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domingo, 31 de dezembro de 2023

Eu não espero nada nem de ninguém



Eu não espero nada nem de ninguém

 

Não estou à espera de nada

nem de ninguém

nem de mal nem de bem

nem de mau nem de bom

de boa ou de má sorte

do engano de um novo ano

muito menos da morte

 

E porque havemos nós de estar à espera

que algo

de bem ou de mal

de mau ou de bom

nos aconteça?!

 

Ou de alguém que nos valha

ou simplesmente nos faça bem

e nos mereça?!

 

Quem espera desespera

 

Eu não estou à espera de nada

nem de ninguém

de pé ou sentado

a dormir ou acordado

a sonhar

angustiado

embora não perca a fé

 

Muito embora de mim

tudo eu espere

ainda assim

como de toda gente

e nada me seja indiferente

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 5 de Julho de 2012

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Alto e pare o baile!


Soam as badaladas derradeiras

rasgam-se as folhas restantes do calendário

cumpre-se o fugaz fadário

nada muda na verdade

tão pouco as brincadeiras

 

Quando mais animado o baile vai

estouram garrafas de champanhe

esparrame da insanidade

das gentes alheadas da realidade

que em fantasias se esvai

 

Nas ruas estalam foguetes

e estouram balões

há gritos, apitos, ruídos dementes

joguetes de multidões

 

Nos meus ouvidos há outros ruídos

porém

tristes acordes tangem meu coração

que calar não consigo

sequer afastar da minha mente

também!

 

São gritos lancinantes de esfacelados de guerra

de mulheres maltratadas

é o ranger de dentes dos oprimidos

a dor dos explorados e perseguidos

o sofrer de mendigos e sem abrigo

dos que vegetam nos esgotos torpes

das metrópoles ditas civilizadas

 

Não me contenho e grito:

-Alto e pare o baile!

O salão de festas emudece

A minha dor recrudesce

 

Retiro-me silencioso

pesaroso

circunscrito

levando pela mão a mulher amada

como eu igualmente consternada

 

Saímos porta fora

nada mais nos resta

para nós a festa está terminada

 

Embora no meu coração more a esperança fagueira

de que meus versos hora a hora

explodirão sem temor

como bombas de amor por sobre a Terra

e pousarão qual pombas de paz

aonde lavra a guerra

e a humanidade jaz

sepultada

prisioneira

-Alto e pare o baile!

 

Vale de Salgueiro, 31 de Dezembro de 2007

Henrique António Pedro

 


domingo, 17 de dezembro de 2023

Amo, logo existo!

 


Uma tristeza viva é a vida

se não se vive enamorado

se não se ama ninguém

ou por ninguém se é amado

 

Eu tão pouco sei se existo

aborreço-me em qualquer lado

por isso de amar

não abdico

                                                                            

No prazer me confundo

na dor anseio fugir de mim

e esquecer o mundo

 

Ando de mãos postas

com o coração às costas

só pensar nada me diz

 

Pela via do amor

porém

vou além da vida

e da morte

encontro o rumo                            

e o norte

sou eu

porque sou

feliz

 

É isto que o meu cérebro pensa

o meu coração sente

e o meu espírito me diz

 

Só com no amor me identifico

Amo, logo existo!

 

Vale de Salgueiro, 15 de Novembro de 2022

Henrique António Pedro

 

 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Há roseiras a “rosir” em Janeiro

 



Os meus passos perdem-se no espaço

e no nevoeiro

espesso

num dia frio

e nevoento

de Janeiro

 

É de cansaço

o meu bafo

 

Ocioso

ando em círculo vicioso à roda de mim

esquecido do tempo

com o coração em curto-circuito

e o pensamento sem ideias

gratuito

paredes meias com esta angústia minúcia

de não saber de que lado vai nascer o Sol

no seu vai vem sideral

 

Não sei

nem sei se vai

qual o mal?!

 

Só sei que por todo o lado há nevoeiro

e que também eu ando

obnubilado

 

Embora encantado

com as roseiras a “rosir” em Janeiro

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 28 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedro

domingo, 10 de dezembro de 2023

Poema Delirante do Irracional Número Pi (π)


Calma e muita paciência

que a Matemática é a alma

de toda a ciência consciente

 

O quociente do perímetro da circunferência

pelo parâmetro seu diâmetro é constante

vale 3,14159265358979323846 nem mais

seja em que âmbito for

estudante ou doutor

ontem, hoje, jamais

 

Irracional!

Brilhante!

Emocionante!

 

Puro poema matemático

produto da delirante mente humana

um simples caracter enfático

que vale tanto quanto um verso

no poético universo da poesia Euclidiana

 

Embora circunscrito ao seu valor constante

é infinito

evidente

e encerra uma mensagem permanente

 

Para traçar uma circunferência

basta fixar o centro

estabelecer o raio

e logo o poema dá o perímetro

sem reverência ou qualquer outra referência

 

E …

se o quiser declamar

basta solfejar

Pi (π)

Pi (π)

Pi (π)

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 22 de Março de 2010

Henrique António Pedro

 


sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Hoje faço anos!

 


Hoje faço anos!

 

Também os fiz de facto no ano transacto

 

Fazer anos é um frenesim

é um clamor de amor

ainda assim

 

É contar a idade da amizade

da felicidade e da alegria

com a graça da poesia 

 

Vivo encantado com quem amo

por isso bem não sei

quantos anos em cada ano

conto ou desconto

faço ou desfaço

 

Sem deixar de reclamar, para mim

quantos ainda não amei

quantos tenho para amar

encantos que renovo

 

Aqui deixo e não desleixo de verdade

 um conselho a quem for mais novo

da mesma idade ou mais velho

por feliz sortilégio

 

Não seja demente

estar vivo é privilégio

fazer anos um presente

 

Faça anos sempre em festa

não conte os que lhe resta

nem o passado desmonte

afaste de si a dor

deixe que brilhe amor no horizonte

 

E tome nota no que lhe digo

fazer anos é um dom

 não é castigo

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 9 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Da verdadeira glória


A verdadeira glória gloriosa

lícita, livre, esplendorosa

é a glória de quem não tem poder


É a glória dos poetas, dos santos, dos artistas

de tantos que vivem de amar

e a ninguém fazem sofrer

tão pouco chorar


É a glória da paz e do amor

em todo o seu esplendor

magnificência da humildade


É glória que pela vida fora

por caminhos de sofrimento

embora

a crentes e a ateus

conduz a Deus


É a glória da luz da verdade

chamamento de Jesus

fulgor da eternidade

 

Vale de Salgueiro, sábado, 27 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro


 

 

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Apocalipse

 


Mil rostos tem a Hidra

mil cabeças e tentáculos

mil mandíbulas e garras

mil amarras da Razão

mil trágicos espectáculos

mil insanas ideias

mil sinistras teias da globalização

simulacros da Verdade

eclipse da Humanidade

apocalipse da Criação

 

Abro as mãos em oração

liberto a mente de toda a notícia malsã

amanso o meu coração

 

Deus existe

hoje como outrora e amanhã

apenas anda ausente

 

É satanás que no presente

comanda as nações

semeia a fome na Terra, a peste e a guerra

o temor nos corações

e pela mão do próprio homem

com mil máquinas e maquinações

sacrifica a vida e os animais

e mais agrava as catástrofes naturais

 

É o homem que expulsa as aves dos ares

aprisiona os rios e abate a floresta

transforma os oceanos em abismos de enganos

em funestos alvedrios

da Natureza já pouco resta

 

É o homem que vicia o amor e gera o ódio

conspurca o solo

envenena o ar

encobre o Sol e ofusca a Lua

toda a maldade é obra sua

Oh que triste episódio!

 

Das fontes já não brota poesia

antes veneno e desencanto

pranto e sofrimento

morte de toda a sorte

ofensa e aleivosia

mentiras a esmo

tristeza e lamento

resmas de pecado


Vale de Salgueiro, 8 de Novembro de 2007

Henrique António Pedro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Abro a porta de trás da minha alma

 


Abro a porta de trás da minha alma

que dá directamente para o mundo

 

Ouço sons ladrados no silêncio da noite

pios fantasmagóricos de aves noctívagas

tiros

sons de pneus a chiar

sirenes de ambulâncias

choros de crianças

gritos de fome e de dor

clamor de revolta

cães à solta

insultos

blasfémias

ódios gritados

amores martirizados

violências domésticas

ruídos de discotecas

 

Vejo milhares de mãos entendidas

no umbral

tentando forçar a entrada

sem nada me pedir

 

Dou-lhes poemas

do meu jantar

frugal

para eles caviar

certamente

 

Nada mais tenho para lhes dar

 

Reluzem luzes semeadas na escuridão da Terra

tremeluzem luzeiros na obscuridade do Firmamento

 

Acendem-se angústias na penumbra do meu ser

tenho o coração em chaga viva

a arder

 

Fico pregado no Crucifixo que trago dependurado ao peito

ofusca-me a luz do arrebol

 

Para quando o Apocalipse, Senhor?

Já no próximo eclipse

do Sol?

 

Misericórdia!

Já?!Assim tão de repente?

 

Dai-nos ao menos tempo para vestir a Lua

que anda nua

inocente

 

Vale de Salgueiro, Terça-feira 3 de Junho de 2008

Henrique António Pedro