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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sorrisos que só mostram dentes



Os mais sinistros sinais
destes tempos dementes
são
quiçá
os sorrisos que não mostram mais
que dentes

São sorrisos coercivos
que vendem dentífricos inofensivos
“lingeries” vaporosas
e políticas maliciosas

São sorrisos sinistros
que enredam os espíritos
em ilusões cor-de-rosa
escondem a perfídia
disfarçam a traição
e levam à perdição

Urge
portanto
que aprendamos a sorrir
sorrisos mais explícitos
com natural encanto

Urge que a Humanidade
reaprenda a rir de verdade
a sorrir sorrisos que abracem
e enlacem

com naturalidade

sábado, 7 de dezembro de 2013

Coisas que sinto que não sei o que são



Há coisas que sinto
e que não sei o que são

São infinitas formas de angústia
sonhos
ilusões
pesadelos
dúvidas
desejos
outras tantas tentações

São estranhas formas de dor
e de sofrer
vontade de matar
e morrer
desejos de aniquilar
ódios e paixões

Tantas coisas eu sinto
que não sei o que são

Uma só forma de amor
e amar
têm lugar
de verdade

no meu coração

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pleno poema é o meu pinhal






Pelas minhas próprias mãos plantado

pelo suor do meu rosto regado

cresce livre do vil vento do mal

pleno poema é o meu pinhal!

 

Pela Mãe Natureza abençoado

é cântico sublime, sibilado

que viceja no húmus ancestral

corpo, sangue, alma universal!

 

Imune aos venenos que o vento

sopra sobre a Terra mal amada

ar de angústia e sofrimento

 

Das aves é guarida, sustento

de mim dádiva da vida sonhada

dom, som, sinal, aval dum novo tempo

 

Vale de Salgueiro, 9 de Abril de 2008

Henrique António Pedro


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Cantar de encantar a pedra



Não me consta que houvesse
mestre maçom
por mais iluminado
que de porpianho mais soubesse
que o pedreiro Justiniano
embora ele não fosse
nem crente nem ateu

Encantado ficava eu
ouvindo o mestre canteiro
cantar à cantaria
que ele próprio esquadrou
nas fragas do inóspito
e sombrio quadraçal

Ei pedrinha ou…
ei pedrinha ou…

E o tosco bloco de granito
mais pesado que a cruz de Cristo
deslizava enlevado
por via da magia
do laico cantochão

Leve como a água de poesia
que então se vertia
na cabeça do neófito
na pia baptismal
em busca da salvação

Ei pedrinha ou…

ei pedrinha ou…

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Húmus



Hoje

vou caminhar adrede

campos fora

noite a dentro

atolar-me na lama dos caminhos

 

Vou esquecer que existo

votar-me ao abandono

diluir-me na Natureza

não responder a ninguém

fintar o sono

tratar as ideias com desdém

 

Vou deixar que a minha angústia

se misture com a água da chuva

em húmus de poesia

que as raízes das plantas a absorvam

e a convertam em seiva

 

Para desabrochar em flores de alegria

já na próxima Primavera

e florir em fruto lá mais para o Outono

 

Hoje

vou caminhar adrede

campos fora

noite a dentro

até entrar em transe

e explodir em êxtase

quando o Sol raiar

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 5 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro

 

In Anamnesis  (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

 

 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Despeço-me. Adeus!



Agora sou verdadeiro
sou o que pareço

Já não morro
já não vivo

Não choro
nem rio

Não gozo
não sofro

Já nada faço aqui

Já voo outros céus
em círculo
respiro outros ares
a arfar
navego à vela noutros mares
distante das tempestades

Já vivo o que nunca vivi
não sou mais “eu”
nem sofro o que sofri

Sou agora um todo
inteiro
a sonhar

De mim
sem demora
me despeço
e me apresto
para a mim
breve
voltar

Em cada instante parto
de mim me aparto
e regresso a mim


Despeço-me. Adeus. Até ao meu regresso.