quarta-feira, 28 de outubro de 2015
A angústia maior é a Lua
sábado, 3 de outubro de 2015
O vento
É
ar a voar pelos ares
o
vento
É sopro
que atiça a brasa mortiça
É
instrumento de sopro
a
tocar
talento
do pulmão de soprano a cantar
perfume
a atear o lume da paixão
É
ave de asas a adejar
É
pente que de repente despenteia
a cabeleira
da mulher
e que
sem querer
lhe
dá poético parecer
É
pensamento
o
vento
a
soprar por nós a dentro
É pé
de povo revoltado
É balão
de vaidade insuflado
até
rebentar
É
odre podre a peidar
É
fole a soprar
sem
ter nada dentro
É
verdade
o
vento
a
varrer o lixo prolixo
das
ruas do nosso viver
É
nuvem de lágrimas
à
procura de regaço
onde
se verter
É respirar
ofegante de quem quer vencer
É
ar a voar pelos ares
O
vento
é
ar em movimento
Vale de Salgueiro, sábado, 24 de Janeiro de 2009
Henrique António Pedro
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Poema para uma poetisa de Entre Douro e Minho
Pergunta-me qual o
caminho da felicidade
uma poetisa amiga
de Entre Douro e
Minho
É o da poesia
deixe-me que lhe
diga
já que nos leva a
toda a parte
sem nos levar a lado
nenhum
ainda que seja certo
que a algum lado nos leva
A felicidade não
exista em nenhum outro espaço
que não seja no
regaço de nossa mãe
e quiçá
no Além
embora cada um
tenha a sua própria convicção
de que será feliz um dia
sem condição
num qualquer lugar
Poesia que é uma emanação
do amor
que existe em todo o
lado
Por isso o insulto e
a cobardia
jamais serão poesia
porque apenas geram
dor
E a palavra obscena
que mina
e contamina
a amizade
nunca será poesia nem
verdade
tão pouco dilema
antes obscenidade
Aqui por Entre Douro
e Minho
está demarcado o
espaço
traçado o destino
de quem como nós ouve
dentro de si
a voz desse
telurismo maior que é a poesia
manancial de
felicidade
Vale de Salgueiro, sábado,
6 de Março de 2010
Henrique António Pedro
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
Andam aviões a lavrar o ar
Andam aviões a lavrar o ar
A
semear ilusões
e
ventos
no
ar
ruidosos
raiventos
andam
aviões a lavrar o ar
sem parar
A
rasgar montanhas de nuvens
estradas
de fumo
de rumo
rectilíneo
a
tecer no céu o véu da ubiquidade
É a
Humanidade a dançar
sobre
a terra e sobre o mar
a
dança contradança
da
verdade
Viagens
de paz
ou
de guerra
tanto
faz
Quem
sabe aonde tudo isto irá parar?
Vale de Salgueiro, sábado, 14 de agosto de 2015
Henrique António Pedro
sábado, 18 de julho de 2015
Toda a poesia que sinto e não escrevo
não porque não quero
Que não escrevo porque não sou capaz
terça-feira, 9 de junho de 2015
Assistindo ao pôr-do-sol pousado num fio de telefone
Ufa!
Ainda
estou ofegante!
Vim
a correr para lhes contar
Foi
uma experiência esfusiante
verdadeiramente
surreal
neste
início de Primavera
Acabo
de ver o pôr-do-sol
a
olhar o mundo de cima
pousado
num fio de telefone
Lado
a lado com as andorinhas
acabadas
de chegar das terras do sul
e
algumas rolas turquesas
que
por aqui habitam todo o ano
Todos
no mais devotado silêncio
apesar
dos latidos dos cães
que
não paravam de correr e saltar
tentando
alcançar o nosso poleiro
para
também eles se empoleirarem
o
que seria um espanto
Lindo
foi quando o astro rei
amarelo
como uma gema de ovo
mergulhou
definidamente no horizonte
e
as andorinhas me olharam
e
me confidenciaram
que
já haviam sido galadas
e
que traziam sóis como aquele no ventre
que
eram um encanto
Depois
bateram as asas de repente
e
recolheram aos ninhos
sem
se comprometerem a voltar
amanhã
de manhã
para
assistir o nascer do sol
Eu, por mim, lá estarei,
porém!
Espero
que o Sol não falte!