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terça-feira, 21 de outubro de 2025

Entre Sol e Lua


Já o Sol declina

já a noite se avizinha

e adensa

 

Já espreita a Lua

imensa

por entre as copas do olival

que emoldura a colina

 

No abismo celestial

brilha, por agora, Vénus

disfarçado de estrela

 

Entre Sol e Lua

sobre a Humanidade

paira o halo pesado

abafado

do relativismo moral

 

E a Lua ergue-se silenciosa

esplendorosa

sorrateira

ruborizada

depois que o Sol da verdade se apagou

na Terra inteira

 

Que pecados terá cometido ela

para vir assim envergonhada

se já não há mal algum

se tudo é relativo

permissivo

amoral

interesseiro?

 

Se já nem pecado é matar

seja onde seja

e porque motivo for

se já não há amor verdadeiro

 

Se toda a mentira é agora útil

piedosa

o insulto gratuito

e a ofensa graciosa

num Mundo em que tudo tem preço

e o Bem passou a ser inútil

um adereço

 

A Lua surge assim corada

envergonhada

só da Terra ver

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 27 de Julho de 2010

Henrique António Pedro

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Do prazer de prender e ficar preso


Sentimento tão volúvel como o vento

nuvem fugidia que só ilude

e adia

o sofrimento

 

É o puro prazer de prender e ficar preso

o falso contentamento

a que chamamos paixão

que mais não é que a pura ilusão

de que não nos libertamos

só porque pensamos

que amamos

 

À força de mais desejar do que amar

na trama de suas teias

ao peso de suas cadeias

mais e mais

acabamos por nos amarrar

 

Este puro prazer de prender e de ficar preso

a que se chama paixão

não é liberdade de verdade

não

 

É sim

antes

prisão

 

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 2 de Março de 2009

Henrique António Pedro

 

domingo, 12 de outubro de 2025

Breve é a vida. Desmedida a Eternidade



Interrogo-me


Porque razão nos deu Deus
tão amplo espaço para morar
onde até o Absoluto podemos imaginar
mas tempo tão curto nos deu para viver?

Porque tão breve é a vida
tão fácil é a vida perder
e tão desmesurada
e decantada é a Eternidade?


Porque intentamos fugir à dúvida

e ao sofrimento

encurtar o espaço e o tempo

iludir a realidade

com a vertigem da velocidade

 e a falácia do pensamento?

 

Se a questão é tão só a verdade

e mais amar

estreitar mais a distância

mais alargar o sentir

aproximar mais os demais

e com eles partilhar

o devir

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 17 de Fevereiro de 2012

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Poeta, demente, reincidente



Com o corpo confinado à Terra

de cabeça

tronco

membros

olhos

ouvidos

e demais sentidos

entregues à Mãe Natureza

 

Deixo que percorram os caminhos que lhes aprouver

animados pela energia telúrica que em leveza os leve

faça sol

chuva

ou neve

 

Enquanto eu

por instantes reduzido a um verso

a um lapso de luz intermitente

ausente

do espaço-tempo

sem sentido

nem vontade

voo no vento

de espírito espraiado por toda a dimensão do Universo

 

Demente

reincidente

só mais tarde caio na realidade

 

Vale de Salgueiro, 2 de Janeiro de 2013

Henrique António Pedro

 


terça-feira, 7 de outubro de 2025

Poeta protótipo de anjo


Algo eu sou

e sou eu

não sou fidalgo

centauro

ou plebeu

simplesmente sou

 

Não sou omisso

não sou nada disso

 

Sou crente

não sou demente

 

Sou homem

não sou mulher

não um animal qualquer

 

Não sou alto nem sou baixo

sou branco não de cor

não sou nada

sou alguém

 

Ando e corro

não voo

choro e rio

caminho de pé

 

Não me evadi

não fugi

de ninguém

 

Cidadão

artista

não sou concertista

não sou artesão

tocador de banjo

contrabaixo

doutor

 

Sou esteta

de mente aberta

ténue de esperança

de frágil fé

 

Sou poeta

protótipo de anjo

tão só

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 5 de Dezembro de 2008

Henrique António Pedro

in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)

 

 

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Voam versos, voam penas


Passo

por onde passo

esvoaço

como pássaro

soltando poemas

preso aos dilemas

do viver

 

Voam versos

voam penas

não paro de esvoaçar

quanto mais me solto

mais acabo de me prender

e enredar

 

A minha poesia voa

voam versos

voam penas

nas asas da fantasia

adejar sem parar                                                                                

e a sofrer

ansiedade

 

Até um dia

poder ser eu

a voar

de verdade

 

 

Vale de Salgueiro, domingo, 7 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro