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segunda-feira, 20 de junho de 2022

Impossível é viver sem sonhar


Caminho

calado

para lado nenhum

 

Percorro com a vista tudo que me rodeia

sem nada ver

ouço ruídos de fundo

sem perceber qualquer som

 

Embora mantenha os olhos

e os ouvidos abertos

todos os sentidos despertos

 

Calo também o coração!

Deixo-me de sonhos

e de afectos

 

Passo horas esquecidas assim

a vaguear por tudo quanto é sítio

fora de mim

sem passar por sítio algum

 

Há um instante em que paro, porém

ouço passos atrás de mim

 

Há uma pedra em que tropeço

um raio de luz que me induz

uma voz que me desperta

 

Sou eu que a mim mesmo me persigo

e que a mim mesmo me diz:

- Não! Tu não me podes fugir, assim!

Impossível será viveres sem sonhar

sem amar

sem acreditar

 

Sem ter fé

 

Henrique António Pedro

in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)


domingo, 12 de junho de 2022

A dor de amor é mais dor e mais dói


A dor de amor é mais dor e mais dói

se é só nossa

e é uma luta interior

 

A dor de amor é maior e mais dói

se não temos ninguém

um amigo, um pai, uma mãe

com quem desabafar

e que confortar

nos possa

 

A dor de amor é mais dor e mais dói

se gritamos ao vento o nosso lamento

e nem o vento nos sabe escutar

 

A dor de amor é mais dor e mais dói

quando só nós

de nós

sentimos pena

 

Mas a dor de amor é menor e menos dói

se a dor de amor

só dói

em poema

  

VS, 10 de Agosto de 2009

Henrique António Pedro


sexta-feira, 10 de junho de 2022

Que mil bombas de amor deflagrem sobre a Terra


Calar a verdade é mentir

Dar para receber é comprar e vender

Mentir é subtrair

A paixão sem amor é uma forma de odiar

Proclamar a paz a pensar na guerra

é uma forma de guerrear


Que os vírus malditos sejam de pronto circunscritos 

Que o ódio e o terror não vençam o amor

Que os donos do mundo reflictam

para que Hiroxima e Nagasaki se não repitam


Urge libertar a Humanidade do vício e da animalidade 

Que mil bombas de amor deflagrem sobre a Terra

para que a Paz triunfe sobre a guerra


Vale de Salgueiro, 1 de Setembro de 2007

Henrique António Pedro


quinta-feira, 9 de junho de 2022

O tempo: epifenómeno do movimento.

 


 

Existe em função do movimento

O tempo

 

Do espaço

E do embaraço da Razão

Tomada de ilusão

 

Sucessão de acontecimentos

E de eventos

Que ocorrem sem cessar

De que só o Espírito

Mais puro que o pensamento

É capaz de se libertar

 

O tempo

Epifenómeno-do movimento

 

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 22 de Abril de 2009

Henrique António Pedro


quarta-feira, 8 de junho de 2022

Se os poetas amassem sinceramente

 


Se os poetas amassem

sinceramente

não fariam do amor

poesia

 

Limitavam-se a amar como toda agente

tão somente

porque amar

não é fantasia

 

Se os poetas sofressem

verdadeiramente

não fariam da dor

poesia

 

Limitavam-se a sofrer como toda a gente

tão somente

porque amar

não é filosofia

 

Os poetas, porém

nem amam somente seus amores

nem apenas sofrem suas dores

amam os amores e sofrem as dores

dos demais

 

E espalham por toda a parte

poemas intemporais

versos de dor

de amor

ou de combate

 

Se os poetas amassem e sofressem sinceramente

amavam e sofriam como sofre e ama toda  agente

mas ao amor

e à dor

faltava poesia

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 27 de maio de 2014

domingo, 5 de junho de 2022

“Dies irae, dies illa”


Lúgubres são os anos

Trágicos os enganos

Adventos de piores tempos

 

Nunca houve tanta miséria

Tamanha opressão sobre a Terra

Tão desumana foi a guerra

Tão cruel a carnificina

Tão generalizada a fome

Tão exposta a doença

Tão desmedida a ambição

Tão descarada a ofensa

Tão global a maldição

 

Nunca tantos aviões voaram nos ares

Tantos rios foram aprisionados

Tamanha a poluição dos mares

Tantas as árvores derrubadas

Tantos animais violentados

Tão fundo a terra foi esventrada

Tão generalizadamente o solo conspurcado

 

Quantos mais aviões vamos pôr a voar?

Quanto mais auto estradas vamos abrir?

Quantas mais bombas vamos fabricar?

Quanto mais petróleo queimar?

Quantos mais infelizes vamos deixar morrer?

Quantos mais animais vamos chacinar?

 

O coração da legião dos famintos

E dos moribundos excluídos do mundo

Já entoa em tétrico silêncio

Acordes de “dies irae”

 

De ira são os dias que se avizinham…

Oh homens e mulheres de boa vontade!

Promovei desde já a mudança!

 

Dies ira … dias de Ira

Dies ila …dias de Esperança


Vale de Salgueiro, 6 de Dezembro de 2007

Henrique António Pedro