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quarta-feira, 12 de novembro de 2025

A minha mala de viagem


Quando viajo para lá do destino

sempre regresso além de para onde nunca parti

mesmo se a viajar jamais saio daqui

donde estou

 

Na minha mala de viagem

que é imagem daquilo que sou

levo e trago poemas e dilemas

cama, pijama e roupa lavada

liberdade e farnel

nunca pernoito em nenhum hotel

 

Sou um viajante inveterado

que sempre viaja acompanhado de gente amada

mesmo quando viaja só

só para sentir

saudade

 

A minha mala de viagem

feita de sonho e de vento

é mais real que a realidade

com ela viajo no tempo

em busca da felicidade

 

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 25 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Escrever poesia é assim como lavrar a Terra


Escrever poesia é assim como lavrar a Terra

para semear pão

tanger docemente o Coração

para encantar amores

vivenciar a Vida em verso

e ficar à espera

de que as dores desapareçam

 

Escrever poesia é tocar com arte e melodia

ouvidos e demais sentidos

iluminar a vista

apurar o olfacto

afagar o tacto

e aguçar a Razão

 

Escrever poesia é estender a mão aberta

para dar e receber

nunca o punho fechado para bater

e abrir a boca para declamar

nunca para insultar

 

Escrever poesia é amar de amor apenas

com todos os sentidos e dilemas

 

É assim como arar a Terra

lavrar poemas nas pedras do caminho

pegadas destinadas a serem apagadas

ou imortalizadas conforme o destino

 

Vale de Salgueiro, domingo, 25 de Julho de 2010

Henrique António Pedro

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Esta ilusão que a poesia a mim me dá



Esta ilusão que a poesia a mim me dá

de que algum dia serei alguém

que não apenas mais um

entre tantos mortais

meus iguais

 

É uma quimera poética

uma utopia épica

é pura melancolia de quem sempre espera

sem que saiba bem de quê

 

É nostalgia do paraíso perdido

lamento de anjo caído

já se vê

 

É esperança de que a todo tempo

a felicidade acabará por acontecer

 

Esta ilusão que a poesia a mim me dá

não me abandonará jamais

nem mesmo depois de morrer

 

Porque esta ilusão

esta alegria

esta tristeza

esta certeza

que a poesia sopra no meu coração

é o motor do viver

de quem como eu

vive de amor

 

Vale de Salgueiro, sábado, 21 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

sábado, 1 de novembro de 2025

Meu mar de amores



Este abismo infinito

em que hora a hora a contraluz

me precipito à velocidade da luz

é o meu mar de amores

 

Envolto em estrelas e galáxias

vales e montanhas

dúvidas tamanhas

angústias

e pesares

 

É um poço sem fundo

em que vida voa pelos ares

 

É um mal minimal

um vórtice de paixão

um grão de dor residual no coração

 

Este abismo infinito

em que hora a hora à contraluz

me precipito à velocidade da luz

é o meu mar de amores

em que nado no nada

despido do orgulho e da vaidade

e sincero espero com verdade

alcançar a revelação final

 

Vale de Salgueiro, sábado, 16 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Uma criança grande



Foi no papel de criança

na tragicomédia da vida

personagem da mais pura inocência

que revelei a maior confiança

e competência

 

Sem saber representar

apenas sabia o que sentia

partilhar amor e alegria

 

Foi quando mais feliz me senti

e com maior emoção vivi

 

Muitos foram os que por quem tão amado fui

tantos os que a quem tanto amei

até demais talvez

agora sim

sei

 

Enchia o boné de flores campestres

e de amoras silvestres

e, pé ante pé

oferecia à minha mãe

o primeiro dos meus eternos amores

 

Tinha por ideologia apenas viver

amar

ser amado

e por práxis correr

saltar

gritar

por campos e lameiros

dias e dias

inteiros

 

Sossegado?

Apenas quando soprava bolas de sabão

e as via flutuar no ar até estourar

ou postado na margem do lago

entre juncos e nenúfares disfarçado

sentindo bater o coração

caçava rãs e libelinhas

em silêncio

ou quando sorrateiro

fazia partidinhas em desafio

 

Por tudo isso ainda hoje em dia

sou uma criança grande

e me sinto bem

assim

na verdade

 

Uma criança grande crescida na saudade

abençoada vida

feliz idade

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 17 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro

 

 


segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Vejo-me nos seus olhos e ela nos meus se vê


Eu vejo-me nos seus olhos

e nos meus

ela

a si

se vê

 

Melhor assim ela a mim se mostra

e se denuncia

e melhor eu a ela a vejo

e com mais blandícia a desejo

 

Ela vê-se nos meus olhos

e nos seus

eu

a mim

me vejo

 

Melhor assim eu a ela me mostro

e me denuncio

e melhor ela a mim me vê

e com mais meiguice me deseja

 

Vejo-me nos seus olhos

 

Ela nos meus se vê

 

Eu vejo nos seus olhos o que a ela lhe vai na alma

e tudo que os seus lábios

e palavras

silenciam

 

Ela vê nos meus olhos o que a mim me vai na alma

e tudo que os meus lábios

e palavras

calam

 

Ouço o seu silêncio

ela ouve o meu

só os corações é que falam

levados nas asas da imaginação

e do vento

sopro

da paixão

 

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 2 de Junho de 2009

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

O livro do rosto


Cada rosto é um livro

aberto

ilustrado

calado ou de viva voz

mesmo se de fácies fechado

 

Livro editado por cada um de nós

em que todos menos o próprio

podem ler e ficar a saber

(o que é por vezes impróprio)

se andamos alegres ou tristes

de saúde ou doentes

se estamos na mesma ou mudados

 

Livro em que escrevemos

com sorrisos ou esgares

olhares precisos ou imprecisos

o que nos vai na alma

se angustiados

deslumbrados

em calma ou em dessossego

apaixonados ou em desapego

 

Livro em que publicamos

mesmo sem querer

ou sequer podermos ler

intimidades

mentiras e verdades

sucessos ou desgostos

 

Livro em que nos mostramos por inteiro

não apenas um perfil ligeiro

 

Convém, por isso, cuidar no espírito

o que nos livros dos rostos

trazemos escrito

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 10 de Julho de 2012

Henrique António Pedro

 


terça-feira, 21 de outubro de 2025

Entre Sol e Lua


Já o Sol declina

já a noite se avizinha

e adensa

 

Já espreita a Lua

imensa

por entre as copas do olival

que emoldura a colina

 

No abismo celestial

brilha, por agora, Vénus

disfarçado de estrela

 

Entre Sol e Lua

sobre a Humanidade

paira o halo pesado

abafado

do relativismo moral

 

E a Lua ergue-se silenciosa

esplendorosa

sorrateira

ruborizada

depois que o Sol da verdade se apagou

na Terra inteira

 

Que pecados terá cometido ela

para vir assim envergonhada

se já não há mal algum

se tudo é relativo

permissivo

amoral

interesseiro?

 

Se já nem pecado é matar

seja onde seja

e porque motivo for

se já não há amor verdadeiro

 

Se toda a mentira é agora útil

piedosa

o insulto gratuito

e a ofensa graciosa

num Mundo em que tudo tem preço

e o Bem passou a ser inútil

um adereço

 

A Lua surge assim corada

envergonhada

só da Terra ver

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 27 de Julho de 2010

Henrique António Pedro

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Do prazer de prender e ficar preso


Sentimento tão volúvel como o vento

nuvem fugidia que só ilude

e adia

o sofrimento

 

É o puro prazer de prender e ficar preso

o falso contentamento

a que chamamos paixão

que mais não é que a pura ilusão

de que não nos libertamos

só porque pensamos

que amamos

 

À força de mais desejar do que amar

na trama de suas teias

ao peso de suas cadeias

mais e mais

acabamos por nos amarrar

 

Este puro prazer de prender e de ficar preso

a que se chama paixão

não é liberdade de verdade

não

 

É sim

antes

prisão

 

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 2 de Março de 2009

Henrique António Pedro

 

domingo, 12 de outubro de 2025

Breve é a vida. Desmedida a Eternidade



Interrogo-me


Porque razão nos deu Deus
tão amplo espaço para morar
onde até o Absoluto podemos imaginar
mas tempo tão curto nos deu para viver?

Porque tão breve é a vida
tão fácil é a vida perder
e tão desmesurada
e decantada é a Eternidade?


Porque intentamos fugir à dúvida

e ao sofrimento

encurtar o espaço e o tempo

iludir a realidade

com a vertigem da velocidade

 e a falácia do pensamento?

 

Se a questão é tão só a verdade

e mais amar

estreitar mais a distância

mais alargar o sentir

aproximar mais os demais

e com eles partilhar

o devir

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 17 de Fevereiro de 2012

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Poeta, demente, reincidente



Com o corpo confinado à Terra

de cabeça

tronco

membros

olhos

ouvidos

e demais sentidos

entregues à Mãe Natureza

 

Deixo que percorram os caminhos que lhes aprouver

animados pela energia telúrica que em leveza os leve

faça sol

chuva

ou neve

 

Enquanto eu

por instantes reduzido a um verso

a um lapso de luz intermitente

ausente

do espaço-tempo

sem sentido

nem vontade

voo no vento

de espírito espraiado por toda a dimensão do Universo

 

Demente

reincidente

só mais tarde caio na realidade

 

Vale de Salgueiro, 2 de Janeiro de 2013

Henrique António Pedro

 


terça-feira, 7 de outubro de 2025

Poeta protótipo de anjo


Algo eu sou

e sou eu

não sou fidalgo

centauro

ou plebeu

simplesmente sou

 

Não sou omisso

não sou nada disso

 

Sou crente

não sou demente

 

Sou homem

não sou mulher

não um animal qualquer

 

Não sou alto nem sou baixo

sou branco não de cor

não sou nada

sou alguém

 

Ando e corro

não voo

choro e rio

caminho de pé

 

Não me evadi

não fugi

de ninguém

 

Cidadão

artista

não sou concertista

não sou artesão

tocador de banjo

contrabaixo

doutor

 

Sou esteta

de mente aberta

ténue de esperança

de frágil fé

 

Sou poeta

protótipo de anjo

tão só

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 5 de Dezembro de 2008

Henrique António Pedro

in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)

 

 

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Voam versos, voam penas


Passo

por onde passo

esvoaço

como pássaro

soltando poemas

preso aos dilemas

do viver

 

Voam versos

voam penas

não paro de esvoaçar

quanto mais me solto

mais acabo de me prender

e enredar

 

A minha poesia voa

voam versos

voam penas

nas asas da fantasia

adejar sem parar                                                                                

e a sofrer

ansiedade

 

Até um dia

poder ser eu

a voar

de verdade

 

 

Vale de Salgueiro, domingo, 7 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro