quarta-feira, 27 de março de 2013
Versos impressos no pó do caminho
À ida
deixo
poemas
suspensos
no ar
e os rastos
dos meus passos
impressos
no pó do caminho
À volta
já a brisa
do fim da tarde
lhes deu
descaminho
desemaranhou
os dilemas
e alisou as
arestas dos rastos
Outros
transeuntes vieram
os pisaram
e deformaram
mas seria a
chuva telúrica
a apagá-los
definitivamente
dissolvendo
o pó em lama
Poderiam
ser maciços graníticos
piramidais
anónimos
erigidos no
deserto
que teriam
o mesmo fim
embora mais
lenta fosse a agonia
ou mais
funda a chaga
ainda assim
Mas os meus
poemas têm o meu rosto
são os
rastos indeléveis dos meus passos
que ninguém
que preste
apaga
mesmo se os
ignora
e não lê
Encontram-se
permanentemente
a
perderem-se
na
imensidão do Cosmos
e só o
vento celeste
os dilui na
eternidade
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terça-feira, 26 de março de 2013
A pensar na vida
Mais um dia
mais um momento
em que me predisponho a
pensar a sério na vida
Venho fazendo isto
sistematicamente
desde que me dei conta
que sou gente
embora aparentemente
nos outros dias
não deixe de me
preocupar
Sem nada
até hoje
concluir
Talvez chegue a uma
conclusão
desta vez
quanto mais não seja
que tudo está fora do alcance da Razão
Mas eu não sou
agnóstico confesso
e até professo a
doutrina de Cristo
Embora sinta
por vezes
vontade de me rebelar
de mandar tudo à merda
e considere pura perda
estar assim me
martirizar
Mas acabo sempre por me
humildar
e caminhar sem tino nem
destino
de cabeça cabisbaixa
ao sabor do vento
por caminhos traçados
por montes e vales
inteiramente mergulhado
na Natureza
e subjugado às forças
telúricas e cósmicas
que assim livre sobre
mim melhor se fazem sentir
impondo-me o seu norte
Até à hora em que são
horas de demandar ao jantar
É então que sinto o
estômago falar mais alto que e Razão
e no coração melhor
ouço a voz interior
que me segreda que a
minha mente é sim insuficiente
demente
mas que não me importe
No coração palpita o
espírito
que acende um
calorzinho interior a que se chama amor
E aí
sem ter que pensar
encontro explicação
para tudo
até para a morte
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domingo, 24 de março de 2013
A mais obscena das palavras
Onde
ponho as mãos
e o
olhar
tudo
transformo em poesia
por
via do amor
As
flores
sou eu
que as crio
A luz
das estrelas
sou eu
que a acendo
A
paixão das mulheres apaixonadas
sou
que a incendeio
O sorriso
das crianças
todas
as esperanças do mundo
sou eu
que as rasgo
Respiro
poesia
como
poesia
transpiro
poesia
transformo
em poesia a própria dor
Há uma
palavra, todavia
que não
ouso pronunciar
nem tão
pouco de rimar
com
poesia
É a
mais obscena de todas as palavras:
- A palavra odiar
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sábado, 23 de março de 2013
A verdade…é que…
A
verdade…
é que
a fraga informe
se não
transforma em estátua
só
pela acção do vento
da
chuva
e do
tempo
A
verdade…
é que só
no reino da fantasia
a
estátua ganha vida
por um
sopro de magia
A
verdade…
é que
não basta sonhar
para a
obra se erguer
é
preciso suar
A
verdade…
é que
não basta esperar
para o
homem se converter
e em santo
se transmutar
é
preciso porfiar
A
verdade…
é que
não basta morrer
para o
espírito livre
se
salvar
A
verdade…
é que
é preciso querer
viver
sofrer
e
muito amar
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sexta-feira, 22 de março de 2013
Anamnese
Há
quadros dependurados
inclinados
no
mural da minha memória
Que
me apraz deixar assim
empoados
contrastando
com as colunas jónicas
que
alicerçam a lembrança
São
eventos suspensos no tempo
efeméride
efémeras
Quimeras
de
que já nada se espera
Amores
que se diluíram em dor
até
se esquecer
Afectos
pendentes
para
sempre
a
fazer-me lembrar que a história
se
não faz de memória
mas
de esquecimento
Esquecer
não é apagar da recordação
é
varrer do coração
Anamnese
é a exegese
de
uma paixão
Vale de Salgueiro, sábado, 11 de Agosto de 2012
Henrique António Pedro
NOTA : Publicado posteriormente no livro de poemas Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)
Depósito legal: 404160/16
ISBN: 978-989-97577-52
quarta-feira, 20 de março de 2013
A Poesia é a coisa mais reles que existe
Não
dorme
não
come
não
descansa
Dança noite
e dia
passa
de mão em mão
num
permanente afobo
vai
para a cama com toda a gente
e anda
na boca do povo
Então
agora com esta coisa de Internet
é um
desaforo
é
demais
A
coisa mais reles que existe
é a
poesia
A toda
a hora ela aí está
a saltar
de continente
para
cá e para lá
entre
portugueses e brasileiros
e
outros forasteiros
tudo
gente demente
Tenham
dó!
São
milhares que se envolvem
com as
poesias
e se entregam
a confidências
dislates
disparates
até a
traições matrimoniais, vejam só!
e a outras
tantas fantasias
É demais!
A
coisa mais reles que existe
é a
poesia
Se a
poesia fosse mulher
eu
casava com ela
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