Entristeço
percebo que envelheço
Não tenho ideia de morrer
muito menos de matar
sinto-me cada vez mais vivo
com mais vontade de amar
Acordo
não mais adormeço
Nasci para viver e amar
no ventre de minha mãe
alimentado de amor e leite
deleite do seio materno
se é que o Amor não vem dantes
de muito mais dalém
Se assim for sou eterno
Vivo vida aventurada
feita de dor, paixão e ilusão
amor, morte e mais nada
Agora me dou conta
melhor professor é a dor
sobretudo o sofrimento
que nos corrói por dentro
Tomei por amor a libido
apaixonei-me vezes sem sentido
amei com sofreguidão
dominei amantes fogosas
cavalguei ondas alterosas
escalei montanhas escarpadas
veloz voei pelos ares
acelerei nas estradas
Embebedei-me de adrenalina
jurei pelo Evangelho
guerrear pelo Império
bati-me pela Verdade
conspirei pela Liberdade
senti saudade em surdina
vivi ansiedade e ambição
sofri a euforia da paixão
Sorri e chorei
perdi e ganhei
Melhor percebo também
a Natureza nossa Mãe
nunca está triste ou alegre
mesmo ao Inverno resiste
sou eu quem entristece
perco alento por fora
alimento-me por dentro
Se afrouxa a pulsão sexual
perco o amor-próprio
a predisposição para o mal
desperta o amor por mim
e pelos outros
ainda assim
por tudo que me rodeia
qual doce melopeia
quase auto compaixão
Por cada paixão que morre
mais o Amor se incendeia
Aprisionei fortes vendavais
tornei-os brisas amenas
substituí por novas alegrias
velhas e tristes penas
transformei o fogo do Sol
em doce Lua-de-mel
o aroma da sensualidade
no perfume da Amizade
adocei montanhas em colinas
fiz as vagas alterosas
vir beijar
de mansinho
as areias da praia
Ampliei a luz das estrelas
para iluminar de espiritualidade
o caminho infinito da Eternidade
Converti paixões em Amor
força que não obedece ao Cosmos
ao Caos
ao inferno
e nos leva de retorno a Deus
ao Eterno
Interrogo-me sobre a vida e a morte
sobre o amor “post mortem”
Amo e vivo tanto
que anseio poder encontrar
ainda
entretanto
melhor que amor e amar
se possa imaginar
O Amor único e uno
que nos liga de nós ao Todo
Vale de Salgueiro, 27 de Dezembro de 2007
Henrique António Pedro