Recordo
agora
que
é tempo de vindimas
os
silvedos floriram
se
emolduraram de botões de amora
doces
pequeninas
Recordo
o ensejo do primeiro beijo
naquela
manhã louçã
na
verde verdade da mocidade
em
que se não mente
e o
amor arde
suave
Quando
uvas, amoras, espigas e raparigas
amaduram
simultaneamente
mas
os rapazes só mais tarde
Ela
colocou uma amora silvestre
aveludada
entre
os seus lábios carnudos
carmim
e
com o olhar lampejante de sedução
desafiou-me
matreira
a
que eu
com
os meus lábios também
lhe
roubasse a doce drupa
Percebi
a brincadeira
não
resisti
lancei-me
de pronto
na
inocente disputa
Mas
aconteceu o inesperado
quando
os lábios se tocaram
todos
os sentidos falaram
soltando
descargas eléctricas
magnéticas
por
todo o lado
em
catadupa
a
própria alma voou de leveza
Segurei-lhe
então a cabeça pela nuca
para
a agarrar com mais firmeza
ela
fez-me o mesmo a mim
donde
resultou assim sem querer
e
sem eu saber
naquela
mesma hora
que
se esborrachou a amora do amor
e os
lábios
o rosto
o coração
se pintalgaram
com o sumo da paixão
do ensejo de
um primeiro beijo
Vale
de Salgueiro, quinta-feira, 6 de Novembro de 2008
Henrique
António Pedro