no ar

 

Penedos tredos

medos pesados

enormes

disformes

em mil imagens

e miragens

em nuvens negras

projectados

 

Pesadelos

sonhos enfadonhos

que rasgam a Razão

explosão

que implode o coração

 

Antes fossem folhas

pétalas

penas

etéreas como o pensamento

que a mais leve aragem

o mais brando vento

faz voar

 

Mas eu sou corpo e sou espírito

sem me angustiar

cristão constrito

pedra de altar

em que a minha vida

dorida

se irá consumar

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 29 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro

terça-feira, 20 de maio de 2025

Amor de Maio


Agora que entrou Maio

langoroso, sensual e perfumado

lembro

saudoso

e sorrio

com agrado

 

A pantera cor-de-rosa

que eu acariciava

temeroso

deliciado

 

No prado

ameno

à beira rio

marchetado de malmequeres

 

Reclinava a cabeça no meu peito

amorosa

a jeito de que eu a pudesse mimar

com a juba odorada de feno

a esvoaçar

 

A sua mão era a brisa

que me abria a camisa

e me convidava a voar

 

Agora que entrou Maio

langoroso, sensual e perfumado

lembro

saudoso

e sorrio

com agrado

 

Vale de Salgueiro, sábado, 1 de Maio de 201020130506

Henrique António Pedro

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Daqui, do infinito


Aqui onde estou

no tempo em que vivo

é onde a eternidade começa

e o infinito se inicia

 

Vivesse eu noutro tempo

em qualquer outro lugar

com ar para respirar

e cérebro para pensar

sentiria a mesma sensação

o mesmo aperto de coração

o mesmo lapso de Razão

 

Arrasto comigo o infinito

e a eternidade

para onde vou

 

Existo no Infinito

 

Vivo na eternidade

 

Henrique António Pedro

Vale de Salgueiro, 12 de Maio de 2025

 

 

 

quarta-feira, 7 de maio de 2025

A Vida, A Morte e o Amor “Post Mortem”


Entristeço

percebo que envelheço

 

Não tenho ideia de morrer

muito menos de matar

sinto-me cada vez mais vivo

com mais vontade de amar

 

Acordo

 não mais adormeço

 

Nasci para viver e amar

no ventre de minha mãe

alimentado de amor e leite

deleite do seio materno

se é que o Amor não vem dantes

de muito mais dalém

 

Se assim for sou eterno

 

Vivo vida aventurada

feita de dor, paixão e ilusão

amor, morte e mais nada

 

Agora me dou conta

melhor professor é a dor

sobretudo o sofrimento

que nos corrói por dentro

 

Tomei por amor a libido

apaixonei-me vezes sem sentido

amei com sofreguidão

dominei amantes fogosas

cavalguei ondas alterosas

escalei montanhas escarpadas

veloz voei pelos ares

acelerei nas estradas

 

Embebedei-me de adrenalina

jurei pelo Evangelho

guerrear pelo Império

bati-me pela Verdade

conspirei pela Liberdade

senti saudade em surdina

vivi ansiedade e ambição

sofri a euforia da paixão

 

Sorri e chorei

perdi e ganhei

 

Melhor percebo também

a Natureza nossa Mãe

nunca está triste ou alegre

mesmo ao Inverno resiste

sou eu quem entristece

perco alento por fora

alimento-me por dentro

 

Se afrouxa a pulsão sexual

perco o amor-próprio

a predisposição para o mal

desperta o amor por mim

 e pelos outros ainda assim

por tudo que me rodeia

qual doce melopeia

quase auto compaixão

 

Por cada paixão que morre

mais o Amor se incendeia

 

Aprisionei fortes vendavais

tornei-os brisas amenas

substituí por novas alegrias

velhas e tristes penas

transformei o fogo do Sol

em doce Lua-de-mel

o aroma da sensualidade

no perfume da Amizade

adocei montanhas em colinas

fiz as vagas alterosas

vir beijar

de mansinho

as areias da praia

 

Ampliei a luz das estrelas

para iluminar de espiritualidade

o caminho infinito da Eternidade

 

Converti paixões em Amor

força que não obedece ao Cosmos

ao Caos

ao inferno

e nos leva de retorno a Deus

ao Eterno

 

Interrogo-me sobre a vida e a morte

sobre o amor “post mortem”

 

Amo e vivo tanto

que anseio poder encontrar

ainda

entretanto

melhor que amor e amar

se possa imaginar

 

O Amor único e uno

que nos liga de nós ao Todo

 

Vale de Salgueiro, 27 de Dezembro de 2007

Henrique António Pedro


 

 

terça-feira, 6 de maio de 2025

Afago a cabeça. Apalpo a alma


(Revisto)


Mimoseio-me numa tentativa de me encontrar

mas não me encontro

nem é a mim que tacteio

 

Não me enxergo no crânio escalvado

acabado de sair do barbeiro

mas sinto uma sensação suprema

que me percorre o corpo inteiro

me pacifica e me acalma o coração

embora esprema desesperadamente a Razão

 

Transfiro-me para as cabeças dos dedos da mão

com que apalpo a caixa craniana

em que se aloja todo o meu encéfalo

 

Ainda assim a mim me sinto

no curto-circuito que se estabelece

entre a pele dos dedos

e a Mente sucedânea

angustiada

 

Dá-me prazer ficar assim

por momentos

a andar à roda

atrás de mim

como pescadinha de rabo na boca

de olhos vendados

a jogar comigo à cabra-cega

jogo de paciência

e demência

 

Que melhor prova da minha existência

posso encontrar

se é a minha alma

a minha essência

que a si própria se apalpa

sem a si mesma se apalpar?!

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 12 de Junho de 2009

Henrique António Pedro 

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

 


domingo, 4 de maio de 2025

Aprendi a amar nos braços de minha mãe


(A minha singela homenagem a todas as mães)

Quando abri os olhos pela primeira vez

e percebi que outros me fitavam e sorriam

enquanto sentia que uns braços me estreitavam

de uma forma que só poderia ser a de uma mãe

  

Logo ali pressenti o que era o amor

e o que amar seria

embora sem então perceber

que aquela mulher era minha mãe também

que não era uma mulher qualquer

nem o quanto seu filho eu ser

representava para ela

 

Apenas quando nos é dado saber

como nossa mãe nos ama

somos capazes de melhor entender

o que é o amor

o que amar será

o carinho com que sempre nos chama

e porque perdê-la a ela

é tão grande dor

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 8 de Março de 2010

Henrique António Pedro


 

 

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Deixo versos impressos no pó do caminho


À ida

deixo poemas

suspensos no ar

e os rastos dos meus passos

impressos no pó do caminho

 

À volta

já a brisa do fim da tarde

lhes deu descaminho

desemaranhou os dilemas

e alisou as arestas dos rastos

 

Outros transeuntes vieram

os pisaram e deformaram

mas seria a chuva telúrica

a apagá-los definitivamente

dissolvendo o pó em lama

 

Poderiam ser maciços graníticos

piramidais

anónimos

erigidos no deserto

que teriam o mesmo fim

embora mais lenta fosse a agonia

ou mais funda a chaga

ainda assim

 

Mas os meus poemas têm o meu rosto

são os rastos indeléveis dos meus passos

que ninguém que preste

apaga

mesmo se os ignora

e não lê

 

Encontram-se

permanentemente

a perderem-se

na imensidão do Cosmos

e só o vento celeste

os dilui em eternidade

 

in  Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)