Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

domingo, 27 de julho de 2025

Amo-a, mas não gosto dela.



Amo-a

com enlevo

mais do que devo

ainda assim lhe digo que não gosto dela

embora ela seja muito bela

 

Gostava, isso sim

que ela fosse diferente

e que a mim me fosse indiferente

 

Gostava de amá-la e dela gostar

tal como ela é e como ela quer, mas…

… sinceramente

eu não gosto dela!

 

Diz-me ela que não há mas nem meio mas

que é meu puro engano

ou eu a amo e gosto dela

assim como ela é

ou não amo

e a desgosto

 

Saber eu que a amo, mas não gosto dela

e que assim sendo

como espero

a ela não lhe gosto

e que tonto

não reclamo

também é meu desgosto

 

Amo-a, pronto

mas não gosto dela

muito menos a quero

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 5 de Novembro de 2010

Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Um soldado e sua mãe



Longe do lar

o soldado

calado

não chora

ninguém o ouve chorar

 

Não porque não tenha lágrimas

mas porque de nada lhe serve chorar

 

Também porque lá no lugar

onde anda a lutar

há sangue

suor

e saudade

bastantes para seu choro

calar

 

Muito embora

o soldado chora baixinho

qual menino

angustiado

 

Não por ter medo de morrer

mas por temer não poder

regressar

ao lar

 

Também chora sua mãe

baixinho

em permanente oração

a chamar seu filhinho para junto de si

embora o soldadinho

o seu menino

esteja lá

aqui

ali

e cá

bem fundo no seu coração

 

Sempre assim foi e será

sem que se saiba bem porquê

e por quem

porque espúria verdade

soldados de todas as terras

morrem em todas as guerras

longe do lar

 

Ficando suas mães a chorar

de dor

de amor

de saudade e solidão

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 16 de Junho de 2011

Henrique António Pedro

 

 

terça-feira, 22 de julho de 2025

Ao ritmo que o coração me bate no peito



Martelo palavras sem jeito

ao ritmo que o coração

sem apelação

me bate no peito

 

Teclo por teclar

sem pauta nem rima

é a angústia que me anima

 

Sentimento sem razão

sem tegumento

que se me enrola no corpo

qual sarmento de videira

 

Quiçá sopro de vento divino

que me embriaga como vinho

a vida inteira

 

Sou um cálice transbordante de poesia

poção efervescente de fantasia

que me torna mais liberto

 

Bebo o meu próprio sangue

e mesmo exangue

continuo a cantar

 

Até que adormeço

certo que mais desperto

tornarei a acordar

 

Vale de Salgueiro, domingo, 13 de Dezembro de 2009

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 15 de julho de 2025

Cosmos e caos


Sou cosmos e sou caos

mundo onde tudo existe

acontece

persiste

e desaparece

 

O lugar onde o amor e a dor

coexistem

envoltos no véu da vida

sentida

 

O espaço em que giram as galáxias

e os universos conhecidos

e os que estão ainda por descobrir

 

O céu onde as estrelas brilham

os ventos sopram

troam trovões

e as palavras se concertam em versos

e poemas

 

O hiperespaço em que aconteço

e me mereço

sem saber que pensar

que dizer

o que fazer

a não ser

caminhar apressado

pé ante pé

 

Sou o mundo em que batem corações

e se levantam todas as questões

e dilemas

que ninguém entende

e não têm resposta

 

Tudo existe em mim

ainda assim

 

O caos e o cosmos são a minha alma

que em angústia se desalma

 

Alma que também é tempo de bem

e de alegria

o templo em que se acende a luz da Fé

que se transcende

em Jesus e na Virgem Maria

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 25 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro

 

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Contas do meu Rosário


Não Se fez anunciar ao Papa

à gente poderosa da Terra

não foi notícia de arromba

nas televisões e nos jornais

sem pomposa guarda de honra

nem trombetas angelicais

 

Ainda assim, na minha humildade

sempre que viajo em velocidade

na autoestrada do Norte

quando por Fátima passo

sem que nada mais me importe

sem outra razão aparente

paro a marcha, de repente

porque outra força me anima

sem que saiba porque o faço

 

Vou ajoelhar-me aos pés de Maria

um Santo Rosário rezar

sem intenção de nada Lhe pedir

apenas pelo prazer de reflectir

 

Momento em que voo por mim adentro

me alivio do meu fadário

e ganho uma nova alegria

um alento extraordinário

 

Esta sensação de amor imenso

a paz que me toma o coração

são expressão da Fé que sinto

ao que penso

são contas do meu Rosário

 

Vale de Salgueiro, sábado, 25 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro


segunda-feira, 30 de junho de 2025

Enclausurado no Universo


Paredes de ar

de água

e de pedra

opacas

translúcidas

iluminadas

ruidosas

e frias

 

E eu sem poder fugir

para outro lado

que não seja para dentro de mim

mergulhado no silêncio escuro

da dúvida

e da angústia

 

A única certeza

é a morte

 

Procuro compreender

a verdade

alcançar a felicidade

 

Responde-me Deus

com o Absoluto

o Infinito

a Eternidade

 

Tentarei a minha sorte

 

Vale de Salgueiro, domingo, 12 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro

 

in Anamnesis(1.ª Edição: Janeiro de 2016)