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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Sons




A gota da clepsidra
seja de areia ou de água
acerta a vida
nada diz da mágoa

O som do diapasão
afina o tom
do violão

O sinal do sino
convida à oração

O longo ecoar do gongo
mais parece um lamento
a toar o tempo

A toque de caixa
ninguém se rebaixa

O rugido de leão
na savana
a ninguém engana

O barrido do elefante
que raspa o chão
tonitruante
dizem ser parecido
com o som da vuvuzela
e que não há outro como o dela

Deixa um zunido
enorme
no ouvido
causa dor
e faz toar a Razão

Mas não faz esquecer
a fome
seja de falta de amor
ou de pão

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Trago um sentimento ágrafo agrafado no peito




Trago um sentimento ágrafo
agrafado no peito
atravessado
na garganta


Abafado
sem jeito

Incapaz de expressar
seja a escrever
ou a falar
a mim mesmo me espanta

Tomara ter
a coragem de uma aragem
para lhe dizer
e lhe confessar
que a amo

Mas temo ser traído
pelo vento

Mal ela sabe com ando sofrido
da raiva que derramo
dentro de mim
por ser assim

Mas eu a amo

Dói
só de o pensar

^^^^

domingo, 20 de janeiro de 2013

Uma chávena de angústia






Entrou de mansinho

surgida da rua

vestida de lua

e sentou-se na mesa ao lado da minha

vida 


Pediu uma chávena de porcelana

imaculada

vazia

de nada


Que encheu de angústia

adoçou com amargura

e mexeu

com a colher da poesia

por entre vapores de Baco

e baforadas de tabaco


Despediu-se sem alegria 

quando eu já bebia

de pé

a minha chávena de café

e de ansiedade


Remexeu

comigo

aquela mulher


Tanto que a impressão carmim

dos seus lábios

rubros de sensualidade

no bordo da chávena de porcelana

imaculada

permanece indelével

dentro de mim

 

in Mulheres de Amor Inventadas

(1.ª Edição, Outubro de 2013)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A samarra transmontana


 

É uma relíquia transmontana
Esta nossa veneranda samarra
Sendo típica veste de montanha
Na verdade, nada tem de bizarra

A pele doirada, de cor piçarra
De dócil raposa sacrificada
À vaidade que lhe deitou a garra
Tem a docilidade entranhada

É indumentária de estação
Que protege do frio no Inverno
Aquecendo corpo e coração.

Todos, no meu Trás-os-Montes paterno
A vestiam bem e com distinção. 
Era, afinal, um sinal fraterno!

Vale de Salgueiro, sábado, 21 de Agosto de 2010
Henrique Pedro

sábado, 12 de janeiro de 2013

É sempre de si que o poeta fala




Quando chora ou ri

Quando cala
ou canta a dor
ou exalta o amor

Quando se angustia
e abre a mente à fantasia

Quando vitupera a mentira e a guerra
e reclama a paz para a Terra

Quando uiva de saudade

Quando põe a nu a verdade
e denuncia a falsidade

Ou quando se dá ao desfrute
de nada dizer
em rima exaltada

É sempre de si
que o poeta fala

Mesmo quando de si
nada diz

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Abro a janela da alma e ponho-me a gritar





Refugio-me da chuva
neste frio dia de Inverno
do mês derradeiro
do ano
de tão triste engano

Grossas gotas de angústia
e desânimo
batem forte na vidraça

Vejo o meu país
em torpor
varrido por ventos
uivantes
de dor
e desgraça

Percebo mil imagens e ruídos
apelos doridos
gemidos
choros de crianças
que não conseguem adormecer

E ouço o povo
que a si mesmo se diz:
Para que lutar?
Melhor será deixar acontecer

Já se perdem as derradeiras esperanças

Sinto frio dentro de mim
tenho medo
assusta-me o futuro

Interrogo-me 
ainda assim
angustiado
de nariz colado
ao vidro
calado

Mas a mais não me aventuro

Já ninguém escuta ninguém
todos temos tudo a perder
já nada a democracia ressalva

Que poderei eu fazer?

Irracional
abro a janela da alma e ponho-me a gritar
de rompante:
- «Aqui, em Portugal
ou nos salvamos todos
ou ninguém se salva!
Portugueses!
Avante!»

Alguém me há-de escutar!

Vale de Salgueiro, terça-feira, 13 de Janeiro de 2009
Henrique Pedro