não porque não quero
Que não escrevo porque não sou capaz
Ufa!
Ainda
estou ofegante!
Vim
a correr para lhes contar
Foi
uma experiência esfusiante
verdadeiramente
surreal
neste
início de Primavera
Acabo
de ver o pôr-do-sol
a
olhar o mundo de cima
pousado
num fio de telefone
Lado
a lado com as andorinhas
acabadas
de chegar das terras do sul
e
algumas rolas turquesas
que
por aqui habitam todo o ano
Todos
no mais devotado silêncio
apesar
dos latidos dos cães
que
não paravam de correr e saltar
tentando
alcançar o nosso poleiro
para
também eles se empoleirarem
o
que seria um espanto
Lindo
foi quando o astro rei
amarelo
como uma gema de ovo
mergulhou
definidamente no horizonte
e
as andorinhas me olharam
e
me confidenciaram
que
já haviam sido galadas
e
que traziam sóis como aquele no ventre
que
eram um encanto
Depois
bateram as asas de repente
e
recolheram aos ninhos
sem
se comprometerem a voltar
amanhã
de manhã
para
assistir o nascer do sol
Eu, por mim, lá estarei,
porém!
Espero
que o Sol não falte!
(in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016))
Por não ter tempo a perder
a pensar
Tempo para me demorar
a ir
e a vir
do coração ao mundo
da razão ao cosmos
de mim à eternidade
Tempo para me perder no dia-a-dia
em tecnologia
em cálculos
em tramas
em enredos judiciais
Nos livros de contabilidade
nas páginas dos jornais
e em tudo o mais
Os meus poemas são atalhos
curto circuitos
auto-estradas mentais
entre mim e a verdade
pendente
Por não ter tempo a perder
a pensar
escrevo poesia
para prontamente
lá chegar
Vale de Salgueiro, terça-feira,
8 de Setembro de 2009
Henrique António Pedro
Maravilhado ando eu com o Amor
mais do que com o Sol ou a Lua
as estrelas
o Céu
a Terra
o mar
o trovão
as aves e os aviões que voam
nos ares
Mais do que a paixão
que enrola a razão
o Amor extravasa a mente
e transborda o coração
O Amor
prodigiosa sensação
é mais do que a gente sente
O Amor
é a mais generosa dádiva do
Criador
É o prodígio maior da Criação
Vale de Salgueiro, segunda-feira,
4 de Outubro de 2010
Henrique António Pedro
in Introdução à Eternidade(1.ª Edição, Outubro de 2013)
Eu sabia que um qualquer dia
Eu
sabia
que um
qualquer dia
havia
de lá tornar
Era o
coração que mo dizia
E que
ao lá voltar
tornava
a muitos mais lugares
separados
no tempo
espalhados
mas ligados
no
mesmo fio de sentimento
numa estranha
conexão
que só
mais tarde compreendi
Só não
sabia
que
seria
assim tão
de repente
sem razão
visível
nem causa
aparente
e que
sentiria o que senti
Só não
sabia
que
encontraria
tudo
assim tão diferente
tantos
espaços desertos
tanta
gente ausente
tantos
silêncios abertos
Fiquei
por isso parado
calado
no
doce prazer de sofrer
a
recordar
tomado
de nostalgia
Daquela
galega morrinha
que ainda
agora
agorinha
me não
mata
mas me
mói
Doer
de
verdade
dói a
saudade
Vale de Salgueiro, terça-feira, 7 de Setembro de
2010
Henrique António Pedro
in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)