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sábado, 18 de julho de 2015

Toda a poesia que sinto e não escrevo


 

Passa nas nuvens
nos sonhos
nos desejos
a correr
fugaz

Sob mil formas de amar
e de sofrer
de vento
e de contratempo

Toda a poesia que sinto e não escrevo

Que não escrevo porque não sei
não porque não quero

Que não escrevo não porque não tenha tempo

Que não escrevo porque não sou capaz

É poesia tudo que sinto
e não sei escrever

É angústia
é tormento

É epifenómeno do meu viver

terça-feira, 9 de junho de 2015

Assistindo ao pôr-do-sol pousado num fio de telefone




Ufa!
Ainda estou ofegante!
Vim a correr para lhes contar

Foi uma experiência esfusiante
verdadeiramente surreal
neste início de Primavera

Acabo de assistir ao pôr-do-sol
pousado num fio de telefone
a olhar o mundo de cima
lado a lado com as andorinhas
acabadas de chegar das terras do sul
e algumas rolas turquesas
que por aqui habitam todo o ano

Todos no mais devotado silêncio
apesar dos latidos dos cães
que não paravam de correr e saltar
tentando alcançar o nosso poleiro
para também eles se empoleirarem

Lindo foi quando o astro rei
amarelo como uma gema de ovo
mergulhou definidamente no horizonte

Nesse momento todas as andorinhas me olharam
e me confidenciaram
que já haviam sido galadas
e que traziam sóis como aquele no ventre

Depois bateram as asas e recolheram aos ninhos
sem contudo se comprometerem a voltar
amanhã de manhã
para assistir o nascer do sol

Eu, por mim, lá estarei, porém!

Espero que o Sol não falte!



quarta-feira, 3 de junho de 2015

Moro no infinito. Existo na eternidade


.

 

Arrasto comigo o infinito
e a eternidade
para onde vou

Vá para onde for encontro espaço sem fim

Morra quem morrer
não se acaba o tempo

Aqui onde estou
no tempo em que vivo
é onde o infinito se inicia
e a eternidade começa

Vivesse noutro tempo
em qualquer outro lugar
com ar para respirar
e cérebro para pensar
sentiria a mesma sensação
o mesmo aperto de coração
o mesmo lapso de Razão

Por isso moro no Infinito

E existo na eternidade

domingo, 19 de abril de 2015

Por não ter tempo a perder a pensar



(in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016))


Por não ter tempo a perder

a pensar

 

Tempo para me demorar

a ir

e a vir

do coração ao mundo

da razão ao cosmos

de mim à eternidade

 

Tempo para me perder no dia-a-dia

em tecnologia

em cálculos

em tramas

em enredos judiciais

 

Nos livros de contabilidade

nas páginas dos jornais

e em tudo o mais

 

Os meus poemas são atalhos

curto circuitos

auto-estradas mentais

entre mim e a verdade

pendente

 

Por não ter tempo a perder

a pensar

escrevo poesia

para prontamente

lá chegar


Vale de Salgueiro, terça-feira, 8 de Setembro de 2009

Henrique António Pedro

 

 

 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Maravilhado ando eu com o Amor


 
 


Maravilhado

ando eu

com o Amor

 

Mais do que com o Sol ou a Lua

as estrelas

o Céu

a Terra

o mar

o trovão

as aves e os aviões

que voam nos ares

e atolam a Razão

 

O Amor

esse

transborda o coração

e extravasa a mente

 

É mais do que a gente sente

 

A mais generosa dádiva do Criador

 

O prodígio maior da Criação

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 4 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Eu sabia que um qualquer dia





Eu sabia que um qualquer dia

 

Eu sabia

que um qualquer dia

havia

de lá tornar

 

Era o coração que mo dizia

 

E que ao lá voltar

tornava a muitos mais lugares

separados no tempo

espalhados mas ligados

no mesmo fio de sentimento

numa estranha conexão

que só mais tarde compreendi

 

Só não sabia

que seria

assim tão de repente

sem razão visível

nem causa aparente

e que sentiria o que senti

 

Só não sabia

que encontraria

tudo assim tão diferente

tantos espaços desertos

tanta gente ausente

tantos silêncios abertos

 

Fiquei por isso parado

calado

no doce prazer de sofrer

a recordar

tomado de nostalgia

 

Daquela galega morrinha

que ainda agora

agorinha

me não mata

mas me mói

 

Doer

de verdade

dói a saudade

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro 

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)