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terça-feira, 6 de maio de 2025

Afago a cabeça. Apalpo a alma


(Revisto)


Mimoseio-me numa tentativa de me encontrar

mas não me encontro

nem é a mim que tacteio

 

Não me enxergo no crânio escalvado

acabado de sair do barbeiro

mas sinto uma sensação suprema

que me percorre o corpo inteiro

me pacifica e me acalma o coração

embora esprema desesperadamente a Razão

 

Transfiro-me para as cabeças dos dedos da mão

com que apalpo a caixa craniana

em que se aloja todo o meu encéfalo

 

Ainda assim a mim me sinto

no curto-circuito que se estabelece

entre a pele dos dedos

e a Mente sucedânea

angustiada

 

Dá-me prazer ficar assim

por momentos

a andar à roda

atrás de mim

como pescadinha de rabo na boca

de olhos vendados

a jogar comigo à cabra-cega

jogo de paciência

e demência

 

Que melhor prova da minha existência

posso encontrar

se é a minha alma

a minha essência

que a si própria se apalpa

sem a si mesma se apalpar?!

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 12 de Junho de 2009

Henrique António Pedro 

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

 


domingo, 4 de maio de 2025

Aprendi a amar nos braços de minha mãe


(A minha singela homenagem a todas as mães)

Quando abri os olhos pela primeira vez

e percebi que outros me fitavam e sorriam

enquanto sentia que uns braços me estreitavam

de uma forma que só poderia ser a de uma mãe

  

Logo ali pressenti o que era o amor

e o que amar seria

embora sem então perceber

que aquela mulher era minha mãe também

que não era uma mulher qualquer

nem o quanto seu filho eu ser

representava para ela

 

Apenas quando nos é dado saber

como nossa mãe nos ama

somos capazes de melhor entender

o que é o amor

o que amar será

o carinho com que sempre nos chama

e porque perdê-la a ela

é tão grande dor

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 8 de Março de 2010

Henrique António Pedro


 

 

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Deixo versos impressos no pó do caminho


À ida

deixo poemas

suspensos no ar

e os rastos dos meus passos

impressos no pó do caminho

 

À volta

já a brisa do fim da tarde

lhes deu descaminho

desemaranhou os dilemas

e alisou as arestas dos rastos

 

Outros transeuntes vieram

os pisaram e deformaram

mas seria a chuva telúrica

a apagá-los definitivamente

dissolvendo o pó em lama

 

Poderiam ser maciços graníticos

piramidais

anónimos

erigidos no deserto

que teriam o mesmo fim

embora mais lenta fosse a agonia

ou mais funda a chaga

ainda assim

 

Mas os meus poemas têm o meu rosto

são os rastos indeléveis dos meus passos

que ninguém que preste

apaga

mesmo se os ignora

e não lê

 

Encontram-se

permanentemente

a perderem-se

na imensidão do Cosmos

e só o vento celeste

os dilui em eternidade

 

in  Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

quinta-feira, 24 de abril de 2025

E a paixão também poderá ser...



A paixão também poderá ser

uma aventura

uma momentânea loucura

que nos toma por dentro

nos destabiliza por fora

e em pouco tempo

tudo deita a perder

 

A paixão também poderá ser

um sofrer sem igual

ainda que não nos faça doer

embora sabendo que tal

a qualquer hora

nos irá acontecer

 

A paixão também poderá ser

a origem de uma vertigem

que nos leva a nos precipitar

no fogo que nos irá queimar

 

A paixão também poderá ser

a euforia de uma alegria

que nos embriaga

não entendemos

mas que acaba por abrir uma chaga

no coração

de que só nos apercebemos

quando já não tem reparação

 

A paixão também poderá ser

um querer sofrer

um fugaz prazer

uma prazerosa dor cor de rosa

sem nada ter

de Amor

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 11 de Junho de 2009

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 22 de abril de 2025

O que a mim mais me agrada olhar e ver


Pergunta-me ela

apenas a pensar nela

o que a mim mais me agrada olhar

e ver

 

Respondo só para mim

olhando-a

ainda assim

sem nada lhe dizer

 

O que mais me agrada olhar

e ver

é o azul cerúleo dos lagos

orlados do verde viçoso dos vales

em contraste com o azul-escuro das serras

e a alvura da neve que nas cristas resplandece

iluminada pelo azul diáfano do céu

por entre tufos de nuvens de prata a flutuar no ar

quando a luz do sol tudo incendeia

com inesperados reflexos doirados

 

Aprecio sobremaneira o luar

e o brilho das estrelas

a luminosidade do seu olhar

o brilho fulvo da sua cabeleira

que graciosamente se despenteia

esvoaçando neste cenário

imaginário

 

Aprecio tudo

aprecio-a a ela

sobretudo

quando a olho

a vejo

desejo

e a sinto de verdade

 

Aprecio tudo

quando tudo

se envolve em espiritualidade

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 31 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro

 

domingo, 20 de abril de 2025

Luar

Passo

um braço

 pelos ombros dela

com doçura

e ela a mim me abraça

pela cintura

 

Assim abraçados

para Sul voltados

somos um só perfil recortado pelo luar

na abóbada celeste azul

cintilante

marchetada de estrelas mil

em incessante bruxulear

 

Diz-me que gostaria de viajar

até à mais distante

sempre a mim

assim

abraçada

e pergunta-me em que penso eu

 

Penso em ti

respondo

inebriado de paixão

 

Penso numa estrela bem mais próxima

cujo coração ouço aqui cintilar

bem junto do meu

 

Mais luz o luar com o seu sorriso

abraçamo-nos ainda mais forte

um para o outro voltados

os dois para o mesmo norte

qual Adão e Eva

retornados

ao paraíso

 

 

Vale de Salgueiro, domingo, 21 de Junho de 2009

Henrique António Pedro