quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Escrevelendo
Quando escrevo
leio
e quando leio
escrevo
Na mente
em segredo
não é devaneio
nem minto
Assim
num de repente
leio
releio
reescrevo
e transcrevo
a Natureza
o Cosmos
o que vai dentro de mim
Primeiro leio o que sinto
ou o que se passa à minha volta
e é o que leio
que escrevo
se me anima
acalma
revolta
ou induz estima
E sempre leio
e releio
o que escrevo
e também escrevo
quando leio
o que os outros escrevem
Leio
e escrevo na mente
ou no coração
embora não com a mão
o que os outros escrevem
para que eu leia
e que algo me diz a mim
Assim me enleio
a escrever
e a ler
em tudo que “escreveleio”
Não aprendemos a ler
primeiro
e depois a escrever
Sempre aprendemos a “escreveler”
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
O amor e a imaginação
Só pela
imaginação
não vai a lado
nenhum
o homem
Não chega sequer a
sair
da sua própria
mente
Só pelo amor
o homem sai de si
chega aos outros
os toma
e retorna
Só pelo amor
penetra no seu ser
na sua razão de
ser
aprende a amar
e a sofrer
Só pelo amor
desta arte
vai o homem
a toda parte
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Como pode a vida ter por fim a morte?
Como
pode a vida ter por fim
a
morte?
Ainda
que o fim da vida
seja
morrer?
Se
viver
é uma caminhada
interior
por
mundos de dor
e de
amor
Por espaços
abertos
de
ideias
e de
afectos
a
meias com o mundo exterior
É vencer
montanhas de glória
de
derrotas sem história
selvas
de ambição
desertos
de sonhos
pântanos
de frustração
Sem se
poder parar
ou sequer
descansar
porque
o coração não pára de bater
nem o
cérebro de pensar
nem a
alma de sentir
Se
morrer é apenas desistir
de
acreditar
E
viver é libertar!
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Mil virgens fatais são demais
Tão curtos são os nossos passos
tão frouxos os nossos abraços
tão limitado o nosso olhar
tão falível a nossa mente
que duvido que algum dia
mesmo por fantasia
possamos deixar de ser gente
e vir
a ser
deuses
Anjos sequer
Muito menos se nos fizermos deflagrar
seja porque causa seja
tão pouco por uma qualquer
mulher
que seja
E como poderíamos nós
tirar gozo das tais mil virgens fatais
num paraíso irreal
sem pernas e sem pénis
sem braços e sem beiços
com que as pudéssemos possuir
e amar?!
Jamais
Nem mesmo imaginar
sequer
Trágico seria
só
admitir
e sorrir
Mil virgens fatais são demais
Vale de Salgueiro, sexta-feira, 18 de Fevereiro de
2011
Henrique António Pedro
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Apenas angústia e lágrimas para partilhar
Quando
e onde nasci
mum pequeno mundo rural
do Portugal
implantado na Europa
por engano
ainda se bendizia a Deus
pelo pão de cada dia
se benziam as colheitas
de cada ano
e se celebrava o seu
sucesso com alegria
Porque se sabia quanto
custava
andar um ano inteiro a
mourejar
ao sol ardente
à chuva
ao frio
e à geada
para se conseguir o
sustento
um naco de pão que fosse
arado, semeado, ceifado,
malhado, moído, amassado, cozido
partido e repartido
com dor
amor
e suor
à força da enxada
e do timão
Mergulhou-se depois num
mundo fácil
de frágil
e fugaz ilusão
Com demasiada gente que deveria
chorar mas que cantava
e ria
por tanto ter que
esbanjar
que adorava os falsos
deuses que lhes punham a mesa farta
e do mundo da miséria os
apartava
mas lhes encondia a
verdade
Agora
são milhares os seres
humanos que não têm que comer
nem deuses a quem
agradecer
e que apenas têm
lágrimas
para partilhar!
Mais a angústia de não
saber que fazer
Agora
mais do que nunca
tem sentido a palavra
solidariedade
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Qual o destino dos sentimentos?
Qual o
destino dos sentimentos
sobretudo
dos afectos mais fortes
dos
maiores amores
ódios
rancores
sobretudo
daqueles que não dirimimos
e nos
fazem andar dias e dias a sofrer
noites
e noites sem dormir?
Acontece-lhes
o mesmo que às pétalas inúteis das flores
que
empalidecem até secar
com o
perfume a diluir-se até deixar de ser aroma
e pés e
espinhos a apodrecer
até
deixarem de magoar
e de
fazer sofrer
Mas não
são lançados à terra
nem se
transformam em húmus
não se
reciclam em novas flores
em novas
pétalas
novos
espinhos
novos
ódios
novos
rancores
novos
amores
novos
perfumes
Convertem-se
em inócuas lembranças
que o
tempo lentamente faz atenuar
até
acabarem por entrar em torpor
e definitivamente
se esquecer
Para
que o espírito se possa
revelar
em amor
o
destino dos sentimentos é se desvanecer
até morrer
Subscrever:
Mensagens (Atom)