domingo, 10 de dezembro de 2017
Fado do mal amado
(Do meu baú de recordações)
Nunca
houve outro amor assim
Uma tão
cruel paixão entontece
Entrega
tão pura ninguém merece
Nem se a
mulher for um querubim
Agora
choro lágrimas sem fim
Meu
pranto ao longe se esmorece
Como uma
mal sucedida prece
Que
amargamente se vai de mim
A fada
cruel quebrou o encanto
Para
sempre seu coração calou
Esta é a
razão deste meu pranto
Mas a vil
paixão de mim não voou
Por isso
canto este triste canto
O fado
amargo que me tocou
Chaves, 8
de Março de 1966
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Fogo-de-artifício nuclear
Andam agora os homens a forrar o céu
com aviões
satélites
luzes de néon
rastos de luz e de fumo
Presumo que pretendem tapar o Sol com uma peneira
apagar as estrelas
soprar as nuvens
e aprisionar cometas
Já os políticos histriónicos
se julgam donos do Sistema Solar
como se as estrelas estevessem ali
à sua mão de semear
Queira Deus que tudo não termine num sopro de ferro incandesce
num monumental fogo-de-artifício nuclear
tendo como música de fundo um acordeão atómico
coro de demónios a bailar
Oh, tanta mente demente!
Que sacrifícios agónicos iremos nós penar?
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
De barro e poesia
Com barro
bruto o Criador criou o homem
Insuflando-o
com a divina poesia
Para
Sua simples recreação e alegria
E
sem as dores que ora aos mortais consomem
Porém,
tais graças com a poesia eclodem
Que barro
vil, por Deus soprado, ganhou vida
Animou
Adão e fez Eva apetecida
Dos
maiores deleites que na Terra ocorrem
Ao
barro, porém, nosso corpo retornará
Finando-se
dores e prazeres com a morte
Só a
mais pura poesia se salvará
Assim
livre da matéria e da má sorte
O
homem, com poesia, a Deus louvará
E
amará, como Deus quer, Eva, a consorte
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
Terra Mater
Enlevam-se
o meu olhar e o meu coração
Neste
doce mar de oliveiras prateadas
Meu bendito
berço de mil colinas encantadas
Toma-se o
meu ser da mais santa comoção.
Bandos
de aves livres voam em livre formação
Pela branda
brisa do cair da tarde embaladas
São pela
nossa Mãe Natureza abençoadas
Dão asas
e graça à sua natural paixão
Terra sem
igual sagrada pela oliveira
Aspergida
por espiritual quietude
É
ganha-pão de gente simples, pura e ordeira
Que nos úberes
vales de rio e ribeira
Cultiva sua
grata agrária virtude
Assim
haja paz igual na Terra inteira
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
Quando a minha alma em mim anda perdida
Estou só
Na casa
vazia
televisão
acesa sem som
silêncio
denso
constrangedor
Um cálice
de vinho do Porto
semivazio
sobre a mesa
sobre a mesa
Meio morto
bebo
e encho
de novo o cálice da ansiedade
Mergulho
absorto
mais e
mais
na mais
amarga solidão
amálgama
de filosofia, poesia e ansiedade
Descubro
com
emoção
que
existo
e que a
minha alma em mim anda
perdida
Não sei
que lugar ocupo na humanidade
Mas eis que o
telefone toca!
É quem me
ama que me chama!
Emerjo
na piscina da
alegria
qual campeão
olímpico
ovacionado
pela multidão
em mil imagens
de caleidoscópio
Agradeço
os aplausos
Aplaudo-me
a mim próprio
sábado, 18 de novembro de 2017
A poesia de amor não passa de uma farsa
A poesia de amor não passa de uma farsa
de uma momice
de uma doce aldrabice
De uma mistificação rimada
declamada
cantada
decantada
e nem sempre bem-intencionada
A poesia de amor é um fingimento de sentimento
uma perda de razão
É um chorrilho de fantasias e falsidades
de meias verdades
de falsas alegrias
de piruetas e caretas
de esgares próprios da paixão
A poesia de amor não passa de uma farsa
com que o poeta
com versos perversos se disfarça
A poesia de amor é um paradoxo
uma desgraça
um meio pouco ortodoxo
de redenção
A poesia de amor é uma sublime encenação
Vale de Salgueiro, quarta-feira, 14 de Março de
2012
Henrique António Pedro
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