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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

No auge do Verão







Inesperadamente
Milhares de borboletas brancas
Predominantemente
Também raiadas
Coloridas
Delicadas
Saídas de todos cantos
Dos nadas
Tomaram conta do jardim

Saciadas da sede de amor
E de água
Apenas lhes apetece voar
E são tantas
A esvoaçar à minha roda
Que já nem há mais espaço para onde ir
E eu não tenho outro remédio
Tão despudorado é o assédio
Senão deixar os meus poemas
Voar com elas
Saltitando por entre as rosas
E o jasmim


É tempo de festejar o auge do Verão
Antes que o vento frio de Outono
As faça cair de novo no sono
Hibernal
Regressando aos cantos dos nadas
De onde vieram
Para por lá ficarem pasmadas
Larvares
Monstruosas

Os meus poemas permanecerão acordados
Durante todo o ano
Engravidados de poesia
Sempre a adejar
Em torno de mim

Já sinto a nostalgia


terça-feira, 29 de agosto de 2017

Ainda há lágrimas por chorar, Hiroshima



(Horoshima foi a primeira cidade da História arrasada por uma bomba atómica, lançada em 6 de Agosto de 1945, que terá causado mais 250 mil mortos e feridos.)


Não é ainda a Paz que aos homens anima

já é tempo de parar

ainda há lágrimas por chorar

Hiroshima

 

Ainda há holocaustos por exorcizar

 

Já é tempo de pôr fim à fome e à guerra

à mentira e a miséria

à política falaz

que assola toda a Terra

 

Já é tempo de fazer valer a Verdade

tempo de quem já nada espera

voltar a ter tempo de acreditar

tempo de gritar

Liberdade

 

Tempo de os homens serem homens

de os homens serem

Humanidade

 

Já é tempo

antes que seja demasiado

tarde

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 6 de Agosto de 2008

Henrique António Pedro

 

 




domingo, 6 de agosto de 2017

Seara ondulante




Seara ondulante

liana enleante

o vento do amor a faz ondular

 

Lago de perfume que inalo

oceano de virtude

mar de engano

funesto arcano

nele se afundam meus dedos

em mil ternuras

sem medos

de se afogar

 

Cabelo de mulher…

 

Mil cordas de cítara a gemer

que me delicia dedilhar

melodias de entontecer

céu de espiritualidade

 

Crina de égua a relinchar

ululante de prazer

 

Cabelo de mulher…

 

Que sublime prazer

me dá

afagar

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro

sábado, 5 de agosto de 2017

Cento e cinquenta e seis badaladas






Cento e cinquenta e seis badaladas concertadas
o dia tem
mais a melodia que o nosso coração
bate no ventre de nossa mãe
que ela ouve
mas nós não ouvimos não

Doze badaladas que o coração bate ao meio dia
como cão a latir

Ruidosas
apressadas
pressurosas
a fugir
a saltar fora do peito
a viver sem jeito
fora de si

Doze badaladas que o coração bate à meia-noite
como vento a rugir
já fora de tempo

Langorosas
arrastadas
pesarosas
até parar
e cair
no esquecimento

Mais as badaladas silenciadas
quando dormimos
ou não sentimos
o coração bater por ninguém

Cento e cinquenta e seis badaladas compassadas
o coração bate hora a hora
dia a dia
mundo fora
aqui
ali
além
embora não saibamos quantos dias
a vida
sofrida
tem



sexta-feira, 28 de julho de 2017

Pólen de poesia






Aguardo ansioso
o eclodir da próxima Primavera

À espera que as plantas desabrochem
para também eu espalhar poemas no ar
deixando que os meus versos
se diluam nas gotas do orvalho matinal
e se transformem em grãos de pólen
que levados pela brisa primaveril
nos bicos das aves
e nas patas das abelhas
penetrem nos gineceus das flores
e as engravidem

E assim a Primavera
quando florir o mês de Abril
terá a cor
a luz
o som
o sabor do amor juvenil
e a alegria
da minha própria poesia



terça-feira, 25 de julho de 2017

Lamúrias de amor da sibila Dores Roha



Apenas tu ser amado
não duvido
tens a ver com a felicidade
que vivo a teu lado

Se me assalta a angústia da separação
qual vento desalmado
te digo do fundo do coração
o sofrimento que adviria
nada teria a ver contigo

Porque ninguém ama por obrigação
ou continua a amar
por gratidão

Depende de mim continuar a apertar as tuas mãos
e de ti continuar a beijar
com teus lábios os meus
mas é no amar e desamar
que mais dependemos de Deus

Não deixaria de te amar
nem que te afastasses de mim
ainda que o amor fosse então
uma saudade sem fim

 in Códice da Pátria Luanca (Ver o Verso Edições, 2006)