compreendo também
«A Salvação
uma libra gasta
outra na mão»
É uma minha boa lembrança
de criança malvada
mijar em formigueiros
e tocas de grilos
nos lameiros
Não terei sido eu
o primeiro
a inventar tamanha
maldade
Fazia até uma
tremenda ginástica
para acertar, de pé, nas tocas dos grilos
e nos carreiros dos formigueiros
por falta de
prática
Ainda era menino
de calção
mas só desistia quando
sentia
que uma formiga me
picava os testículos
e uma multidão de
insectos desafectos
me perseguia no
carreiro
Então
qual poeta
proscrito
aflito
proferia a
palavra mais obscena do presente poema:
- Foda-se!
e fugia
Foi assim que aprendi
que há uma
infinidade de espaço no Universo
onde poderei
urinar à vontade
um simples verso
que seja
sem importunar
uma formiga por
demais pequenina
que mal se veja
Vale de
Salgueiro, domingo, 5 de Abril de 2009
Henrique António Pedro
Por mais que se pense
ou não pense
se diga ou se fique calado
extasiado
a olhar o céu
a poesia é o que é:
Nonsense
É a arte do utópico
dos picos da paixão
e de outros males do coração
das indefiníveis estéticas
amor sem dor
é utopia
É génese de religiões
ainda que Amor e a Fé
não sejam meras construções
poéticas
Melhor que nada, que outra coisa nenhuma
a poesia nos inuma na tristeza
nos liberta do real
nos desperta
nos afunda nas raízes profundas do ser
daquilo que verdadeiramente é
nos despoja do ter e do haver
mais nos aproxima do bem
e nos afasta do mal
A poesia
é como a vida é
amorável
inexplicável
irracional
doida
doída
dorida
nonsense
Vale de Salgueiro, 12 de Novembro de 2007
Henrique António Pedro