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domingo, 16 de novembro de 2025

E a si, que lhe diz este poema?



Escrevo este poema deliberadamente

sem nada ter em mente

sem nada ter que dizer

sem querer dizer nada

 

Eu não quero dizer mesmo nada

acredite

tão pouco nada quero desdizer

leia

aceite o meu convite

e dê o seu palpite

 

Escrevo este poema só para dar o prazer

de ler o que lhe apetecer

a quem o quiser ler

 

Só para lhe dizer o quanto podemos dizer

sem dizer nada

ou nada dizer

ainda que quem diz

também se desdiz

 

Este é o dilema!

 

Este poema a mim não me diz nada

mesmo nada

nada me diz

diz-me nada

 

Mas se digo que este poema a mim nada me diz

já me estou a desdizer

 

Que lhe diz, a si, este poema

ainda assim?

 

Muito

pouco

tudo

ou nada?

 

É que a si algo lhe disser

dalgo a mim me há-de dizer

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 3 de Junho de 2010

Henrique António Pedro

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

UMA MALA DE VIAGEM CHEIA DE SONHO E SAUDADE


Viajo para lá do destino

regresso de além

de para onde nunca parti

mesmo se não saí

daqui onde estou

 

A minha mala de viagem

imagem daquilo que sou

leva e traz poemas e dilemas

cama, pijama e roupa lavada

liberdade e farnel

nunca como ou durmo em hotel

 

Sou um viajante inveterado

sempre viajo sem rumo

acompanhado de gente amada

mesmo se viajo só

só para sentir saudade

 

A minha mala de viagem

feita de sonho e de vento

não é fantasia é poesia

mais real que a realidade

com ela viajo no tempo

no espaço da eternidade

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 25 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Escrever poesia é assim como lavrar a Terra


Escrever poesia é assim como lavrar a Terra

para semear pão

tanger docemente o Coração

para encantar amores

vivenciar a Vida em verso

e ficar à espera

de que as dores desapareçam

 

Escrever poesia é tocar com arte e melodia

ouvidos e demais sentidos

iluminar a vista

apurar o olfacto

afagar o tacto

e aguçar a Razão

 

Escrever poesia é estender a mão aberta

para dar e receber

nunca o punho fechado para bater

ou abrir a boca para declamar

nunca para insultar

 

Escrever poesia é amar de amor apenas

com todos os sentidos e dilemas

 

É assim como arar a Terra

lavrar poemas nas pedras do caminho

pegadas destinadas a serem apagadas

ou imortalizadas conforme o destino

 

Vale de Salgueiro, domingo, 25 de Julho de 2010

Henrique António Pedro

 


terça-feira, 4 de novembro de 2025

Esta ilusão que a poesia a mim me dá



Esta ilusão que a poesia a mim me dá

de que algum dia serei alguém

que não apenas mais um

entre tantos mortais

meus iguais

 

É uma quimera poética

uma utopia épica

é pura melancolia de quem sempre espera

sem que saiba bem de quê

 

É nostalgia do paraíso perdido

lamento de anjo caído

já se vê

 

É esperança de que a todo tempo

a felicidade acabará por acontecer

 

Esta ilusão que a poesia a mim me dá

não me abandonará jamais

nem mesmo depois de morrer

 

Porque esta ilusão

esta alegria

esta tristeza

esta certeza

que a poesia sopra no meu coração

é o motor do viver

de quem como eu

vive de amor

 

Vale de Salgueiro, sábado, 21 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

sábado, 1 de novembro de 2025

Meu mar de amores



Este abismo infinito

em que hora a hora a contraluz

me precipito à velocidade da luz

é o meu mar de amores

 

Envolto em estrelas e galáxias

vales e montanhas

dúvidas tamanhas

angústias

e pesares

 

É um poço sem fundo

em que vida voa pelos ares

 

É um mal minimal

um vórtice de paixão

um grão de dor residual no coração

 

Este abismo infinito

em que hora a hora à contraluz

me precipito à velocidade da luz

é o meu mar de amores

em que nado no nada

despido do orgulho e da vaidade

e sincero espero com verdade

alcançar a revelação final

 

Vale de Salgueiro, sábado, 16 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Uma criança grande



Foi no papel de criança

na tragicomédia da vida

personagem da mais pura inocência

que revelei a maior confiança

e competência

 

Sem saber representar

apenas sabia o que sentia

partilhar amor e alegria

 

Foi quando mais feliz me senti

e com maior emoção vivi

 

Muitos foram os que por quem tão amado fui

tantos os que a quem tanto amei

até demais talvez

agora sim

sei

 

Enchia o boné de flores campestres

e de amoras silvestres

e, pé ante pé

oferecia à minha mãe

o primeiro dos meus eternos amores

 

Tinha por ideologia apenas viver

amar

ser amado

e por práxis correr

saltar

gritar

por campos e lameiros

dias e dias

inteiros

 

Sossegado?

Apenas quando soprava bolas de sabão

e as via flutuar no ar até estourar

ou postado na margem do lago

entre juncos e nenúfares disfarçado

sentindo bater o coração

caçava rãs e libelinhas

em silêncio

ou quando sorrateiro

fazia partidinhas em desafio

 

Por tudo isso ainda hoje em dia

sou uma criança grande

e me sinto bem

assim

na verdade

 

Uma criança grande crescida na saudade

abençoada vida

feliz idade

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 17 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro