Apenas lágrimas para partilhar
in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)
Quando
e
onde nasci
mum
pequeno mundo rural
do Portugal implantado na Europa
por
engano
ainda
se bendizia a Deus
pelo
pão de cada dia
se
benziam as colheitas de cada ano
e se
celebrava o seu sucesso com alegria
Porque
se sabia quanto custava
andar
um ano inteiro a mourejar
ao
sol ardente
à
chuva
ao
frio
e à
geada
para
se conseguir o sustento
um
naco de pão que fosse
arado,
semeado, ceifado, malhado, moído, amassado, cozido
partido
e repartido
com dor
amor
e suor
à
força da enxada
e do
timão
Mergulhou-se
depois num mundo fácil
de
frágil
e
fugaz ilusão
Com
demasiada gente que deveria chorar mas que cantava
e ria
por
tanto ter que esbanjar
que adorava
os falsos deuses que lhes punham a mesa farta
e do
mundo da miséria os apartava
mas
lhes encondia a verdade
Agora
são
milhares os seres humanos que não têm que comer
nem
deuses a quem agradecer
e que
apenas têm lágrimas
para
partilhar!
Mais
a angústia de não saber que fazer
Agora
mais
do que nunca
tem
sentido a palavra solidariedade
Vale
de Salgueiro, quarta-feira, 10 de Junho de 2009
Henrique
António Pedro