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segunda-feira, 28 de abril de 2025

Deixo versos impressos no pó do caminho


À ida

deixo poemas

suspensos no ar

e os rastos dos meus passos

impressos no pó do caminho

 

À volta

já a brisa do fim da tarde

lhes deu descaminho

desemaranhou os dilemas

e alisou as arestas dos rastos

 

Outros transeuntes vieram

os pisaram e deformaram

mas seria a chuva telúrica

a apagá-los definitivamente

dissolvendo o pó em lama

 

Poderiam ser maciços graníticos

piramidais

anónimos

erigidos no deserto

que teriam o mesmo fim

embora mais lenta fosse a agonia

ou mais funda a chaga

ainda assim

 

Mas os meus poemas têm o meu rosto

são os rastos indeléveis dos meus passos

que ninguém que preste

apaga

mesmo se os ignora

e não lê

 

Encontram-se

permanentemente

a perderem-se

na imensidão do Cosmos

e só o vento celeste

os dilui em eternidade

 

in  Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

quinta-feira, 24 de abril de 2025

E a paixão também poderá ser...



A paixão também poderá ser

uma aventura

uma momentânea loucura

que nos toma por dentro

nos destabiliza por fora

e em pouco tempo

tudo deita a perder

 

A paixão também poderá ser

um sofrer sem igual

ainda que não nos faça doer

embora sabendo que tal

a qualquer hora

nos irá acontecer

 

A paixão também poderá ser

a origem de uma vertigem

que nos leva a nos precipitar

no fogo que nos irá queimar

 

A paixão também poderá ser

a euforia de uma alegria

que nos embriaga

não entendemos

mas que acaba por abrir uma chaga

no coração

de que só nos apercebemos

quando já não tem reparação

 

A paixão também poderá ser

um querer sofrer

um fugaz prazer

uma prazerosa dor cor de rosa

sem nada ter

de Amor

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 11 de Junho de 2009

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 22 de abril de 2025

O que a mim mais me agrada olhar e ver


Pergunta-me ela

apenas a pensar nela

o que a mim mais me agrada olhar

e ver

 

Respondo só para mim

olhando-a

ainda assim

sem nada lhe dizer

 

O que mais me agrada olhar

e ver

é o azul cerúleo dos lagos

orlados do verde viçoso dos vales

em contraste com o azul-escuro das serras

e a alvura da neve que nas cristas resplandece

iluminada pelo azul diáfano do céu

por entre tufos de nuvens de prata a flutuar no ar

quando a luz do sol tudo incendeia

com inesperados reflexos doirados

 

Aprecio sobremaneira o luar

e o brilho das estrelas

a luminosidade do seu olhar

o brilho fulvo da sua cabeleira

que graciosamente se despenteia

esvoaçando neste cenário

imaginário

 

Aprecio tudo

aprecio-a a ela

sobretudo

quando a olho

a vejo

desejo

e a sinto de verdade

 

Aprecio tudo

quando tudo

se envolve em espiritualidade

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 31 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro

 

domingo, 20 de abril de 2025

Luar

Passo

um braço

 pelos ombros dela

com doçura

e ela a mim me abraça

pela cintura

 

Assim abraçados

para Sul voltados

somos um só perfil recortado pelo luar

na abóbada celeste azul

cintilante

marchetada de estrelas mil

em incessante bruxulear

 

Diz-me que gostaria de viajar

até à mais distante

sempre a mim

assim

abraçada

e pergunta-me em que penso eu

 

Penso em ti

respondo

inebriado de paixão

 

Penso numa estrela bem mais próxima

cujo coração ouço aqui cintilar

bem junto do meu

 

Mais luz o luar com o seu sorriso

abraçamo-nos ainda mais forte

um para o outro voltados

os dois para o mesmo norte

qual Adão e Eva

retornados

ao paraíso

 

 

Vale de Salgueiro, domingo, 21 de Junho de 2009

Henrique António Pedro

 

domingo, 13 de abril de 2025

Que fazer com tanta poesia?!


Que fazer com os milhares de poemas prazenteiros

que colho das árvores

nos campos e nos canteiros

como flores coloridas que florescem atrevidas

pela Primavera?!

 

Deixar que o vento os leve

como folhas soltas

libertas da árvore mãe

e que rodopiando

bailando ao som do tempo

voem

voem

mais e mais além?!

 

Sim

porque não!

 

Continuar a escrever

assim a me soltar

e a me prender

enquanto houver poesia

e poemas para desprender

 

Pingos de amor e de alegria

sons de nostalgia

ecos de fantasia

que perfumem

alegrem

e adocem o viver

 

O meu

e de quem me ler

poderá ser

 

Vale de Salgueiro, sábado, 7 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro

 

 

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Amo-a, mas não gosto dela.


Amo-a

com enlevo

mais do que devo

ainda assim lhe digo que não gosto dela

embora seja ela muito bela

 

Gostava, isso sim

que ela fosse diferente

e a mim me fosse indiferente

 

Gostava de a amar e dela gostar

tal como ela é e como ela quer, mas…

… sinceramente

eu não gosto dela!

 

Diz-me ela que não há mas nem meio mas

que é meu puro engano

ou eu a amo e gosto dela

assim como ela é

ou não amo

e a desgosto

 

Saber que a amo, mas não gosto dela

e que assim sendo

como espero

a ela não lhe gosto

e que tonto

não reclamo

também é meu desgosto

 

Amo-a, pronto

mas não gosto dela

muito menos a quero

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 5 de Novembro de 2010

Henrique António Pedro

 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

A vida é o que é a morte é que não



A vida nem sempre é assim tão triste

 

Tem momentos de alegria

 e de tristeza

 

Dias de beleza

em que amamos e rimos

e que melhor nos sentimos

 

Outros em que choramos

e outros ainda em que…

ia a dizer odiamos…

…mas que palavra obscena!

 

Também há momentos em que a vida

é bem mais amena

e outros mais agitada

descontrolada

 

A nossa vida é o que é

se vivida com fé

 

Ora triste

ora alegre

assim, assim

outro não

outrossim

 

Como o tempo que ora faz sol

ora chove ou troveja

quando se não deseja

 

A vida é sobretudo breve

ainda que não seja leve

antes seja fria como a neve

 

Por isso a felicidade será

aquilo que se quiser que seja

desde que mais dure

na sua finitude

 

A vida é o que é

a morte é que não

não é nada não

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008

Henrique António Pedro

 

domingo, 6 de abril de 2025

Uma curva do meu caminho

 


(in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016))

Naquela curva do caminho

da colina onde moro

aprendi a andar

a tropeçar

a cair

e a me levantar

 

A subir

para contemplar o vale

de cima

 

A descer

para debaixo

ver o cume 

 

E a mudar de direcção

para incólume

poder

seguir adiante

 

Agora

que já me não dá prazer

subir ou descer

a correr

esfusiante

como quando menino

apraz-me, contudo, parar a meio

 

Para pensar

repensar

e respirar

em ar aberto

para repor o coração

a bater certo

em seu anseio

 

Naquela curva do meu caminho

uma simples volta na ladeira

da colina onde moro

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 31 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

É sempre de si que o poeta fala



Quando chora ou ri

 

Quando cala

ou canta a dor

ou exalta o amor

 

Quando se angustia

e abre a mente à fantasia

 

Quando vitupera a mentira e a guerra

e reclama a paz para a Terra

 

Quando uiva de saudade

 

Quando põe a nu a verdade

e denuncia a falsidade

 

Ou quando se dá ao desfrute

de nada dizer

em rima exaltada

 

É sempre de si

que o poeta fala

 

Mesmo quando de si

nada diz

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 2 de Setembro de 2008

Henrique António Pedro

 

segunda-feira, 31 de março de 2025

O poder e a glória que tenho já me chega



Tudo que em nosso redor tem cor

som

vida

luz

beleza

nos glorifica

e anima

 

O vento

o mar

os rios

as montanhas

a Natureza

o Sol

e a Lua

criou-as o Criador

para nos iluminar em cada dia


A mim o poder de amar a quem amo

já me chega

 

A glória de ser amado por quem me ama

já me basta

 

Não quero mais

tão pouco ter o mundo a meus pés

ao invés de ser o que sou

e de estar onde estou

 

Dispenso a vaidade e a fama

 

Todo o meu poder e glória é poesia

é a alegria do amor

em louvor do Criador

 

Vale de Salgueiro, sábado, 15 de Maio de 2010

Henrique António Pedro

sábado, 29 de março de 2025

Ó santa sensualidade!


 

Sopra sorrisos etéreos

desejos flutuantes

de luxúria

 

Cruza as pernas com volúpia

como que a defender a virgindade

 

Lança olhares faiscantes de alvorada

raios mornos de pôr do sol

 

Solta nuvens de fumo

que se evolam do cigarro

que rola nos lábios

como se fossem malmequeres

floridos em tardia Primavera

 

Liberta bolas de perfume

irisadas de provocação

que me estouram no rosto

sem que me toquem o coração

 

A sua santidade é de pau carunchoso

e o seu amor

cavernoso

é forçoso dizê-lo

 

Ó santa, sensualidade!

Erotismo e água benta

cada um toma a que quer

 

Não!

Já não sou mais criança

e ela não é mais mulher

só porque assim

seráfica

se oferece

a um qualquer

 

         Vale de Salgueiro, segunda-feira, 8 de Agosto de 2011

         Henrique António Pedro

 

in Mulheres de amor inventadas

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia)

          1.ª Edição, Outubro de 2013

 

 

quarta-feira, 26 de março de 2025

Um primeiro beijo



Recordo agora

que é tempo de vindimas

os silvedos floriram

se emolduraram de botões de amora

doces

pequeninas

 

Recordo o ensejo do primeiro beijo

naquela manhã louçã

na verde verdade da mocidade

em que se não mente

e o amor arde

suave

 

Quando uvas, amoras, espigas e raparigas

amaduram simultaneamente

mas os rapazes só mais tarde

 

Ela colocou uma amora silvestre

aveludada

entre os seus lábios carnudos

carmim

e com o olhar lampejante de sedução

desafiou-me matreira

a que eu

com os meus lábios também

lhe roubasse a doce drupa

 

Percebi a brincadeira

não resisti

lancei-me de pronto

na inocente disputa

 

Mas aconteceu o inesperado

quando os lábios se tocaram

todos os sentidos falaram

soltando descargas eléctricas

magnéticas

por todo o lado

em catadupa

a própria alma voou de leveza

 

Segurei-lhe então a cabeça pela nuca

para a agarrar com mais firmeza

ela fez-me o mesmo a mim

donde resultou assim sem querer

e sem eu saber

naquela mesma hora

que se esborrachou a amora do amor

e os lábios

o rosto

o coração

se pintalgaram com o sumo da paixão

do ensejo de um primeiro beijo

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 6 de Novembro de 2008

Henrique António Pedro