sexta-feira, 6 de junho de 2014
Em que alvorada irá meu espírito despertar?
Exausto
limito-me a deixar-me adormecer
sem saber
nem tão pouco me preocupar
quando
como
e aonde irei acordar
De pronto
entro a sonhar
Sonhos súcubos
coloridos
doridos
alma e corpo a guerrear
Fenómenos oníricos
pensamentos empíricos
que tento em vão traduzir
agora já acordado
enredado no insolúvel trilema
deste poema
Sou contudo levado a deduzir
que sempre que sonho a dormir
é o corpo que sonha
mas a alma
que tenta acordar
E que sonha o espírito
quando vivo
de verdade
no corpo e na alma
sonho ou realidade
Por isso anda a minha alma angustiada
a pretender saber
em que alvorada
irá meu espírito despertar
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Diz-se do ódio o que se diz da paixão
Amar
amamos
pessoas verdadeiras
e inteiras
Não amamos
só um rosto
um
braço, uma perna, uma mão
tão
pouco só um corpo, um estatuto
sequer só
um coração
Amar
amamos
algo de imanente
permanente
e transcendente
desconhecido
distendido
que não
se encobre nem disfarça
e não
nos embaraça
Daí que
o motivo do nosso amor
possa
estar numa mulher
num
homem
num
ente escondido
velho,
novo, doente ou são
Já a
paixão não!
A
paixão tem rosto
e tem
corpo
tem
perfume
utilidade
irradia
sensualidade
gera
ciúme
é
obceção
Apaixonar
apaixonamo-nos
por uma pessoa concreta
que em
nós desperta moléculas
de
vício
de
prazer e atracção
ou de
alienação
embora com
fantasia
Pessoa que
nos inquieta
nos
arrelia
basta
um indício
uma
indisposição
Por
isso se diz do ódio
o que
se diz da paixão
sexta-feira, 30 de maio de 2014
Do Amor e da Razão
A
(Heptassílabo ou redondilha maior)
Entendeu o Criador
Envolver-nos em mistério
Entre agruras e dor
Com Amor por
refrigério
O prazer é sal da vida
O sabor do bom viver
Mas a vida mal
vivida
Tudo deita a perder
É nesta escuridão
Que devemos caminhar
Porém, à luz da Razão
Para nos alumiar
Com Amor no coração
Também o Bem praticar
B
(Decassílabo)
Entendeu Deus, o
nosso Criador
Envolver-nos em
pesado mistério
Adoçado nas agruras
da dor
Pelo Amor, divino
refrigério
O Amor é, assim, o
sal da vida
Sabor e alegria de
viver
Mas o prazer da vida
mal vivida
Tudo poderá deitar a
perder
Porém, ante tanta
escuridão
Para melhor podermos
caminhar
Também Deus nos deu
a luz da Razão
E para melhor nos
alumiar
Outra luz acende no
coração
A quem o Amor, por bem,
praticar
terça-feira, 27 de maio de 2014
Se o poeta amasse sinceramente
Se o
poeta amasse
sinceramente
não
faria do amor
poesia
Limitava-se
a amar
tão
somente
amar
não é fantasia
Se o
poeta sofresse
verdadeiramente
não
faria da dor
poesia
Limitava-se
a sofrer
como
toda a gente
sofrer
não é filosofia
O
poeta não sofre suas dores
nem
ama seus amores
ama e
sofre as dores e os amores dos demais
O
poeta só é sincero quando escreve versos de combate
poemas
intemporais
por
toda a parte
sejam
de amor
de
dor
ou de
alegria
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Não me verás a acenar, a dizer-te adeus
O verde-esmeralda do teu mar interior
esse mar mediterrânico de amor
vai virar azul
e debruar-se de lampejos doirados
de desilusão
Mas o arco-íris da paixão
vai estabelecer uma ponte
uma grinalda florida
por cima do oceano
entre o teu e o meu
coração
Então as larvas da saudade
transmutar-se-ão em borboletas coloridas
os versos em rimas redimidas
e os poemas em cometas
Cometas que são livros
a derramar estrelas
de iluminar
E sempre nos poderemos reencontrar
a meio do mar
Não me verás a acenar
a dizer-te adeus
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Pedra de sonhar
Sinto
o corpo inteiro
a
levitar
sem da
alma
se
separar
Agarro-me
desesperadamente a mim
sinto
medo de voar
assim
Flutuo
como pedra
no ar
por
entre as nuvens
Penedo
medo pesado
ejectado
no sonho
Enorme
disforme
a rasgar
a Razão
Força
da explosão
que implode
o coração
Pesadelo
pedra de
sonhar
miragem
Antes
fosse folha
pétala
pena
etéreas
como o pensamento
que a
mais leve aragem
o mais
brando vento
fizesse
voar
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