Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

sábado, 24 de julho de 2021

Etereamente nua


Ela brincava com o fogo

com que me incendiava

 

Eu despia-a com o olhar

 

Não era amor
era lampejo de gostosura

desejo de a ver

nua



Ela à minha frente se desnudava

linda de morrer
entre sorrisos e trejeitos lúbricos
o viço dos seios túrgidos
a tentarem-me

com prazer

Oferecia-se amorosa
insinuante

melíflua

de falas meigas
graciosa

com golpes de cintura
fina
maneiras requintadas
nádegas roliças
coxas torneadas

Quando, por fim, se mostrou despida
oferecida
etérea

nua

eu cobri-a com poesia


Oh que dilema!

 

Que outro epílogo poderia ter o poema?!



Vale de Salgueiro, 24 de Maio de 2008
Henrique António Pedro


segunda-feira, 19 de julho de 2021

Diluo-me no tempo

 


Qual rio a correr

para o mar

sem saber em que oceano

ou lago

se irá transformar

também eu

estou

a caminho

 

A carne e os ossos dissolvem-se-me no húmus

que os criou

prazeres e dores nos fumos

do anoitecer

acto trágico de morrer

 

Eu diluo-me no tempo

transformando-me em pensamento

sem saber o que sou

tão pouco para onde vou

 

Tornarei

feito nuvem

trazido nas asas do vento

para em poesia

de novo

me precipitar?

 

Ficarei

eternamente

por lá

no ar

sem mais dor

apenas a mais a amar?

 

A certeza

a tenho

de morrer

não a de desaparecer

 

Porque se assim fosse

não havia existido

sequer

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 26 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro 

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

Depósito legal:  404160/16

ISBN:  978-989-97577-52



quarta-feira, 14 de julho de 2021

Filho do Sol e de Gaia

 


Alguém

fora do espaço e do tempo

me surpreende a lamber as feridas

do último combate dentro de mim

e me pergunta quem sou

 

Sou filho do Sol e de Gaia

minha bem amada mãe

e tenho a Lua por aia

 

Vivo do seu ar e da sua água

de angústia apresada

e de sonhos de cambraia

 

E componho melodias de pensamento

que tanjo com o coração

e espalho no vento

 

Versos de amor e amizade

poemas de verdade

gritos de razão

 

Olho a Lua

que iluminada

estua

nela me vejo ao espelho

e a minha vaidade se esvai

 

Sou filho do Sol e de Gaia

minha mal amada mãe

criados por Deus Pai

ante quem me ajoelho

em acto de contrição


De todas as criaturas sou, por isso, irmão.

 

Vale de Salgueiro, 14 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro


domingo, 11 de julho de 2021

Continuo à espera de um sinal


Venha ele de onde for

venha de dentro

ou de fora

continuo à espera de um sinal

 

Seja um cicio

um sorriso

um compromisso

um olhar

um beijo

um lampejo de desejo

um abraço apertado

 

Talvez um fenómeno inesperado

um sussurro de vento

uma ideia avivada

um lampejo de luz

que ilumina

cativa

seduz

e faz acreditar

 

Talvez o testemunho de alguém

que também continua à espera

por sinal

de um sinal

 

De um fogo de amor no coração

do fim da dor

da chama da iluminação

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 19 de Outubro de 2010

Henrique Pedro


sábado, 3 de julho de 2021

Agora ando a aprender a pensar


Andei a vida inteira

a aprender a melhor maneira

de bem raciocinar

 

Oh, que grande asneira!

 

Aprendi a soletrar

palavras e letras

a ler

e a escrever

 

Tretas!

 

Aprendi números e algarismos

a contar

somar

subtrair

multiplicar

e dividir

 

Calculismos!

 

Devorei compêndios de gramática

e de matemática

poesias e analogias

tratados de ética e de lógica

físicas e filosóficas

 

Fantasias!

 

Aprendi a falar verdade

e a mentir

a ficar e a fugir

a tocar violão

a matar ou morrer

a sobreviver

 

Socialização!

 

Agora ando a aprender a pensar

e a amar

para me libertar

e salvar

 

Sem números ou letras

nem outras petas e tretas

 

Iluminação!

  

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 3 de Outubro de 2012

Henrique António Pedro


 

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Uma pedra de gelo a arder


Este poema é uma pedra de gelo que arde

e se derrete

com o calor da imaginação

 

É um monte de caruma que será fogueira

se ateada pela chama

de quem o ler

para se aquecer

 

É um emaranhado de palavras

à espera de serem lidas

e sentidas com poesia

mesmo sem que tenham

rima alguma

 

É um novelo de lã que será meia

depois de tecido e fiado

pelas mãos da tecedeira

 

É o presente que será futuro

quando tiver passado que contar

 

É uma madrugada que será dia

quando o Sol raiar

 

Este poema é uma pedra de gelo

que o calor da poesia transforma em água

que levanta fervura

e vira vapor

 

É uma ideia que será iluminação

quando for gelo

a arder

 

Porque o amor só o é na dor

e sem condição

  

Vale de Salgueiro, 20 de julho de 2020

Henrique António Pedro