Tocando o burro à nora
Assim era outrora
mas ainda agora se ouvia
o tilintar metálico da nora
movida sem lamento
pelo paciente jumento
que o garoto descalço
no seu encalço zurzia
se parava estático para pensar
ou simplesmente urinar
Às voltas andava o burro
o rapaz casmurro
e os alcatruzes de lata
enquanto água de prata
medrava melões e melancias
e outras sadias poesias
na horta de ao pé da porta
Era assim naquele tempo
e ainda é agora
O garoto casmurro
que ora ri ora chora
qual burro de nora
toca a roda da vida
doída de cruzes
e devaneios
Alcatruzes de luzes
que ora rodam cheios de ambição
ora vazios de desilusão