Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Sentado à lareira da saudade


Sentado à lareira da saudade

partilho o pão da amizade

o mosto da alegria

a doçura da nostalgia

 

Que sou eu, afinal?

 

Sou suor do rosto de meu pai

lágrima na face de minha mãe

água cristalina que canta na garganta

nas tardes cálidas verão

 

Sou a chama da lareira que me arde no coração

a quietude dos olivais

a virtude dos trigais

 

Sou o milagre intemporal

desta nostalgia agridoce

que se abre em Eternidade

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 16 de Março de 2010

Henrique António Pedro

Leia mais  no link:

https://www.facebook.com/henrique.pedro.73/

 

 

domingo, 14 de dezembro de 2025

Hora de ponta


Tamborilo no tabliê
e assobio
ao ritmo do blue radiodifundido pela Rádio Renascença
parado no tráfego
que transita entre mim e as nuvens

De regresso a casa
à hora de ponta

Uma loira
no descapotável a meu lado sorri-me


Respondo
com sorriso similar
mas digo
baixinho
só para mim
« Que pena. Não vou para esses lados»

Na outra faixa
um sujeito corpulento abre o vidro
e grita para o da frente:
«Seu panhonha!»

Bem aconchegado no seu mini “smart “
o lingrinhas responde:
«É a tua mãe»
e arranca de supetão


Felizmente o semáforo abrira, porém


Infelizmente Portugal acabou por empatar
no jogo de abertura com a Costa do Marfim

Cada vez mais ruim
esta crise

 

Lisboa, quarta-feira, 16 de Junho de 2010

Henrique António Pedro

Leia mais no link seguinte:

https://www.facebook.com/henrique.pedro.73/

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Há dias assim



Foi a primeira coisa que fiz mal acordei

 

Ir espreitar

sorrateiro

pela janela

desejoso de que o Inverno não tivesse ainda terminado

 

Pretendendo que o vento

e a chuva

e o frio

obstassem a que saísse de casa

e pudesse ter uma justificação

para permanecer amuado com o destino

 

Estava querendo continuar fechado dentro de mim

trancado por dentro

mergulhado na mais fria solidão interior

 

Sentado

impávido

imóvel

com as mãos a espremer o crânio

capaz de esborrachar o cérebro

e de abafar qualquer ideia de liberdade

 

Lá fora, porém

está um sol radioso

os campos já se recobrem de verde

ouve-se o trinado dos passarinhos

e já explodem em cor, som e luz os primeiros acordes da Primavera

 

Saio de um salto de dentro da minha nostalgia

mergulho no seio da liberdade

 

Todos os dias são assim

para mim

um convite a que saltemos de dentro de nós

logo pela manhã

afastemos o mau pensamento

e mergulhemos na alegria

 

Mesmo se chove

faz frio

e sopra o vento

 

Todos os dias acontece o milagre da poesia

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 17 de Março de 2010

Henrique António Pedro

 

 

domingo, 7 de dezembro de 2025

Melhor é amar e deixar o tempo passar


As folhas do calendário

ordenam o nosso fadário

 

Registam os dias

os meses e os anos

as alegrias

os enganos

o sofrimento

 

Os relógios marcam as horas

e as demoras

da felicidade a chegar

 

O coração bate ao ritmo da desilusão

 

Não há tempo a perder

melhor é esquecer

parar de sofrer

amar

e deixar o tempo passar

 

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 31 de Dezembro de 2012

Henrique António Pedro

 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Clímax



Com o sono e o sonho

no clímax

do enlevo

e da lascívia

como se vivesse a vida sonhada

e a felicidade estivesse acordada

 

Quando me apetecia tudo menos acordar

eis que toca o despertador

a realidade desperta

fica a felicidade adormecida

 

Ó que estranha troca!

 

Abro a janela

aspiro ao ar fresco da manhã

a Natureza no seu esplendor

é outra fantasia

 

Será que de novo sonho?

 

Desperto no melhor da realidade

acordo no melhor do sonho

não durmo

nem discuto o dilema

simplesmente

vivo

 

Inalo uma pitada de poesia

e lavro este poema

 

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 13 de Abril de 2010

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Amor e Dor

 

 


Amor e Dor

(Heptassílabo ou redondilha maior)


É-nos dado bem saber

E sentir que o amor

É o oposto da dor

Vital no nosso viver

 

Seria bom, não sofrer

De amor sentir só calor

Sem haver dor ao redor

Viver só puro prazer

 

Não sabermos bem amar

Nem sabermos bem-fazer

É o amor aviltar

 

No sentir do sentimento

Ninguém se pode enganar

É puro conhecimento

 

Amor e Dor

(Decassílabo)

 

A todos nos é dado bem saber

E melhor sentir o que é amor

Porque é o contrário da dor

E parte vital do nosso viver

 

Melhor seria, sim, ninguém sofrer

Sempre sentir do amor o calor

Sem ter nenhuma dor em seu redor

Viver apenas de puro prazer

 

Porém, muito poucos sabem amar

E só por não saberem bem-fazer

Acabam por o amor aviltar

 

Amar com o mais puro sentimento

Sem a si próprio se enganar

É pura fonte de conhecimento

 

 

Vale de Salgueiro, domingo, 7 de Novembro de 2010

Henrique António Pedro

 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Que viva a poesia!


Que viva a poesia

esta infinita vontade de amar

de cantar

de dar e receber

e com amor adoçar o sofrer

 

Que viva a poesia

que expluda em alegria o desejo de ser livre

de abrir os braços ao sol nascente

e espalhar abraços por toda a gente

 

Que viva a poesia

este encantamento do pensamento

esta ideia de partilhar o nosso ser

pela Terra inteira

 

Que viva a poesia

que a partir daqui e de agora

deste lugar e deste país

seja de onde seja

seja onde for

tanto faz

se ouça com emoção a voz do coração

o grito da paz

que resplandeça de poesia

o mar de amor que há em nós

 

Que viva a poesia

esta inexplicável tropia

esta fantasia verdadeira

de que por força da verdade

a Humanidade será um dia

una

livre

feliz

inteira

 

Vale de Salgueiro, domingo, 1 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Húmus


Hoje

vou caminhar adrede

campos fora

noite a dentro

atolar-me na lama dos caminhos

 

Vou esquecer que existo

votar-me ao abandono

diluir-me na Natureza

não responder a ninguém

fintar o sono

tratar as ideias com desdém

 

Vou deixar que a minha angústia

se misture com a água da chuva

em húmus de poesia

que as raízes das plantas a absorvam

e a convertam em seiva

 

Para desabrochar em flores de alegria

já na próxima Primavera

e florir em fruto lá mais para o Outono

 

Hoje

vou caminhar adrede

campos fora

noite a dentro

até entrar em transe

e explodir em êxtase

quando o Sol raiar

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 5 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro

 

In Anamnesis  (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

 

 

terça-feira, 25 de novembro de 2025

A CANÇÃO DE AMOR DE DORES ROHA


Apenas tu ser amado

não duvido

tens a ver com a felicidade

que vivo a teu lado

 

Se me assalta a angústia da separação

qual vento desalmado

te digo do fundo do meu coração

o sofrimento que adviria

nada teria a ver contigo

 

Porque ninguém ama por obrigação

ou continua a amar

por gratidão

 

Depende de mim continuar

a apertar as tuas mãos

e de ti continuar a beijar

com teus lábios os meus

mas é no amar e desamar

que mais dependemos de Deus

 

Não deixaria de te amar

nem que te afastasses de mim

ainda que o amor fosse então

uma saudade sem fim

 

Henrique António Pedro, in Códice da Pátria Luanca (Ver o Verso Edições, 2006)

 

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

É sempre de mim que eu falo



Quando escrevo poesia

e lanço meus versos ao vento

 

Por demais que me esconda

ou me disfarce

me liberte ou me embarace

é sempre de mim que eu falo

a todo o tempo

 

De mim a mim

e de mim aos outros também

sem constrangimento

é sempre de mim que eu falo

e de mais ninguém

 

Na esperança de que as aves do céu

e as bocas do mundo

leiam os meus versos e ponham ao léu

o mais profundo da minha alma

que vagueia pelos universos

 

À procura de novos juízos

afectos e sorrisos

 

A dilatar a alegria de viver

e força de acreditar

num único amor

numa só forma de amar

sem sofrer

sem ilusão

 

No qual

todos nós

poetas ou não

acabaremos

um dia

por nos reencontrar

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 12 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedro

domingo, 16 de novembro de 2025

E a si, que lhe diz este poema?



Escrevo este poema deliberadamente

sem nada ter em mente

sem nada ter que dizer

sem querer dizer nada

 

Eu não quero dizer mesmo nada

acredite

tão pouco nada quero desdizer

leia

aceite o meu convite

e dê o seu palpite

 

Escrevo este poema só para dar o prazer

de ler o que lhe apetecer

a quem o quiser ler

 

Só para lhe dizer o quanto podemos dizer

sem dizer nada

ou nada dizer

ainda que quem diz

também se desdiz

 

Este é o dilema!

 

Este poema a mim não me diz nada

mesmo nada

nada me diz

diz-me nada

 

Mas se digo que este poema a mim nada me diz

já me estou a desdizer

 

Que lhe diz, a si, este poema

ainda assim?

 

Muito

pouco

tudo

ou nada?

 

É que a si algo lhe disser

dalgo a mim me há-de dizer

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 3 de Junho de 2010

Henrique António Pedro

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

UMA MALA DE VIAGEM CHEIA DE SONHO E SAUDADE


Viajo para lá do destino

regresso de além

de para onde nunca parti

mesmo se não saí

daqui onde estou

 

A minha mala de viagem

imagem daquilo que sou

leva e traz poemas e dilemas

cama, pijama e roupa lavada

liberdade e farnel

nunca como ou durmo em hotel

 

Sou um viajante inveterado

sempre viajo sem rumo

acompanhado de gente amada

mesmo se viajo só

só para sentir saudade

 

A minha mala de viagem

feita de sonho e de vento

não é fantasia é poesia

mais real que a realidade

com ela viajo no tempo

no espaço da eternidade

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 25 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Escrever poesia é assim como lavrar a Terra


Escrever poesia é assim como lavrar a Terra

para semear pão

tanger docemente o Coração

para encantar amores

vivenciar a Vida em verso

e ficar à espera

de que as dores desapareçam

 

Escrever poesia é tocar com arte e melodia

ouvidos e demais sentidos

iluminar a vista

apurar o olfacto

afagar o tacto

e aguçar a Razão

 

Escrever poesia é estender a mão aberta

para dar e receber

nunca o punho fechado para bater

ou abrir a boca para declamar

nunca para insultar

 

Escrever poesia é amar de amor apenas

com todos os sentidos e dilemas

 

É assim como arar a Terra

lavrar poemas nas pedras do caminho

pegadas destinadas a serem apagadas

ou imortalizadas conforme o destino

 

Vale de Salgueiro, domingo, 25 de Julho de 2010

Henrique António Pedro

 


terça-feira, 4 de novembro de 2025

Esta ilusão que a poesia a mim me dá



Esta ilusão que a poesia a mim me dá

de que algum dia serei alguém

que não apenas mais um

entre tantos mortais

meus iguais

 

É uma quimera poética

uma utopia épica

é pura melancolia de quem sempre espera

sem que saiba bem de quê

 

É nostalgia do paraíso perdido

lamento de anjo caído

já se vê

 

É esperança de que a todo tempo

a felicidade acabará por acontecer

 

Esta ilusão que a poesia a mim me dá

não me abandonará jamais

nem mesmo depois de morrer

 

Porque esta ilusão

esta alegria

esta tristeza

esta certeza

que a poesia sopra no meu coração

é o motor do viver

de quem como eu

vive de amor

 

Vale de Salgueiro, sábado, 21 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro