In Anamnesis (1.ª
Edição: Janeiro de 2016)
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Cantar de encantar a pedra
Não me consta que houvesse
mestre maçom
por mais iluminado
que de porpianho mais soubesse
que o pedreiro Justiniano
embora ele não fosse
nem crente nem ateu
Encantado ficava eu
ouvindo o mestre canteiro
cantar à cantaria
que ele próprio esquadrou
nas fragas do inóspito
e sombrio quadraçal
Ei pedrinha ou…
ei pedrinha ou…
E o tosco bloco de granito
mais pesado que a cruz de Cristo
deslizava enlevado
por via da magia
do laico cantochão
Leve como a água de poesia
que então se vertia
na cabeça do neófito
na pia baptismal
em busca da salvação
Ei pedrinha ou…
ei pedrinha ou…
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Húmus
Hoje
vou caminhar adrede
campos fora
noite a dentro
atolar-me na lama
dos caminhos
Vou esquecer que
existo
votar-me ao abandono
diluir-me na
Natureza
não responder a
ninguém
fintar o sono
tratar as ideias com
desdém
Vou deixar que a
minha angústia
se misture com a
água da chuva
em húmus de poesia
que as raízes das
plantas a absorvam
e a convertam em
seiva
Para desabrochar em
flores de alegria
já na próxima
Primavera
e florir em fruto lá
mais para o Outono
Hoje
vou caminhar adrede
campos fora
noite a dentro
até entrar em transe
e explodir em êxtase
quando o Sol raiar
Vale de Salgueiro, sexta-feira,
5 de Fevereiro de 2010
Henrique António Pedro
In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Despeço-me. Adeus!
Agora
sou verdadeiro
sou o
que pareço
Já não
morro
já
não vivo
Não
choro
nem
rio
Não
gozo
não
sofro
Já
nada faço aqui
Já voo
outros céus
em
círculo
respiro
outros ares
a
arfar
navego
à vela noutros mares
distante
das tempestades
Já vivo
o que nunca vivi
não sou
mais “eu”
nem
sofro o que sofri
Sou agora
um todo
inteiro
a
sonhar
De mim
sem
demora
me
despeço
e me
apresto
para
a mim
breve
voltar
Em cada
instante parto
de
mim me aparto
e regresso
a mim
Despeço-me.
Adeus. Até ao meu regresso.
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Sombras de luar
Por
agora ainda a Lua se desvanece
em fumo
no céu
azul
imaculado
Alva
circular
translúcida
aparentemente
imóvel
sem nuvens
que a posssam referenciar
Percebe-se
melhor
o seu
movimento
depois
que as primeiras estrelas
surgem
no céu
É preciso
esperar
para
ver
O luar
recorta nas almas
imagens
doces
amorosas
mas as
suas sombras
são
vãs
ilusórias
São as
sombras da paixão
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Batendo com a cabeça no Infinito
Nestas noites amenas e serenas
em que o espírito se embriaga de espiritualidade
e a angústia se adoça
em doce soledade
fascina-me o Firmamento
Vejo-me reflectido no imenso espelho
cristalino
que me envolve
e me toma o pensamento
Expedito
voo por ele adentro
Até que bato com a cabeça no infinito
qual insecto vagabundo
que se projecta contra o vidro
em que se vê reflectido
Também eu me iludo
e julgo ser aquele
o meu mundo
Mas depressa me dou conta
de que não tenho pernas
nem braços
nem asas
nem motor espacial
capazes de lá me levar
E que apenas se voar
por mim adentro
poderei
um dia
lá chegar
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Esta saudade cadela
(Do meu baú
de recordações)
Esta saudade cadela
me morde
e me ladra
a toda a hora
furiosa
e não me deixa dormir
Em vão tento amansá-la
imaginando a minha amada
saudosa
a sorrir
amorosa
escrevendo o aerograma
que agora tenho na mão
em que me diz
que me ama
Aerograma que leio
e releio
mas mais me enleio
nesta cruel nostalgia
nesta saudade
insidiosa
cadela
que ladra à lua
Só mesmo a poesia
dá conta dela!
Nangololo (Norte de Moçambique), Agosto de 1971
Henrique Pedro
Subscrever:
Comentários (Atom)





